Dakar 2018: 343 veículos e número ridículo de brasileiros na edição de 40 anos da prova

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Três países, 14 etapas, duas semanas de aventura, mais de 300 veículos e presença ínfima de brasileiros. Este será o 40º Rali Dakar

RIO DE JANEIRO – A um mês e meio da largada marcada para o próximo dia 6 de janeiro, a Amaury Sports Organisation (ASO) fez a apresentação oficial do percurso do 40º Rali Dakar, que marca o regresso de um país à competição. Ausente por alguns anos por conta de problemas de logística relativos ao clima instável, o Peru retorna no lugar do Paraguai – país-sede da largada de 2017, em Assunção. Bolívia e Argentina seguem no roteiro e a competição terminará não na capital Buenos Aires, mas sim em Córdoba, após a largada em Lima.

A décima edição do Dakar em território sul-americano terá mais de 9 mil quilômetros de percurso – incluindo mais de 5 mil em trechos cronometrados. Sete das 14 etapas previstas serão 100% disputadas nas dunas ou em terrenos mais acidentados, resgatando um pouco do espírito perdido quando o Deserto do Atacama – por consequência do afastamento do Chile como um dos países participantes do evento – deixou de fazer parte do roteiro.

Para o Dakar 2018, o ASO contabiliza um aumento de veículos em relação ao último evento. Foram 323 anunciados em 23 de novembro do ano passado – com 318 na partida em definitivo. Desta vez, são 343 os anunciados nas cinco categorias – em que a novidade é a denominação SXS para a classe dos UTVs, que contempla 14 inscritos – número maior que neste ano. Nas demais classes, teremos 143 motociclistas (três a menos que no último evento); 50 quadriciclos – foram 37 em 2017; 91 carros – nove a mais em relação a 2017; e 45 caminhões – cinco competidores a menos que no último Rali.

E mais uma vez o número de brasileiros inscritos é decepcionante. Duro observar a lista de entradas e notar que em 30 anos esta será a primeira vez em que NENHUM representante do país participará da competição entre os motociclistas. Não teremos nenhum dos três que competiram em 2017 – Gregório Caselani, Richard Fliter e Ricardo Martins. Tampouco Jean Azevedo, dono dos melhores resultados entre os pilotos do país em duas rodas – com vitórias em especiais quando o Dakar ainda enveredava pelo território africano, sem esquecer que Kléver Kolberg conquistou os melhores resultados de qualquer piloto do país na geral – seja em carros ou em motocicletas.

O primeiro brasileiro que se nota na lista de entradas é o maranhense Marcelo Medeiros, que vai para seu 3º Dakar. Nos carros, nada de Sylvio de Barros/Rafael Capoani, tampouco Guiga Spinelli/Youssef Haddad, que competiram com os Mini no Rali dos Sertões. Teremos Jorge Wagenfuhr/Idali Bosse Rodrigues, com um Mitsubishi. E só. Na SXS, infelizmente não veremos Lourival Roldan/Leandro Torres defenderem o título conquistado neste ano. A esperança de um bicampeonato de uma dupla do país está em Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin. José Jorge Sawaya/Marcelo Haseyama completam o magérrimo plantel de sete representantes no 40º Rali Dakar.

Tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante…

Enfim, vamos em frente: a lista de motociclistas tem gente de respeito. Sam Sunderland vai liderar a equipe oficial de fábrica da KTM com o dorsal #1 referente ao título deste ano na competição. O austríaco Matthias Walkner terá o número #2. Outros destaques do fabricante austríaco são o espanhol Gérard Farres Guell; o campeão do Rali Dakar em 2016, Toby Price e o eslovaco Stefan Svitko. Num nível um pouco mais abaixo, não podem ser descartados o boliviano Juan Carlos Salvatierra – que pela primeira vez estará no pelotão de elite – além de Laia Sanz, Olivier Pain, Armand Monleon, Antoine Meo (de volta após uma lesão que o tirou da prova do ano passado), Ivan Jakes (o mesmo que sobreviveu a uma descarga elétrica de um raio) e Ivan Cervantes Montero.

Na Honda, puxam a fila os suspeitos de sempre – o espanhol Joan Barreda Bort e o português Paulo Gonçalves são os líderes da turma do HRC, junto ao estadunidense Ricky Brabec e ao francês Michael Metge. Kevin Benavides, sensação em 2016 e que não disputou a última edição em decorrência de uma fratura, regressa com o dorsal #47. A Yamaha terá Adrien Van Beveren, junto ao argentino Franco Caimi – destaque da edição deste ano. Alessandro Botturi e Xavier de Soultrait também defenderão a marca dos três diapasões com algum destaque. Uma pena a ausência do português Hélder Rodrigues…

Com um esquema ainda mais enxuto que as demais fábricas, a Husqvarna aposta no chileno Pablo Quintanilla e no tcheco Ondrej Klymciw para obter um bom desempenho. Ainda há outros competidores de nível razoável que defenderão a marca sueca – hoje pertencente ao grupo Piaggio. A Sherco vai de Juan Pedrero Garcia e Adrien Metge, enquanto a Hero Speedbrain será conduzida por outro português, Joaquim Rodrigues.

Nos quads, o atual campeão Sergey Karyakin defende sua coroa contra um exército de bons pilotos formado por outros europeus e sul-americanos. Da Europa, os mais fortes concorrentes são o polonês Rafal “Super” Sonik, os franceses Axel Dutrie e Simon Vitse, o tcheco Josef Máchacek e o holandês Kes Koolen. O chileno Ignácio Casale é o principal nome do continente, junto aos argentinos Pablo Copetti e Jeremias González Ferioli (que volta após ficar fora do evento em 2017), o paraguaio Nelson Sanabria Galeano, o boliviano Walter Nosiglia e os peruanos Alexis Hernández e Ignácio Flores Seminario.

