TCR Series: uma categoria em fase de amadurecimento

Texto de Claudio Stringari, jornalista convidado

IMOLA – É impossível chegar a Imola sem pensar naquele fatídico final de semana de 1994. O forte acidente sofrido pelo brasileiro Rubens Barrichello nos treinos do Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1, na sexta-feira (29 de abril), foi o prenúncio de que o Autódromo Enzo e Dino Ferrari entraria para sempre na história do automobilismo. No dia seguinte, durante a tomada de tempos, o austríaco Roland Ratzenberger se acidentou a mais de 300km/h, vindo a falecer minutos depois.

Mesmo com a tragédia, a corrida foi mantida. No domingo (1º de maio), Ayrton Senna perdeu a vida ao bater sua Williams FW16 na curva Tamburello – a primeira do traçado de 4.909 metros. Até hoje, fãs deixam flores no local em homenagem ao tricampeão mundial de F1, que se tornou um herói nacional numa época em que o Brasil passava por uma forte crise social e econômica.

Nas estreitas e arborizadas ruas da cidade italiana, localizada na Província de Bologna, na Emilia-Romagna, já não há muitos sinais do que ocorreu há 22 anos. Apenas ao se aproximar da pista, que fica a pouco mais de 1.500 metros da estação de trem, é possível relembrar os dias 30 de abril e 1º de maio, que ficaram marcados não apenas na cabeça dos brasileiros, mas na de todos os fãs de automobilismo.

Uma placa em homenagem a Senna foi colocada na entrada da pista, que mantém no museu Checco Costa vários itens do piloto e outras lembranças históricas do circuito, que neste final de semana (21 e 22 de maio) recebeu a quarta etapa da TCR International Series. O campeonato criado no ano passado por Marcelo Lotti, ex-CEO do WTCC, tem um formato interessante e passa por uma fase de amadurecimento. Além do torneio mundial, existem as séries da Europa, Ásia, Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), Alemanha, Itália, Portugal, Rússia, Espanha e Tailândia.

Assim como no World Touring Car Championship (WTCC), que realizou etapas no Brasil de 2006 a 2012, a competição também reúne carros turismo – mas, em vez dos modelos sedan, utiliza os hatch. Em 2016, já entraram na pista Alfa Romeo Giulietta, Honda Civic, Opel Astra, Peugeot 308, SEAT Leon, Subaru WRX STI e Volkswagen Golf. Estão homologados ainda o Citroën C3 Max, o Ford Focus ST, o Kia Cee TCR, o Renault Mégane RS e o Škoda Octavia Cup.

A TCR Series também levou do WTCC algumas equipes e pilotos, como Alain Menu, Pepe Oriola, Gianni Morbidelli e Jordi Gené. O formato dos treinos e das provas são praticamente idênticos, com todas as atividades de pista concentradas no domingo – dois treinos livres e o classificatório acontecendo pela manhã e as duas corridas de 30 minutos à tarde. “A intenção é que seja mais atrativo para o público, devido ao curto espaço de tempo entre uma atividade e outra, e mais barato para as equipes”, destaca Lotti.

No entanto, mesmo com portões abertos, as arquibancadas cobertas do belo circuito italiano não encheram. Já a área do paddock ficou movimentada o dia todo, com espaços para alimentação, interatividade com os pilotos e outras ações de marketing, como simuladores, carros de volta rápida e distribuição de brindes. A intenção de Lotti é exatamente essa: “aproximar o público dos bastidores da categoria. Por isso, na maioria das provas, não cobramos ingressos e comercializamos apenas o passe VIP para o Paddock. Além disso, promovemos o contato entre patrocinadores, para futuros negócios”.

Neste ano, dez equipes estão na disputa pelo título, entre elas a Team Craft-Bamboo e a Engstler. Na etapa italiana, somente 16 carros entraram na pista – enquanto a expectativa dos organizadores era passar dos 24 nesta temporada. Porém, mesmo com poucos competidores, a TCR vem promovendo corridas emocionantes – que são transmitidas ao vivo no YouTube e no site da categoria (tcr-series.com).

AS CORRIDAS

A bordo do Honda Civic #10 da West Coast Racing, Morbidelli, que correu na Fórmula 1 pela Minardi, Ferrari, Footwork e Sauber, cravou a pole position. Mas o italiano abandonou a primeira prova com problemas mecânicos. A vitória caiu no colo do atual campeão, Stefano Comini (Leopard Racing/Volkswagen Golf GTI #1), que chegou a esta etapa em quinto no campeonato.

Na segunda corrida, o companheiro de Morbidelli, o russo Mikhail Grachev, conquistou sua primeira vitória na categoria, provando que os Honda Civic da West Coast estavam bem acertados para o rápido traçado de Imola. Comini cruzou a linha de chegada em terceiro e pulou para a vice-liderança da competição, a 15 pontos do espanhol Pepe Oriola, da Team Craft-Bamboo LUKOIL.

“PILOTAS”

Três mulheres estão na disputa: Alessandra Neri, que tem no currículo um campeonato mundial de kart e diversas temporadas em competições de Grã-Turismo da Europa, a companheira de equipe dela, Carlotta Fedeli, de apenas 24 anos, e Michela Cerruti, a mais experiente das três, com passagens pela Fórmula E, AutoGP e Blancpain Endurance Series. Ela ainda tenta fechar os últimos acordos para colocar novamente na disputa o Alfa Romeo Giulietta TCR da Mulsanne Racing e, por isso, ficou fora da etapa.

Neste fim de semana, a TCR Series fez algo inusitado. Neri, que comenta as provas de Fórmula 1 pelo canal de TV SKY, participou da transmissão das corridas de um jeito diferente. Além de pilotar o SEAT Leon #42 da BD Racing Motorsport, a “bella ragazza” entrou ao vivo, direto do cockpit, enquanto a corrida estava acontecendo. A experiência deu certo no quesito transmissão. Mas, em termos de resultado, ela terminou as provas em 11º e 12º, ficando fora da zona de pontuação.

CALENDÁRIO

Neste ano, a categoria já passou pelo circuito de Sakhir, no Bahrein, do Estoril, em Portugal, e Spa-Francorchamps, na Bélgica. Depois da corrida italiana, que seria realizada em Monza e acabou transferida para Imola na última hora, a TCR segue para Salzburgring (Áustria), Oschersleben (Alemanha), Sochi (Rússia), Buriram (Tailândia), Marina Bay (Singapura) e Sepang (Malásia), fechando o ano no circuito de rua de Macau, em novembro.