6h de Silverstone: Toyota vence e convence

buemi39208silverstone
Favorita, a Toyota abriu a temporada 2017 do WEC com a vitória nas 6h de Silverstone, com Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima/Anthony Davidson

RIO DE JANEIRO – Favorita desde o início dos treinos à vitória na abertura do FIA WEC, o Campeonato Mundial de Endurance, a Toyota não decepcionou: venceu as 6h de Silverstone com a trinca Sébastien Buemi/Anthony Davidson/Kazuki Nakajima, numa corrida cheia de alternativas e ótimas disputas – como aliás toda boa categoria tem que ter.

Mas quase que os japoneses tiveram os planos fracassados. Uma senhora porrada do argentino José María “Pechito” López em sua estreia como piloto oficial da montadora a cerca de 2h30min para o fim, quando uma pancada de chuva tornou a pista um sabão, quase pôs tudo a perder. O carro ficou muito danificado, especialmente na seção dianteira. Até o aerofólio traseiro caiu quando o piloto se arrastava aos boxes. A batida foi tão forte – calcula-se que o Toyota estava a cerca de 250 km/h quando se despistou – que López precisou ser hospitalizado para exames. Felizmente nada de grave foi constatado e ele já foi liberado.

Ainda assim, a Toyota foi profissional: trabalhou como nunca para devolver o carro #7 à pista para salvar pontos no campeonato. Conseguiram, mesmo terminando a disputa em 23º lugar. E esse acidente, que trouxe um dos dois Safety Car da disputa, foi o responsável por dar à Porsche uma esperança, ainda que remota, de vencer a disputa após uma performance apenas ok nos treinos classificatórios.

Com estratégias diferentes, Toyota e Porsche se defrontaram no final, quando o carro #2 guiado por Brendon Hartley assumiu a liderança após o último pit stop do carro #8, quando Sébastien Buemi reassumiu o cockpit para o turno final. O piloto suíço partiu pra cima do neozelandês e Hartley não teve como segurá-lo por muito tempo: faltando 12 minutos para o final da disputa, a Toyota superou novamente os alemães e pôde assim comemorar o primeiro triunfo de 2017.

Sem ter tido nenhuma possibilidade de alcançar a dianteira em qualquer momento que fosse na disputa, o carro #1 de Andre Lotterer/Neel Jani/Nick Tandy pelo menos salvou o pódio depois da panca do segundo Toyota. Acabaram em 3º lugar com as mesmas 197 voltas percorridas pelos dois primeiros, mas a mais de 45 segundos de diferença. Já o ENSO CLM P1/01 Nismo da ByKolles, única equipe não-oficial da LMP1, fez o papel de costume: perdeu várias voltas nos boxes – logo de cara, ficaram cinco minutos parados – e o ritmo do carro era pior que os mais competitivos LMP2. James Rossiter acabou batendo num dos Aston Martin LMGTE-PRO e logo depois a equipe se retirava da competição.

fia-wec-silverstone-2017-finish-order-04
Ótimo começo de parceria entre a Jota Sport e a Jackie Chan DC Racing: triunfo para Oliver Jarvis/Thomas Laurent/Ho-Pin Tung na classe LMP2

A disputa na LMP2 foi monopolizada em grande parte pela Signatech-Alpine Matmut: a equipe atual campeã mundial da categoria deu a impressão de que começaria o ano de 2017 como terminou o último. Mas ficou só na impressão, pois os franceses erraram na estratégia, o consumo de pneus foi mais alto que o imaginado e o ritmo de prova deixou a desejar no final. A Jackie Chan DC Racing, com uma performance mais homogênea da trinca formada por Oliver Jarvis/Thomas Laurent/Ho-Pin Tung se estabeleceu no final como a melhor equipe e por isso levou a vitória, com 184 voltas completadas e um excelente 4º lugar na classificação geral.

309825_696278_silverstone_150417
Pódio para Bruno Senna/Julien Canal/Nicolas Prost, que terminaram as 6h de Silverstone em segundo na divisão LMP2 (Foto: MF2/Divulgação)

Quem também teve um belo resultado foi a Vaillante Rebellion: na estreia do time helvético na LMP2, o carro #31 de Bruno Senna/Julien Canal/Nicolas Prost também chegou a liderar em eventuais momentos e, com uma sólida performance, acabou na 2ª posição na categoria e em quinto na geral. “Estou muito contente com o que aconteceu hoje. Vínhamos encontrando problemas com o acerto do carro desde a sexta-feira e achávamos que seria difícil até brigar para chegar entre os três primeiros depois dos treinos classificatórios. Mas fizemos uma boa prova e poderíamos até sonhar com a vitória se não tivéssemos enfrentado problemas com os pneus intermediários quando a chuva chegou”, explicou Bruno.

