A felicidade é vermelha?
RIO DE JANEIRO – Parece que sim: após um longo e tenebroso inverno de quase nove anos e mais de 100 GPs de Fórmula 1, finalmente a Ferrari alcançou uma façanha que os carros vermelhos não executavam desde o GP da França de 2008 – monopolizar a primeira fila de um grid de largada em qualquer corrida da categoria máxima do automobilismo.
E não só isso: a pole de Sebastian Vettel em dobradinha com Kimi Räikkönen é também a primeira da marca italiana desde o GP de Cingapura em 2015. Mais de um ano também de jejum caindo por terra, para quebrar de forma incontestável a sequência de 30 corridas em que pelo menos um dos carros da Mercedes-Benz largou na linha de frente.
Os alemães vão ter que remar para superar o recorde histórico de 35 largadas na primeira fila, que ainda pertence à Williams.
A 47ª pole da carreira do alemão, conquistada neste sábado em Sochi, também pôs fim a quase um ano de domínio dos Flechas Prateadas na posição de honra. Foram 18 poles seguidas da marca da estrela de três pontas.
A última antes desta? Ricciardo, de Red Bull, em Mônaco.
Parece que, dessa vez, não vai dar para a Mercedes. A Ferrari vem forte, provou que está competitiva com os dois carros e até Räikkönen, de poucas – mas sempre sinceras – palavras, hoje até elogiou e disse que finalmente tem algo à altura do seu comportamento ao dirigir. Se não tivesse cometido dois erros capitais em sua última volta de classificação, talvez fosse o nórdico a ficar com a pole e não Vettel. Mas vai saber, né?
Outra coisa a se notar: Lewis Hamilton parece pouco à vontade em Sochi. Não sei se o acidente com o garoto Billy Monger numa prova de Fórmula 4, e que lhe custou a amputação parcial de suas pernas na última semana, mexeu com o tricampeão mundial. Mas pode ser que isso não tenha correlação alguma com o desempenho pouco inspirado de Lewis durante os treinos na Rússia.
E trata-se da segunda corrida de um total de quatro em que o primeiro piloto do time é superado por Valtteri Bottas em ritmo de classificação.
Nas demais posições, Felipe Massa tem motivos para ficar contente, pois afinal conseguiu uma classificação bem razoável e colocou sua Williams bem no meio dos dois carros da Red Bull. A Renault tem em Hülkenberg sua única esperança neste início de temporada: o alemão faz milagres em qualificação, mas em ritmo de corrida o carro ainda fica devendo. E Jolyon Palmer, coitado, levou mais uma biaba do companheiro de equipe. Ainda por cima, bateu no fim do Q1 e foi fazer companhia a Stoffel Vandoorne, Marcus Ericsson, Pascal Wehrlein e Romain Grosjean, sempre às voltas com os crônicos problemas de freio dos carros da Haas.
A Force India monopoliza a 5ª fila e vai seguindo com o que tem até Barcelona. E para o GP da Espanha, avisou o chefe da equipe dos carros róseos, vem um novo assoalho para melhorar o rendimento do VJM10. Até o momento, o desempenho do carro tem sido razoável o bastante para proporcionar a Sergio Pérez terminar todos os GPs do ano e Esteban Ocon alcançar seu primeiro Q3 na carreira.
Carlos Sainz fez o 11º tempo na pista, mas por conta de uma batida em Lance Stroll no Bahrein, foi punido com a perda de três posições. Nada comparável a Vandoorne, que perdeu 15 posições por troca de motor e larga da Sibéria. Por falar no Stroll, o canadense não fez nenhuma cagada – ainda – mas não avançou para o Q3. Nem ele, nem Kvyat, Magnussen e muito menos um desgostoso Fernando Alonso.
Imagino o espanhol, todo pimpão ao ser recebido como herói na Fórmula Indy, ficar com cara de bunda nos boxes da McLaren, puto da vida com a falta de potência do motor Honda – do mesmo fabricante que incentivou sua ausência no GP de Mônaco daqui a um mês para ser uma das grandes atrações da Indy 500.
Se a diferença – segundo a FIA – entre as unidades de potência de Mercedes, Renault e Ferrari “não passa de três décimos”, fico aqui imaginando qual é o abismo que separa os motores japoneses da concorrência. Só a título de comparação, o tempo de Alonso no Q2 foi 3″466 pior que a pole que Vettel cravou no Q3. O sashimi parece cru demais para os lados do asturiano…
Vamos ver como será esse GP da Rússia. A largada pode decidir muita coisa e tanto uma manobra brilhante quanto um erro crasso podem ser cruciais. A pista de Sochi não é daquelas que me atrai muito, mas tomara que a corrida seja animada. Até aqui, só gostei mesmo do GP da China. Vi que muitos elogiaram a etapa do Bahrein, mas confesso não ter me entusiasmado.
A felicidade é vermelha neste domingo?
Saberemos…
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