Mais um 7 x 1, agora no automobilismo

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RIO DE JANEIRO – A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) tem novo presidente a partir de março deste ano: é Waldner “Dadai” Bernardo, pernambucano de 41 anos que foi eleito com 10 votos a favor e sete contra, destinados à Chapa Bandeira Verde, liderada pelo paranaense Milton Sperafico.

Uma pena.

O automobilismo brasileiro não merecia a manutenção do continuismo e do retrocesso. “Dadai” é afilhado político de Cleyton Pinteiro, que afundou o esporte numa crise sem precedentes e também envolveu a CBA num prontuário de escândalos. Não obstante, o modelo antiquado de votação foi decisivo para que a chapa da situação mantivesse o poder. E poderia ter sido bem diferente, não fosse algumas situações. Especialmente que Federações sem nenhuma ou com pouca representatividade no esporte tenham o mesmo peso, por exemplo, de São Paulo, Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.

A Federação da Bahia, na figura da presidente Selma Morais, tem uma dívida financeira com a entidade. A mesma Selma fazia parte da chapa de Waldner Bernardo como uma das vice-presidentes. Estou pouco me lixando que ela seja a primeira mulher num cargo de diretoria na futura administração. O que me surpreende é a falta de ousadia em peitar a situação, reconhecer a dívida e votar na chapa de oposição.

O representante do Espírito Santo, sr. Robson Duarte, também não votou, por alegadas “pendências financeiras”. A Federação do Mato Grosso do Sul não votou e foi declarada ausente, porque o presidente teve uma crise de saúde no aeroporto de Campo Grande quando vinha para o Rio de Janeiro.

Pior fez Santa Catarina, mas não surpreendentemente: remando absolutamente contra a maré dos outros estados do Sul e Sudeste (exceto Minas Gerais, nenhuma surpresa também) que votaram em bloco na chapa de Milton Sperafico – que era inclusive apoiada pelos clubes que compõem a FAUESC, que impetraram uma liminar que acabou não saindo. E cabe lembrar: o sr. Almir Petris, aliado político de Jairo de Albuquerque, também foi indicado para compor a diretoria da administração de Waldner Bernardo. É claro que o voto dele foi na situação.

Tem mais: a Federação de Pernambuco é presidida por… Waldner Bernardo. É claro que ele votou nele mesmo.

Sensacional. Só que não…

Não fosse a torpeza de alguns e a falta de coragem de outros, as coisas poderiam ser bem diferentes.

Mas infelizmente, não são.

A política nesse país fede a podre. No esporte, mais ainda. Vocês conhecem alguns exemplos: Carlos Arthur Nuzman, mesmo doente, se elegeu para o SEXTO mandato no Comitê Olímpico Brasileiro – afora o tempo em que ficou à frente da CBV, a Confederação Brasileira de Vôlei. Ricardo Teixeira ficou 24 anos à frente da CBF. Um escárnio. E agora a “República de Pernambuco” ganha mais quatro anos à frente da CBA.

Nenhum esporte vai para a frente sem que a própria comunidade automobilística tenha voz. Até que neste pleito, a ABPA (Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo) ganhou direito a voto. Trinta e cinco representantes da associação votaram em paralelo – 19 indicaram Sperafico e 16 optaram por Waldner Bernardo – inclusive o presidente da ABPA, Felipe Giaffone. Mas foi respeitado o direito da maioria e o voto da ABPA foi para Milton Sperafico.

Não é suficiente: será que os votos realmente indicam o pensamento dos pilotos?

E os preparadores? Chefes de equipe? Quando vão ser consultados sobre o que é melhor ou pior para o esporte no país?

Bem… encerrado o pleito e a campanha, uma das mais duras dos últimos anos – em todos os sentidos, chegamos à algumas conclusões.