Em sua estreia no WEC, a TDS Racing deixou ótima impressão, principalmente pelo desempenho competitivo do francês Matthieu Vaxivière. Ele e seus colegas Emmanuel Collard e François Perrodo saíram de Silverstone com o terceiro lugar no pódio, ajudados não só pela queda de rendimento do carro da Signatech-Alpine Matmut como também pelos problemas do #26 da G-Drive Racing, que se viu às voltas com a porta do lado direito abrindo sem aviso prévio.

Já o outro carro da Vaillante Rebellion, do brasileiro Nelsinho Piquet e dos companheiros David Heinemeier-Hänsson e Mathias Beche teve uma tarde mais, digamos assim, atribulada. Apesar de terminar a disputa com uma volta mais rápida em ritmo de corrida em relação ao outro carro da escuderia, dois problemas atrapalharam a performance geral.

No primeiro, Heinemeier-Hänsson forçou uma ultrapassagem sobre Jonathan Hirschi, que vinha a bordo de um dos protótipos da Manor. Acabou atingindo o adversário e os dois rodaram. Como efeito, DHH precisou ir aos boxes para o conserto, perdendo três voltas e no retorno à pista, o dinamarquês acabou “premiado” com um time penalty pelo contato com Hirschi.

AUTO - WEC 6 HOURS OF SILVERSTONE 2017
Problemas afastaram Nelsinho Piquet e parceiros da luta pelo pódio, mas o brasileiro ficou satisfeito com a performance em Silverstone (Foto: Piquet Sports/Divulgação)

Depois, Mathias Beche assumiu o cockpit, virou tempos bem rápidos e seguia seu rumo quando foi atingido pela Ferrari LMGTE-PRO do britânico Sam Bird, que acabaria punido. Foram perdidos 12 minutos e qualquer possibilidade de reação. Nelsinho ainda conseguiu, em sua volta à pista, levar o carro do 20º ao 12º lugar geral, mas em último entre os nove LMP2, com 172 voltas completadas – 25 a menos que os vencedores.

Piquet fez um breve balanço do fim de semana. “Obviamente não foram legais as partes em que batemos. Uma foi culpa nossa. A outra, não. Mas foi um fim de semana bom pra aprender bastante e reunir informações para o resto do ano. O carro aguentou até o fim e o outro carro do time fez P2, então em termos de resistência já evoluímos no comparativo com o que o time fez nos Estados Unidos. Nosso ritmo de corrida me surpreendeu positivamente e agora vamos trabalhar mais ainda para voltar mais fortes em Spa”, concluiu.

33686825740_3cd3696df3_k
A Ford foi dominante na LMGTE-PRO e o #67 venceu na estreia de Pipo Derani como piloto da Chip Ganassi Racing, junto a Andy Priaulx e Harry Tincknell

Na LMGTE-PRO, a Ford Chip Ganassi, cuja base do FIA WEC é na Inglaterra, deitou e rolou: o carro #67 da equipe que representa a marca do oval azul de Detroit teve uma performance excelente na pista de Silverstone e foi o grande vencedor em sua categoria. E em sua estreia a bordo do novo carro, Pipo Derani deu sua parcela de contribuição: guiou mais de 1h30, num duplo stint. E entregou a máquina em excelentes condições para Harry Tincknell levar a quadriculada. Andy Priaulx completou a formação vitoriosa na Inglaterra.

“Para mim é ótimo já ter essa primeira corrida como experiência, já que não sabia o que esperar em muitos aspectos. Sei que vou continuar evoluindo e com mais tempo no carro podemos chegar ainda melhor em Spa no mês que vem. Gostaria de dizer muito obrigado à equipe Ford Chip Ganassi Racing. Que time! Foi uma honra vencer minha primeira prova por esta equipe tão profissional”, completou.

