Renato Russo, 20

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RIO DE JANEIRO – Quem, assim como eu, está na faixa etária dos 40/50 anos, certamente um dia viveu a febre que era o rock brasileiro com bandas que surgiam e despareciam na velocidade da luz. Muitas entraram para a história. Várias vieram de Brasília e uma delas, das que mais despertou amor e ódio foi a Legião Urbana de Renato Russo, cuja morte completou exatas duas décadas na terça-feira, dia 11.

Eu era estagiário do extinto e saudoso Jornal do Brasil, quando soube da notícia infausta pelos vizinhos do esporte, a turma do Caderno B. Renato tinha sido mais um dos muitos do meio artístico que, com uma vida não necessariamente regrada, acabaram sofrendo com o vírus da AIDS. Já tímido por natureza, tornou-se mais fechado e recluso quando descobriu a doença.

A grande válvula de escape para a timidez do Renato sempre foi a música. Ele me pareceu ser um sujeito de muita atitude, pois não era fácil – e ainda não é – ser homossexual, alvo de preconceitos da “tchurma” de Brasília e ainda por cima chegar aos píncaros da glória com um grupo de rock. E ele dizia pra quem quisesse ouvir, especialmente aos mais chegados que era tudo o que ele queria fazer – ser um astro da música brasileira.

Com Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e Renato “Negrete” Rocha, nos fez acreditar que poderíamos tornar verdadeiros muitos dos nossos sonhos. Fomos, sim, a Geração Coca-Cola. Fomos um dia filhos da revolução, como todos os roqueiros que nos impulsionavam a contestar a sociedade.

“Que país é este?”, bradávamos e questionávamos em uníssono.

Mudaram os anos, as estações, as pessoas. E nada mudou.

Nada.

Vai ver que nunca fomos os mesmos.

Renato falava que a maioria das músicas da Legião eram sobre amor e sinceridade. Para muitos, Legião era “religião”. Era assim que Herbert Vianna se referia ao grupo daquele garoto para quem tocou “Hey, Negrita”, dos Stones, certa vez nos anos 1970/1980. O público se identificava com muitas das coisas que ouviam nos discos e nos shows, verdadeiras celebrações em que as multidões apaixonadamente cantavam, frase a frase, cada uma das canções compostas pelo grupo. Essa catarse era um componente que acompanhou a história da banda, até o fim.

Em homenagem aos 20 anos sem Renato Russo, o blog traz um clip de uma música que eu adoro. “Ainda é Cedo”, numa participação especial da Legião no último programa Chico & Caetano, apresentado pela TV Globo e exibido em 26 de dezembro de 1986, portanto na época do Natal.

Renato e a Legião foram bem recebidos por uma plateia pouco afeita ao rock – ainda mais ao brasileiro – já que raramente o gênero tinha convidados dos artistas que comandavam a atração e, tenho certeza absoluta, a participação dos garotos de Brasília foi ideia de Caetano Veloso, mais próximo do pop do que Chico Buarque de Hollanda, que inclusive é flagrado durante a apresentação dos rapazes com o olhar meio absorto, perdido no espaço.

Caetano não. Juntou-se à Paula Lavigne na plateia e ficou, como todos no Teatro Fênix, impressionado como Renato Russo se transmutava no palco. Quando abria o vozeirão, ninguém segurava.

E quando dançava à Morrissey, evocando o bardo do grupo britânico The Smiths, melhor sair de perto.

Inclusive, Renato – que gostava da Plebe Rude e a considerava a melhor banda da turma de Brasília – vestiu uma camiseta do grupo dos colegas Philippe Seabra, Gutje, Jander “Ameba” Bilaphra e André X no Chico & Caetano.

https://www.youtube.com/watch?v=F5NkrWBkt-Q

Comentários

  • “E eu dizia ‘ainda é cedo, cedo, cedo, cedooooo'”….

    Legião foi quem me apresentou o Rock, infelizmente eu ainda era muito pequeno na época, e quando descobri a Legião ele já estava indo… tão jovem… tão cedo…

    Ainda tenho minha coleção de musicas deles… minha preferida e está… “ainda é cedo”…. engraçado como parece que a Legião fez musicas pensando em cada momento que viveríamos… creio que os momentos mais impactantes de minha vida são lembradas sob uma música deles…

    Agora, Rodrigo, a cara do Chico ai é porque ele está pensando… porque eu não tenho um dom como esses caras de fazer boa música…. hahahahaha pelo menos o Caetano aproveitou né?! ;P