O automobilismo brasileiro, tal como o conhecemos hoje, dificilmente vai mudar. O modelo de gestão não sofrerá quaisquer alterações, a menos que “Dadai” tenha capacidade de me provar que eu estou errado e que tudo vai mudar. Caso contrário, ficarei muito feliz de queimar os dedos por ver um trabalho sério e bem-feito – o que acredito piamente que Milton Sperafico faria, sem sombra de dúvidas.

Lamento muito, aliás, que o Milton esteja deixando a luta. É desanimador quando você vê um abnegado, um apaixonado, jogando a toalha. Penso também em fazer o mesmo, mas não vou desistir. Se preciso, vou usar o blog como sempre usei, para criticar a CBA quando ela der margem a críticas e, caso haja ações realmente positivas, tecer elogios sem puxar saco – aliás, tem muito coleguinha da imprensa enojando com tanta puxação de saco à futura diretoria.

Troca de favores?

Ah… antes que alguém fale de mim alguma coisa, eu apoiei sim a Chapa Bandeira Verde. Fiz e faria tudo de novo porque acreditava no novo e que era a hora de mudar alguma coisa no automobilismo brasileiro, pra melhor. Mas eu não tenho a menor influência na cabeça de presidentes e federações que, em troca de verbas e acordos espúrios, “fecham” com determinados candidatos. Lamentavelmente, neste país cada vez mais atrasado, mais sectário, mais desacreditado, mais podre, as coisas são assim.

É mais um 7 x 1 esfregado na nossa cara.

Caminhamos a passos largos para não termos ninguém na Fórmula 1 e tampouco no automobilismo internacional, diante da falta de investimento em categorias de base, num automobilismo interno realmente forte e principalmente no automobilismo regional. A nova administração da CBA tem que enxergar o óbvio: sem tudo isso, não teremos como ser o que um dia já fomos.

Se não houver atitude ou tampouco união, não esperem nada diferente do separatismo. Quem não está satisfeito com o que temos, precisa tomar uma atitude drástica e mostrar, de uma vez por todas, que as Ligas Independentes são a solução para tirar o automobilismo do buraco.

Comentários

  • É, Mattar… Já podemos tocar a marcha fúnebre pro automobilismo brasileiro…
    E como você bem escreve: parabéns pros envolvidos!!!
    O automobilismo brasileiro já está esfarelado, pois não tem categorias pós-Kart pra molecada se desenvolver e quem tem um tiquinho de talento e muito dinheiro tem que ir pro exterior pra tentar provar seu valor. A entressafra de pilotos brasileiros que vemos nas categorias principais do automobilismo mundial é a constatação que está tudo errado no esporte a motor tupiniquim… Mesmo com crise econômica que se tem no momento, o automobilismo brasileiro já estava capengando muito tempo antes… Infelizmente é falta de gente competente pra tocar e gerir!!! E concordo contigo que pra mudar essa zica danada é partir para organizar Ligas independentes, algo nos moldes da NASCAR, claro sem querer ser uma, é tê-la como um modelo de gestão de esporte a motor pra se pensar, organizar e botar o nosso na pista!!! E urgente!!!!!

  • os bastidores de hoje cedo fizeram parecer uma eleição em cuba,
    pela situação pode tudo, pela oposição nao pode nada.
    o continuismo nunca deu certo. basta ver. lula/lula/dilma,
    parece que em função das matérias feitas, acendeu a luz amarela em brasilia.
    mas o mais importante foi a escolha feita pelos pilotos.(democratica)
    vamos esperar por atitudes fortes, e a primeira delas é eliminar o sr nestor valduga.
    até hoje a cba não divulgou o resultado da investigação do escandado dos comissarios clovis, e igor, indenpendente da conclusão.

    • “O continuismo nunca deu certo. basta ver. Lula/Lula/Dilma,”
      Engraçado que essa lição os paulistas não aprendem, já que elegeram governadores do PSDB pela SEXTA vez consecutiva.