A Ferrari não foi tão bem nos treinos, assim como a Porsche. Mas em ritmo de corrida, alemães e italianos foram bem e conquistaram pódios importantes: James Calado/Alessandro Pier Guidi concluíram na 2ª posição da categoria e Richard Lietz/Fred Makowiecki salvaram a honra da casa de Weissach após o susto com o carro #92 de Michael Christensen/Kévin Estre, cujo motor pegou fogo com cerca de 3h15min de disputa.

Correndo em casa, a Aston Martin até chegou a ocupar o primeiro lugar na categoria em momentos eventuais aqui e acolá. Mas faltou ritmo de prova: o carro #95 de Nicki Thiim/Marco Sørensen, atuais campeões, completou a disputa em 6º lugar na categoria. O #97 de Darren Turner, Jonathan Adam e do brasileiro Daniel Serra foi surpreendido ao entrar nos boxes para um pit stop de rotina: o carro foi abalroado pelo ByKolles de James Rossiter e acabou perdendo duas voltas em relação aos adversários. Acabaram em sétimo na classe e em 19º na geral, com 168 voltas percorridas.

fia-wec-silverstone-2017-finish-order-20
Presentão: um enrosco entre a Aston Martin e a Spirit of Race deu à estreante Clearwater Racing e aos pilotos Mok Weng Sun, Keita Sawa e Matt Griffin a vitória na classe LMGTE-AM

E na divisão LMGTE-AM, um final inesperado: após liderar por 128 voltas, o Aston Martin de Pedro Lamy/Mathias Lauda/Paul Dalla Lana acabou por se enroscar com a Ferrari de Thomas Flöhr/Francesco Castellaci/Miguel Molina, que tentava tomar a dianteira na última volta da disputa. O acidente foi a poucos quilômetros da bandeirada e a Ferrari da Clearwater Racing, que conseguiu liderar por 10 voltas numa das mais lindas manobras de ultrapassagem de toda a corrida em que Matt Griffin passou Lamy com autoridade, levou a vitória de forma surpreendente em sua estreia no FIA WEC.

A Spirit of Race não só perdeu a chance de vitória como também o pódio: o carro #54 sequer recebeu a quadriculada e o 3º lugar ficou com o Porsche de Marvin Dienst/Christian Ried/Matteo Cairoli, da Dempsey Racing-Proton.

A próxima etapa do Mundial é no dia 6 de maio – as 6h de Spa-Francorchamps, na Bélgica. Uma corrida que promete, pois será um teste importante para quem tem aspirações de vencer a prova que é a cereja do bolo do FIA WEC: as 24h de Le Mans.

Comentários

  • Eu acompanhei a prova pelo site (live timming) e twitter, e apesar do grid reduzido, sobretudo na LMP1, ficou claro que teremos grandes disputas nesta temporada. Aliás, apesar da performance sólida da Toyota, vejo um equilíbrio como nunca antes entre os LMP1 para o decorrer da temporada.
    Na LMP2 gostaria de ver uma variedade de chassis, mas de qualquer forma a quantidade de carros vai propiciar um com campeonato na classe (diferentemente do que vimos em 2014).
    Na LMGTE Pro o bicho vai pegar de verdade. Vejo a Ford querendo vencer o campeonato, e não somente Le Mans como o ano passado, Porsche com muito potencial e Ferrari rápida em corrida. Aston acredito que venha para a briga para defender o título do ano passado. Então, como diria o mestre Edgard, mais que nas outras classes, “vai voar pena”.
    Na Am senti a falta do Corvette da Larbre, mas de qualquer forma vieram outros para encrementar a disputa. Que venha Spa.

  • Só mais uma coisa: Pipo Derani foi rápido e consistente em sua estreia…o #67 da Ganassi tem apenas dois titulares, contra tres do #66 (Marino Franchitti vazou, se não estou enganado…).
    O moleque (no bom sentido da palavra) tem que aproveitar essa oportunidade em um carro realmente capaz de vencer Le Mans e o WEC na classe, não acham??
    Muito mais negócio que disputar as provas longas do IMSA pela Patron com um Nissan DPI não tão competitivo assim…

    • Realmente Pipo Derani impressiona, pois por onda anda no endurance e não importa o carro e a classe, ele sempre chega e já ganha de cara e anda sempre muito bem.
      Ele e o Di Grassi são os melhores no endurance e formariam uma ótima dupla Brasileira.
      Gostei também de ver o Bruno Senna, chegando em 2° ele tem mostrado bons resultados também no endurance, menos constante que os 2 que citei, mas faz ótimas corridas na LMP 2.