Direto do túnel do tempo (380)

BhhGGRGIcAAKTr7
Rumo ao pódio no Estoril: a façanha de Stefan Johansson foi o maior momento da curta trajetória da Onyx na Fórmula 1

RIO DE JANEIRO – Amanhã, dia 8, é o dia de mais um aniversário do sueco Stefan Johansson. O veterano, ainda em atividade – mesmo que de forma esporádica – completa nesta sexta-feira nada menos que 61 primaveras. Uma longa vida dedicada ao automobilismo e que começou há mais de quatro décadas, passando pela Fórmula 3 inglesa antes de uma estreia pouco feliz na Fórmula 1, quando ainda tinha 23 anos e seu carro, o pior da época, era um decadente Shadow.

A estreia de Stefan foi pela Spirit, muito tempo depois. Três anos se passaram para que ele enfim disputasse sua primeira de um total de 79 GPs na categoria máxima. Uma marca pequena para alguém de carreira tão longeva. Mas isso se explica: apenas entre 1986 e 1987 o sueco realmente conseguiu disputar todas as corridas de um mesmo campeonato, quando pertencia à Ferrari e McLaren, para as quais foi contratado para o papel de escudeiro de Michele Alboreto e Alain Prost. Antes, fez algumas aparições esporádicas de Toleman e Tyrrell.

Viveu um inferno na Ligier, que tinha feito um carro péssimo e vinha em fase pavorosa na categoria. De 16 corridas na temporada de 1988, ficou de fora em seis – três delas consecutivas. Apesar de estar ainda com 31 anos, Johansson tinha seu futuro questionado na categoria e seu nome foi visto com o mais absoluto desdém no ano seguinte, quando uma equipe chamada Onyx Grand Prix decidiu contratá-lo.

A Fórmula 1 passava pelo “boom” causado pela mudança de regulamento e um fenômeno verificado nos anos 1970 voltava a todo vapor. Novas equipes se juntaram à categoria e a Onyx era uma delas. O time fundado por Mike Earle e Greg Field não era neófito: tinha um passado respeitável na Fórmula 2 europeia e na Fórmula 3000, era um dos times que mais incomodava num campeonato que também crescia em popularidade. Logo, a ascensão para a categoria máxima foi um passo natural. Antes, em setembro de 1988, Paul Shakespeare subscrevera Mike Earle e se tornava o acionista majoritário da nova escuderia.

Alan Jenkins, um experiente engenheiro que trabalhara primeiro na McLaren com John Watson e depois desenhara alguns chassis Penske de Fórmula Indy, foi a escolha para desenvolver o primeiro Fórmula 1 da Onyx, o modelo ORE-1. Um carro sem muitas inovações e dotado do motor Ford Cosworth V8. Mas a equipe tinha um componente importante por trás dos bastidores: muito dinheiro, cortesia do misterioso e excêntrico belga Jean-Pierre Van Rossem, que desenvolvera um sistema chamado Moneytron e enriquecera com ele.

A equipe começou claudicante e Johansson, que tinha como companheiro de equipe o novato Bertrand Gachot, ficou de fora das três primeiras corridas. De repente, o carro começou a evoluir e Stefan deu à Onyx a honra da estreia no GP do México, com um 21º lugar no grid. O ponto alto da primeira metade do ano foi o GP da França, onde os dois pilotos se classificaram juntos pela primeira vez. O sueco largou de 13º e terminou numa sólida quinta posição. Nada mal!

Apesar dos dois pontinhos no Mundial de Construtores, a Onyx teria que se submeter à pré-qualificação em todas as outras corridas após o GP da Inglaterra. Isto não abateu o moral do time e Van Rossem, o homem da Moneytron, já sonhava alto: iniciara conversas com a Porsche para o possível retorno da casa de Weissach como fornecedor do time. Àquela altura, o belga já era acionista majoritário da escuderia e ditava sua própria lei. Tanto que Bertrand Gachot foi demitido após fazer críticas abertas à estrutura da equipe, dando seu lugar a um jovem finlandês chamado J.J. Lehto.