  • Buenas tchê!
    Realmente nada vai mudar, então tudo continuará uma grande bosta, com o perdão da palavra!
    Foi-se o boi com a corda, como diz o amigo Luciano co comentário acima, podemos já começar a tocar a marcha fúnebre para o automobilismo brasileiro.
    Lamentável.

    Abraços!

  • Infelizmente a situação atual não mudará. Basta ver que nossos pilotos (principalmente do passado – Piquet, Fittipaldis, Balder, Gomeses, Hoffman, etc) não querem saber de política. Vide as sabotagens que fizeram com o Piquet.

  • Uma pena, mas acredito que se todos aqueles envolvidos no automobilismo ao invés de se desanimarem, fizerem uma vigilância séria e firme nessa nova gestão, quem sabe as coisas não comecem ir para o lugar certo.
    Acredito também, que o Sr. Dadai, sabendo da opinião da maioria de pessoas ligadas ao esporte vai tomar medidas mais acertadas. Pois sinceramente mais uma gestão desastrosa, não sei se o esporte agüenta !

  • Não tem nem o que falar mais sobre os rumos do automobilismo no Brasil…e concordo plenamente com você, Mattar…não tem outra solução se não for através de uma liga independente, liderada por gente séria e apaixonada, e ainda há. O esporte em si, se for bem divulgado e os eventos bem organizados (não o amontoado de mini-corridas que a Vicar faz hoje…), ainda são atraentes ao público e até mesmo à televisão.
    Quem sabe um dia apareça um promotor independente capaz de fazer…

  • Caro Rodrigo; sou pernambucano e apesar do nosso glorioso passado politico, visualizo com muita tristeza essa situação, que é de conhecimento público, de uma oligarquia dominante e que envolve pessoas conterrâneas. Não é de hj q vemos a utilização de entidades como a CBA por pessoas que realmente não amam o automobilismo e as utilizam para resolver seus casos privados. Essa mistura público/´privado nunca dá certo. Nada vai melhorar enquanto não entrarem pessoas que realmente amam o esporte e o automotor… sou operário do direito e vejo que é a classe que mais se aproveita dos conhecimentos legais para se apropriar da entidade….modelo Max Mosley de gestão….triste e deprimente constatação.
    Triste constatação num pais em que um tricampeão tentou ajudar e não conseguiu…Piquet…desde essa época que estou descrente com a CBA….abçs. Hélio

  • Talvez nada que uma liga independente liderada por Pilotos não resolva, uma liga onde só Pilotos votem, só Pilotos possam concorrer a cargos diretivos, seria possível algo assim?

  • Nenhuma surpresa no resultado, com o atual sistema de votação a possibilidade de eleger Sperafico não passava de um sonho.
    Para ter uma ideia da representatividade do atual colégio eleitoral basta fazer um levantamento da quantidade de pilotos filiados a cada federação votante, ou então uma contagem de competições oficiais organizadas pelas mesmas.
    Aqui em SP foi criada uma liga independente, mas como não foi reconhecida pela CBA, (Que surpresa!) , não consegue organizar competições em Interlagos, nascida no fim de 2015 está com as mãos atadas.
    Que eu me lembre, a LIA, criada pelo Nelson Piquet no final dos anos 90 para confrontar a catastrófica administração da CBA do Reginaldo Bufaiçal, não foi adiante por não conseguir reconhecimento por uma entidade da FIA.

  • Caro Rodrigo, por que não criar uma federação paralela ou uma liga independente e pedir o descredenciamento da CBA junto a FIA se ela nem participa do conselho mundial?

  • Assustador mesmo nessa eleição – mais do que o partido tomado pelas federações (um tanto previsível) – é ver a lista de pilotos da ABPA que votou a favor da situação. Khodair, Bia, Daniel Serra, Burti, Ricardo Maurício, Barrichello… além do próprio Giaffone que você citou, Rodrigo.

    Aparentemente, muitos dos “principais” pilotos do país, estão gostando de como as coisas andam. Lamentável.