Equipes históricas – Prost, parte II

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O Prost AP01 foi um dos projetos mais problemáticos da temporada de 1998, desde o seu início

RIO DE JANEIRO – A primeira temporada da Prost manteve o razoável nível de desempenho da Ligier entre 1993 e 1996. Com a mudança de comando, esperava-se uma equipe mais forte e os planos para 1998 eram ambiciosos, incluindo um acordo com a Peugeot para o fornecimento de motores. A marca estreara com a McLaren em 1994 e, após três anos de colaboração com a Jordan, chegava à equipe do tetracampeão mundial de Fórmula 1 com seus motores de arquitetura V10 a 72º, após uma temporada de bons desempenhos com o time do “Peruca” Eddie.

Os percalços começaram antes mesmo do campeonato começar: no crash-test obrigatório da FIA, em que era testada a resistência do chassis, este foi reprovado por nada menos que três vezes. Apenas na quarta oportunidade é que o AP01 desenhado por Loïc Bigois foi aprovado. O carro seria guiado por Jarno Trulli em sua primeira temporada completa pelo time e por Olivier Panis, uma das heranças da já extinta Ligier.

Para 1998, o regulamento mudara: os carros perderam considerável aderência com o solo, mediante o uso de pneus com sulcos. A Prost também perdeu um dos seus grandes trunfos do ano anterior, já que a Bridgestone, com exceção da Ferrari, Williams, Jordan, Sauber e Tyrrell, passava a fornecer pneus para a maioria das equipes. Não obstante, a caixa de câmbio concebida para o AP01 era o ponto nevrálgico do carro: pesada e pouco confiável, prejudicava o centro de gravidade e o balanço do carro. Os engenheiros também não tinham a menor chance de otimizar o desempenho do carro, já que o câmbio também impedia uma melhor distribuição dos lastros de peso. Enfim… um projeto fadado ao desastre.

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No início do campeonato, até o GP de San Marino, Loïc Bigois introduziu no Prost AP01 as infames asas X-Wings, proibidas pela FIA durante o campeonato

Como paliativo para minimizar a falta de equilíbrio do AP01, Bigois seguiu a receita de Harvey Postlethwaite e instalou as infames X-Wings nas laterais dos dois carros. O primeiro GP do ano, em Melbourne, foi um pesadelo. Panis largou da última fila e Trulli em décimo-quinto. O italiano abandonou por quebra da caixa de câmbio e Panis, muito lento, ainda conseguiu terminar a prova em nono e último entre os que terminaram. No GP do Brasil, os dois carros melhoraram: Panis foi 9º no grid e Trulli ficou em 12º, mas novamente a falta de confiabilidade deu o tom: ambos abandonaram com problemas de câmbio (Panis) e bomba de combustível (Trulli).

No último GP da Argentina disputado até hoje em Buenos Aires, Jarno terminou enfim uma corrida pela primeira vez no ano: chegou em 11º, duas voltas atrasado em relação a Michael Schumacher, vencedor com sua Ferrari. Panis era o 8º colocado, próximo a David Coulthard, mas sofreu uma quebra de motor a sete voltas do fim e desistiu. Em San Marino, outra jornada infeliz dos azuis: mais uma quebra de motor para Panis e problemas de acelerador no bólido de Trulli.

A partir daí, as X-Wings foram banidas e a falta de aderência do Prost AP01 voltou a atormentar a equipe e os pilotos. Não havia nada que os dois pudessem fazer em Barcelona a não ser tentar largar o mais longe possível do fim do pelotão. Panis foi o 12º no grid e lutou o quanto pôde até alcançar o 8º lugar e abandonar com problemas hidráulicos. Trulli herdou a posição do colega, mas foi superado pela Williams de Heinz-Harald Frentzen na última volta da corrida. O GP de Mônaco foi outro a ser esquecido: Trulli até classificou-se bem e começou entre os 10 primeiros. Mas atrasou-se e depois desistiu por novo problema de câmbio. Panis foi ainda pior: largou de 18º e esteve entre os últimos até perder uma roda e também abandonar.

No Canadá, um forte acidente na primeira largada, com direito a uma capotagem cinematográfica de Alex Wurz e sua Benetton, envolveu Jarno Trulli, que teve de usar o carro-reserva na segunda largada. E o italiano envolveu-se em novo acidente, onde seu Prost caiu em cima da Sauber de Jean Alesi, inclusive com direito a incêndio. Panis, voltando a Montreal após o grave acidente do ano anterior, fez a melhor apresentação da equipe no ano e chegou a ocupar o 3º lugar por alguns instantes. Mas seu carro teve uma repentina pane no acelerador, que bloqueou: o piloto nada pôde fazer e desistiu da disputa.