Aí se deu o milagre: no GP de Portugal, disputado no Estoril, o carro #36 de Stefan Johansson foi suficientemente competitivo para lhe assegurar a décima-segunda posição no grid. Após se instalar em oitavo na altura da décima volta, o sueco chegou à zona de pontuação na volta 35. Então, quatro giros depois, aconteceu a cena de pastelão de Nigel Mansell dando marcha a ré no pitlane a bordo de sua Ferrari. Não podia e a direção de prova deu bandeira preta ao britânico.

Mansell não viu – ou não fingiu ver – os insistentes acenos para que o piloto não continuasse na disputa e o resultado foi um acidente evitável entre o Leão e Ayrton Senna, porém típico de duas personalidades que jamais cediam. Subitamente, Stefan Johansson se viu em terceiro lugar, prestes a levar seu primeiro pódio em dois anos e o primeiro da promissora Onyx. Quando Riccardo Patrese o ultrapassou, não pareceu ter sido ruim. Afinal, marcar três pontos era melhor que zero. Mas aí a Williams do italiano teve um problema mecânico e encostou. Stefan herdou a terceira posição atrás de Gerhard Berger e Alain Prost – e não tenham dúvidas de que ele era o homem mais feliz quando subiu ao pódio naquele 24 de setembro de 1989, quando o sueco já tinha então 33 anos de idade.

Seria o último grande momento da carreira do nórdico na Fórmula 1 e o único da Onyx. A equipe entrou em declínio com a saída de Jean-Pierre Van Rossem e, mesmo vendida a Peter Monteverdi, nunca mais foi a mesma. Johansson perambulou por times que passavam por fases terríveis feito a Arrows e a AGS. Pela primeira, fez sua derradeira aparição na categoria, largando em 25º no GP do Canadá com o Footwork Porsche FA12.

O jeito foi mudar de rumo e Johansson se viu na Fórmula Indy a partir de 1992. Quando Tony Bettenhausen, que guiava e dirigia uma escuderia, quebrou uma perna, ofereceu a Stefan a chance de guiar para ele. Deu certo: logo na estreia, conquistou um pódio no GP de Detroit – o outro viria apenas em 1995 no oval de Nazareth, hoje extinto. Johansson guiou para Bettenhausen até o fim de 1996, quando então voltou suas armas para os Esporte-Protótipos.

Em seu retorno a Sarthe após cinco anos, venceu com Michele Alboreto e Tom Kristensen a bordo de um TWR-Porsche WSC 95, um “Frankenstein” montado no chassi de um Jaguar XJR-14 Grupo C. Foi dono de equipe entre 2001 e 2002 na Endurance e em 2003 na Fórmula Indy (seus pilotos eram Jimmy Vasser e Ryan Hunter-Reay), voltando a subir ao pódio como piloto em 2003 junto a Emanuele Pirro e J.J. Lehto, conquistando a 3ª posição com o Audi R8 da Champion Racing. Disputou a clássica prova francesa 15 vezes – a última em 2012, quando as 24 Horas já faziam parte do World Endurance Championship (WEC).

Eventualmente, nos últimos anos, Stefan tem sido visto em provas de Grã-Turismo. Disputou algumas etapas da IMSA e do Pirelli World Challenge. Mas para quem gosta de Fórmula 1 e dos times “underdog”, ele está marcado para sempre pelo pódio único e histórico da Onyx em Portugal, 1989.

Há 28 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Muito bom Rodrigo! Para quem já conhece, sempre bom lembrar destas histórias, para quem, como eu não lembra ou acompanhava nesta época, é uma informação valiosíssima, vinda de boa fonte!

    Grato.

  • Mattar se esqueçeu um detalhe do Stefan Johansson´, ele é empresário atualmente do piloto sueco Felix Rosenqvist, que corre de super fórmula no japão e de Fórmula E pela Mahindra

  • Tive uma banda chamada Moneytron em São Paulo, lá por 2002. Durou uns 10 ensaios e um show numa festa de república do qual ninguém lembra lá muita coisa, terminou porque o baterista desistiu da faculdade e voltou pra minas.

    Achava o nome fantástico, mas nunca ninguém de fora da banda perguntou o porquê.

    OBS: O Johanssan tinha um blog bem bacana a uns tempos atrás.