Direto do túnel do tempo (357)

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RIO DE JANEIRO – Nesta sexta-feira, 3 de fevereiro, um dos pilotos do país que esteve na Fórmula 1 comemora mais um aniversário: é Chico Serra, que chega hoje aos 60 anos de idade.

Nascido em 1957 em São Paulo, Chico brilhou no kart brasileiro e na Fórmula VW 1300, que fez seu primeiro campeonato em 1976. E logo desbravou o automobilismo britânico. Foi para a Fórmula Ford e ganhou de cara o campeonato de 1977 com um Van Diemen assistido por Ralph Firman. Fechou com Ron Dennis e fez parte da equipe Project Four na Fórmula 3 inglesa. Em 1978, teve muitas dores de cabeça quando o seu maior rival era outro brasileiro – Nelson Piquet. Sofreu um acidente que o deixou em coma e depois o fez perder a temporada. Recuperou-se e no ano seguinte, conquistou o título da categoria.

Seguiu com Dennis na Fórmula 2 europeia, mas os March 802-BMW não eram competitivos e o brasileiro foi, assim como os demais pilotos, inapelavelmente batido pela dupla da Toleman formada por Brian Henton e Derek Warwick. Nessa época, o nome do piloto, então com 23 anos, já era ventilado na Fórmula 1. Emerson e Wilsinho Fittipaldi não o contrataram para estrear em 1980 por falta de experiência e aconselharam Chico a fazer parte do Aurora AFX Championship, um campeonato de F-1 na Inglaterra, só que com modelos com um ou mais anos de uso. Sem papas na língua, ele declinou.

“Era um campeonato de merda e eu recusei”.

Chico preferiu esperar pela titularidade e estreou em 1981 no GP dos EUA-Oeste em Long Beach, na Califórnia. Mas a Fittipaldi já não vivia seus melhores momentos após a perda do patrocínio da Copersucar e o fracasso do modelo F6 “Concorde” lançado em 1979 afetou muito o prestígio e o moral da equipe brasileira, que ainda ganharia uma sobrevida após adquirir por US$ 300 mil da época o espólio da Wolf.

A equipe ainda tinha material humano de muita qualidade, feito o chefe de equipe Peter Warr e o diretor técnico Harvey Postlethwaite. Mas com a crise, os dois caíram fora: Warr retornou para a Lotus e Dr. Harvey recebeu uma proposta sedutora da Ferrari. A Fittipaldi viveu um ano infernal em 1981 e Chico Serra foi muito prejudicado pela falta de competitividade do F8C em seu ano de estreia. Fez apenas cinco corridas – a última foi o GP da Espanha, sétimo do campeonato daquela temporada. Daí em diante, foram oito provas sem conseguir se classificar.

Em 1982, Chico ficou como o único piloto da Fittipaldi num ano de poucos recursos financeiros. Na parte técnica, fazia-se o que podia ser feito. Das 16 etapas, Chico correu em nove e foi capaz de boas atuações, como no início do GP da Holanda – na 100ª prova da história da equipe – e nas duas primeiras voltas do GP da Inglaterra, em que chegou a 13º antes de sofrer um enorme acidente – sem contar o ponto conquistado em Zolder, no GP da Bélgica marcado pela morte de Gilles Villeneuve.

Nem a estreia do modelo F9 foi capaz de melhorar o quadro. O carro era mais avançado que o F8, mas faltava grana e a equipe estava afundada em dívidas que chegariam a US$ 7,2 milhões (em dólares de 1982, era uma puta grana). Chico fez três corridas com esse novo bólido. Foi 7º colocado no GP da Áustria e a última corrida da equipe na categoria foi o GP da Itália, em que o brasileiro largou em último e terminou na 11ª posição.

Tempos depois, Chico admitiu que foi mal recomendado sobre a capacidade de outras equipes, após ser sondado por algumas delas antes de fechar com a Fittipaldi e passar por um dos maiores calvários de sua carreira. A Arrows era uma dessas equipes – mas quando o brasileiro assinou com Jackie Oliver em 1983, não tinha patrocínio. Chico fez algumas boas provas – foi 9º no GP do Brasil após uma longa batalha com a Ferrari de René Arnoux e foi 7º no GP de Mônaco. Acabou de fora da Fórmula 1 porque chegou Thierry Boutsen, que tinha mais dinheiro que Serra.

Dali para a frente, Chico não se deixou abater pela passagem de apenas 18 GPs disputados em 33 tentativas na categoria máxima. Fez uma longa e bonita carreira na Stock Car, ganhando três títulos – seguidos – pela equipe de Washington Bezerra. Andou bem também no Brasileiro de Marcas e na Fórmula Uno. Hoje, segue orgulhoso a trajetória do filho Daniel, que também está na Stock e fez diversas provas de Endurance nos EUA ano passado.

Na foto que ilustra este post, Chico acelera em Monza na última corrida da história da Fittipaldi.

Há 35 anos, direto do túnel do tempo.

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