Don Nichols (1924-2017)

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Em foto de 1975, Don Nichols (1924-2017) foi o artífice da equipe estadunidense Shadow de Fórmula 1, que construiu também carros Esporte-Protótipo da série Can-Am, inclusive com José Carlos Pace como piloto

RIO DE JANEIRO – Luto (novamente) no automobilismo mundial: morreu hoje aos 92 anos o estadunidense Don Nichols, fundador da equipe Shadow, que disputou 104 corridas de Fórmula 1 entre 1973 e 1980, conquistando uma vitória, três pole positions, dois recordes de volta em prova e sete pódios naquele período, além de 67,5 pontos somados e 50 voltas lideradas por seus pilotos.

Nascido em 23 de novembro de 1924 em Eldon, no estado do Missouri, antes de se dedicar ao esporte a motor, Nichols foi militar: foi veterano da II Guerra Mundial e lutou na Guerra da Coreia antes de servir à inteligência militar de seu país. Em 1968, fundou a Advanced Vehicle Systems (AVS), que viria a ser o embrião de sua equipe de competição.

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Em primeiro plano, o UOP Shadow Mk3 conduzido por José Carlos Pace numa prova de Can-Am em 1972

Dois anos depois, entrou na série Can-Am dos EUA com um Esporte Protótipo e, para marcar território e celebrar o acordo com a Universal Oil Products (UOP), pintou seus carros inteiramente de preto e batizou sua equipe de Shadow Racing Cars. Um dos pilotos dos monstruosos Can-Am construídos pela equipe de Nichols foi o brasileiro José Carlos Pace, na temporada de 1972. Mas a Shadow só ganharia a série dois anos depois, com Jackie Oliver, quando a categoria já entrara em declínio e teve sua primeira morte decretada por conta da crise do petróleo deflagrada pela OPEP.

Em 1973, com design de Tony Southgate, que servia à BRM, a Shadow estreou na Fórmula 1 com um projeto ambicioso e dois pilotos – George Follmer e Jackie Oliver. Ambos conquistaram dois pódios na temporada de estreia do time, que sofreria um enorme baque na temporada seguinte, com a morte de Peter Revson em testes da Goodyear em Kyalami, na África do Sul.

Os carros pretos impressionaram vivamente no início de 1975, quando Jean-Pierre Jarier assombrou com duas poles consecutivas em Buenos Aires e Interlagos – contudo sem vencer em nenhuma oportunidade. A UOP retirou o patrocínio e Jackie Oliver, de piloto passou à função de diretor comercial da escuderia, costurando um duvidoso apoio do empresário Franco Ambrosio, que depois seria preso pelo seu envolvimento com a loja maçônica P2 – também relacionada à morte do Papa João Paulo I, anos mais tarde.

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Alan Jones conquistou a única vitória da Shadow na Fórmula 1 com o DN8, em Zeltweg, no ano de 1977

Foi com o patrocínio da Ambrosio e dos cigarros Villiger-Tabatip, que a Shadow conquistaria sua única vitória na Fórmula 1 com Alan Jones, no GP da Áustria – além de viver mais uma tragédia com a morte estúpida de Tom Pryce na mesma Kyalami onde falecera Peter Revson, três anos antes. Depois disto, a Shadow sofreu uma debandada: Jackie Oliver, Alan Rees e o desenhista Tony Southgate fundaram uma nova equipe – a Arrows. Os dissidentes foram marcados pela cara de pau em apresentar um carro idêntico em absolutamente tudo ao Shadow DN9 (desenho do próprio Southgate) para a temporada de 1978. Só o desempenho era diferente: a Arrows andava bem e a Shadow, já decadente, frequentava o meio e o fim do pelotão.

Nichols, furioso, entrou nos tribunais acusando a Arrows de plágio e venceu na justiça. Os dissidentes tiveram que produzir um novo carro em tempo recorde.

No ano de 1979, a Shadow voltou a apostar na cor escura pelo menos no carro do italiano Elio de Angelis, que marcou os últimos pontos do time no GP dos EUA-Leste em Watkins Glen, com um 4º lugar.

Em 1980, Don Nichols não tinha mais como seguir competitivo na categoria máxima do automobilismo. Começou a temporada com David Kennedy e Stefan Johansson, pilotos jovens e desconhecidos, além de um carro muito fraco. Geoff Lees entrou no lugar de Johansson após duas corridas e classificou o Shadow para a corrida derradeira do time em Kyalami, no GP da África do Sul.

Após o GP da França, em Paul Ricard, Nichols vendeu o que restava de sua escuderia à Theodore Racing, do milionário de Hong Kong Teddy Yip. Aposentou-se e mudou para a Califórnia, onde viveu os últimos anos de sua vida, aparecendo em diversas reuniões sobre automobilismo para falar de sua vida e da equipe que fundou.

Comentários

    • Não foi o Heve. Foi o Polar. Foi o Shadow DN1 e não o Arrows. O Cardoso, a soldo do Ricardo Achcar e do Ronald Rossi, “roubou” os restos de um monocoque destruído por Jean-Pierre Jarier nos treinos do GP da Argentina de 1974.

  • Estou tentando lembrar de cabeça, mas eu vi num documentario a muito tempo, o Alan Jones falando que não tinham o hino da Australia pra tocar quando ele ganhou essa corrida de 77, e aí um bêbado tocou o hino numa corneta ou algo assim…

  • mbém os meus agradecimentos e admiração pela HEVE VEÍCULOS DE COMPETIÇÃO dos irmãos Herculano Ferreirinha e Antonio Ferreirinha também Pioneiros , visionários e talentosos injustiçados pela história nefasta do Automobilismo Brasileiro que deixam no esquecimento os grandes colaboradores , (Construtores, mecanicos , fotógrafos , jornalistas e colaboradores , que tanto contribuíram sem a mínima condição de trabalho , de reconhecimento ) Mas assim caminha o Automobilismo Brasileiro (ou a humanidade ) ? Desculpem o desabafo .

    • Não saiu o comentário anterior que fala sobre a história do Polar que foi o primeiro e único chassis monocoque construído no Brasil e a verdadeira e fiel história ainda não foi contada O Construtor e piloto e gênio de acerto de carros de competição Ricardo Achcar e seu amigo Engenheiro e piloto Ronald Rossi cortaram o monocoque dp Shadow apenas para copiar como eram os reforços dentro do monocoque , quanto a história da ida e chegada do Shadow acidentado na fabrica Polar em maria da graça (suburbio do Rio de Janeiro) é um longa história com vários personagens . Quem sabe um dia será contada a verdade ?

  • Essa história do Polar cada um conta de um jeito. . .
    E sendo o Benjamim Biju Rangel tão próximo dos fatos, bem que ele ou o próprio Ricardo ou até mesmo o Nino poderiam narrar a verdadeira história que cerca essa “aquisição de dados” tupiniquim. . .
    Em tempo, Rodrigo, e sem nenhuma intenção de ser o “chato”, entre as tragédias de Revson e Pryce, o intervalo foi de 3 anos, ok!
    Abraço.
    Zé Maria