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A primeira metade do campeonato foi um completo desastre para os azuis

Magny-Cours era praticamente a corrida caseira da escuderia francesa, mas a Prost decidira mudar para instalações próximas a Paris e também essa decisão afetava fortemente o lado técnico. Os carros simplesmente não andavam na pista de Nèvers e a corrida foi mais um desastre: Panis ainda sobreviveu – levou duas voltas do vencedor e chegou em 11º. Trulli foi vítima de uma rodada da Sauber de Johnny Herbert, quando já estava três voltas atrasado e não pôde continuar. Passada a metade do campeonato, a equipe não tinha um único ponto e estava no mesmo nível de desempenhos sofríveis da Minardi (que nunca teve muito dinheiro mesmo) e da Tyrrell, que se arrastava em sua última temporada na categoria.

Nem a chuva que caiu durante todo o GP da Inglaterra em Silverstone ajudou: os dois Prost AP01 largaram juntos da oitava fila e os bólidos azuis quase sempre foram vistos entre os últimos ou em último na pista. Trulli saiu da pista quando era décimo-quinto, na 37ª volta. Panis também teve o mesmo destino, três voltas mais tarde. Mas o francês ainda ocupava a nona posição quando rodou no aguaceiro britânico. Na Áustria, com o grid embaralhado por uma classificação complicada na chuva, Panis estava numa posição razoável, mas a embreagem sequer deixou-o largar. Trulli era o 16º no grid e avançou para quinto na mesma pista onde liderara com autoridade um ano antes. Ele fez o que podia para chegar ao fim e foi somente o 10º colocado, uma volta atrasado.

Na veloz pista de Hockenheim, a falta de rendimento do motor Peugeot AP16 V10 foi evidente: os dois se classificaram a mais de três segundos da pole position e pelo menos ganharam quilometragem, levando os dois bólidos ao final. Trulli foi 12º colocado e o desmotivado Panis chegou em 15º. Na Hungria, o italiano abandonou por quebra de motor e o francês chegou em 12º lugar – três voltas atrasado. E o que salvou a equipe foi o caótico GP da Bélgica, disputado num encharcado Spa-Francorchamps – como poucas vezes se viu na história da pista encravada na Floresta das Ardenas.

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O 6º lugar no GP da Bélgica, com Jarno Trulli sobrevivendo na chuva de Spa, foi tudo o que a Prost conseguiu de bom num ano atribulado

O caos da primeira largada foi chamado “o acidente do século”, em que David Coulthard e Eddie Irvine se tocaram antes da curva Eau Rouge, provocando uma reação em cadeia e uma porradaria sem precedentes. Largando de 13º e 15º no grid, é claro que Trulli e Panis foram envolvidos na carambola. Os dois AP01 ficaram irremediavelmente destruídos e Panis, além de se machucar, ficou sem carro-reserva. Trulli largou e se manteve firme no dilúvio digno de Noé e sua arca, numa corrida que acabou com apenas oito carros. Nas últimas seis voltas, o italiano começou a enfrentar sérios problemas de motor. Só que a vantagem que ele tinha para David Coulthard (em quem Michael Schumacher bateu quando o escocês era retardatário) e Shinji Nakano (que levou uma porrada por trás da Benetton de Giancarlo Fisichella) era tão grande, que ele perdeu uma volta inteira nos boxes para resolver o problema e ainda chegou em 6º, salvando assim o primeiro pontinho do ano para a Prost Grand Prix após 13 corridas.

Em Monza, até que os motores Peugeot estavam melhores e ofereceram ao time o melhor grid do ano, ocupando toda a quinta fila. Mas os dois pilotos não puderam traduzir isso em resultados: uma vibração tirou Panis da pista na 15ª volta e Trulli, que perdeu três voltas, acabou apenas em 13º lugar. No GP de Luxemburgo, disputado em Nürburgring, Panis ainda conseguiu a 12ª posição, mas com duas voltas de atraso em relação aos primeiros. E o fecho da temporada, com o GP do Japão, foi melancólico para o time: Panis atrasou-se após um começo razoável e Trulli, que também teve problemas, estavam entre os últimos nas voltas finais. O francês foi apenas décimo-primeiro e o italiano teve o motor quebrado na penúltima volta, ficando com a 12ª posição.

Não poderia ser pior terminar um campeonato em último entre as equipes que pontuaram, com apenas um 6º posto como melhor resultado, certo? O ano de 1999 não seria tão melhor assim. Assunto para o próximo post que, espero, não demore tanto para ser escrito.

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