A categoria dos carros terá pela última vez os espetaculares 3008 DKR da Peugeot em caráter oficial de fábrica. Após o Rali Dakar, a marca francesa se retira das competições de todo-terreno. O Dream Team da marca segue inabalável, com o “Monsieur Dakar” Stéphane Peterhansel pronto para tentar mais um título ao lado do fiel Jean-Paul Cottret. Não houve mudanças nas outras tripulações: Sébastien Loeb/Daniel Elena, Carlos Sainz/Lucas Cruz e Cyril Despres/David Castera vão competir juntos novamente.

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O novo buggy da Mini nas cores da Red Bull: a quem serão entregues as três unidades concebidas para o Rali Dakar 2018? Façam suas apostas…

Após apenas um Dakar como piloto Toyota, Nani Roma regressa às hostes da Mini. Por sinal, a X-Raid de Sven Quandt terá um novíssimo buggy nesta edição do Rali – que será entregue a apenas três duplas. Roma deverá ser um dos pilotos a conduzir a nova máquina e é bem possível que os outros dois sejam o finlandês Mikko Hirvonen e o argentino Orlando “Orly” Terranova. O total será de sete carros defendendo a marca vinculada à BMW.

Na Toyota, sem Roma, a novidade é Bernhard Ten Brinke incorporado ao time oficial de fábrica que terá novamente Nasser Al-Attiyah e Giniel De Villiers. A Ford aposta novamente no “Bulldog” Martin Prokop, enquanto uma das novidades é a Borgward, com o chileno Nicolás Fuchs. A Renault dobrou a parada e com seus carros “hechos en Argentina”, aposta em ninguém menos que Carlos Sousa para representar a marca do losango junto a Emiliano Spataro. E apesar de ter completado neste ano o seu primeiro Rali Dakar, o modelo Acciona Eco Powered, totalmente elétrico, não figura na lista de entradas desta vez.

Entre os SXS, a única dupla que competiu por bons resultados neste ano e volta em 2018 é a dos russos Maganov Ravil/Kirill Shubin. A italiana Camelia Liparoti deixou os quads e vai pilotar um Yamaha ao lado do compatriota Manuel Lucchese, que era da categoria dos motociclistas. E na divisão dos “brutos”, outra vez a batalha será entre os caminhões da russa Kamaz contra os modelos italianos da Iveco, os tchecos da Tatra e os alemães da MAN, com os Renault e MAZ correndo por fora. A grande novidade para a edição do ano que vem é a ausência de Gerard De Rooy: o holandês não participará da prova como piloto – mas sua equipe deve estar presente na competição, onde o ídolo argentino Federico Villagra tenta o primeiro título de um sul-americano na categoria.

Comentários

  • É por essas e outras, que as vezes me dá vergonha de ter nascido no Brasil.

    Estarei torcendo por Loeb no ano que vem, já que este vem apresentando uma clara evolução desde o ano retrasado.

  • Mattar, para mim é meio estranho ver o nome Dakar usado aqui na América… A aura e o charme que essa prova trouxe era justamente o desafio que os competidores enfrentavam naquele norte da Afríca, serpenteando o deserto do Saara, passando perto das savanas e chegando lá na capital do Senegal… Pena que alguns países daquela região não puderam dar as condições de segurança para a competição passar por eles. Mas segue a corrida e acharam aonde continuar com o evento. Para nós brasileiros seria possível uma participação maior de competidores e equipes daqui nessa versão latinoamericana do Dakar e até termos trechos dela em nossas terras, mas o que acontece para essa pífia representação tupiniquim?? Na minha opinião, falta de gestão, trabalho e incentivo das entidades que gerem o esporte a motor aqui no Brasil, para começar…

  • Rodrigo,

    É bem possível que o fato de, em 30 anos, esta ser a primeira vez em que nenhum representante do país participará da competição entre os motociclistas, seja mero reflexo daquilo em que o Brasil tem se transformado nos últimos anos: um zero à esquerda.

    Muito difícil argumentar contra a dura realidade de um país que tem, sistematicamente, se subdesenvolvendo.

    Infelizmente.

  • Dá uma certa inveja do automobilismo argentino a nível de provas internacionais: nós temos a Fórmula 1, mas eles tem Dakar, WRC, WRX, WTCC, Moto GP, estão negociando a Superbike…

  • Rodrigo, parabéns pelo texto, mas vejo que você esqueceu de mencionar Klever Kolberg, pioneiro com André Azevedo neste desafio.
    Também notei que você errou quando disse que o melhor resultado do Brasil no Dakar entre as motos é de Jean Azevedo. Na verdade foi Klever Kolberg em 1993 (quinto na geral e campeão na Maratona com Yamaha Tenere), resultado repetido por Jean em 1997 (quinto na geral e Campeão na Production com KTM).
    Klever também conquistou o melhor resultado de um brasileiro entre os carros, mesmo nunca tendo a oportunidade de pilotar um protótipo de equipe oficial. Foi oitavo na Geral e segundo na Diesel, em 20o2.
    Abraços e boa cobertura.
    Rogério Couto

    • Obrigado pelas observações. Realmente lamentável o meu esquecimento com relação ao Klever. A memória às vezes nos trai. É que lembramos sempre do Jean por conta de suas vitórias em especiais. Não foi sacanagem. É esquecimento mesmo.