O adeus definitivo

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A vida também existe fora da Fórmula 1. Felipe Massa teve uma carreira muito digna. Que seja feliz no que escolher para o futuro

RIO DE JANEIRO – Felipe Massa está fora da Fórmula 1 em 2018. E dessa vez, ao contrário do que aconteceu quando ele anunciou sua aposentadoria das pistas e foi demovido da decisão – porque a Williams ficou sem piloto para ocupar a vaga deixada por Valtteri Bottas quando a Mercedes-Benz chamou o finlandês para substituir o então campeão mundial Nico Rosberg, foi o time britânico que dispensou os serviços do brasileiro após quatro anos de colaboração mútua.

Não é nenhuma surpresa, convenhamos. Nem a saída do Felipe quanto a necessidade da Williams de mudar de piloto. A equipe é uma pálida sombra do que já foi um dia. A organização pujante de até 15 anos atrás não existe mais. Terá que trabalhar com um orçamento 30% menor em 2018 e em vista disso, Felipe – que não é um piloto barato – até aceitou ganhar menos no próximo ano para continuar.

Mas pelo visto as coisas não caminharam como o piloto gostaria e, sem acordo, não há outra saída. Um fator que talvez tenha pesado muito na decisão foi o constante rumor sobre a própria equipe querer se ver livre de Felipe. Até o nome de Alonso foi ventilado – e logo esquecido. Depois, surgiram no horizonte Paul Di Resta – que, vamos e venhamos, não é uma das opções mais sábias, o polonês Robert Kubica, o alemão Pascal Wehrlein e, agora, Daniil Kvyat, defenestrado da Toro Rosso.

Indefinições incomodam e rumores, mais ainda. Acredito que Felipe tenha jogado toda a sua insatisfação na mesa para Claire Williams e ambas as partes devem ter concordado que não dava mais. O brasileiro falou muito em “respeito”. Se faltou respeito da equipe para com ele, então fez o certo. Pra que se estressar com alguém que, desta vez, não o queria?

Massa teve uma carreira digna na Fórmula 1 e tem que se orgulhar do que conseguiu. Ao contrário dos idiotas de sempre, que acham que automobilismo é bom só quando brasileiro ganha, acredito que Felipe não tem nada a dever para absolutamente ninguém. Teve anos maravilhosos na Ferrari, quase foi campeão mundial – inclusive, anteontem completou-se nove anos da famosa decisão de título entre Felipe e Lewis – mas se não foi, é porque não era pra ser mesmo. Depois, houve o acidente da Hungria, outras situações que impediram sua permanência na Ferrari e bons momentos na Williams.

Aos 36 anos, ele ainda tem muita lenha pra queimar e para onde o destino quiser que vá, será muito bem-vindo. Se ainda pensa em ser competitivo, há boas opções. Talvez hoje a melhor delas fosse correr na IMSA, mas a maioria dos lugares já estão definidos. A Fórmula E já está com seu lineup fechado. O WEC, mesmo vivendo um momento de indefinição, parece uma alternativa ainda viável. Stock Car? Não sei… talvez eventualmente, como convidado, mas não o vejo vindo para o automobilismo nacional.

Inacreditável que, em 2017, ainda haja quem defenda que o Brasil não tem pilotos desde 1994.

É leviano desmerecer a trajetória de todos os que vieram depois da morte de Ayrton Senna – e inclusive temos que lembrar que muitos sequer tiveram espaço, foram para outros países (cito aqui os exemplos de Gil de Ferran, Tony Kanaan e Hélio Castroneves, todos execpcionais) e ainda são felizes. Ninguém tem culpa da pressão imensa que foi exercida sobre os ombros de todos eles e pelo menos um deles, o Rubens Barrichello, pagou um preço muito caro por chamar para si a responsabilidade.

E essa pressão todos nós sabemos de onde veio e quem foi a responsável por essa pressão.

Foram 48 temporadas com pelo menos um piloto do país a bordo de um carro de Fórmula 1, desde que Emerson Fittipaldi fez sua estreia em julho de 1970. E o que mudará não ter um piloto do país no grid em 2018?

Nada. A Globo já vendeu suas cotas de patrocínio e seguirá com suas transmissões. Há muito que a categoria se transformou num produto para a referida emissora. Que ainda dá audiência, que teve boas corridas neste ano e que poderá nos proporcionar bons espetáculos na próxima temporada.

Saibamos reconhecer que essa hora um dia chegaria. É o preço que se paga não só pela falta de oportunidades de uma categoria que hoje privilegia mais o dinheiro que o talento – e a economia do país já não caminha firme faz tempo – e também pela incompetência dos dirigentes que mandam no esporte neste país e não se preocuparam com a reposição.

Será que teremos a paciência de esperar pra ver um novo piloto? Na França, nunca houve cobrança desde que o país perdeu sua corrida e depois não teve mais pilotos regulares na categoria. Hoje, os galos têm mais de um representante e voltaram a ter seu evento em Paul Ricard.

Assim como a Fórmula 1, a vida dá voltas. E para Massa, essa vida segue. Não pelo caminho como talvez gostasse. Mas como tem que ser.

Comentários

  • Acho que pode=-se dividir a carreira de Massa em 2 partes, antes de depois do acidente com a mola voadora.
    É certo que alguns pilotos nunca se recuperam de traumas na cabeça. aPara alguns leva um bom tempo para recupera a capacidade (quase) plena. Vide Nelson Piquet (pai), que depois do acidente de Imola, levou quase 3 anos até voltar, com a Benetton, a andar em alto nível.
    Some-se a isso o fato de que o tempo passa, e os reflexos diminuem. Alguns pilotos sofrem mais com isso, outros menos, alguns conseguem levar a carreira em alto nível até mais tarde. Vai da genética e do treinamento de cada um.
    Costumo dizer que alguns pilotos que faleceram (cedo) nas pistas, tiveram pelo menos uma vantagem: o mundo não assistiu ao declínio deles….É duro, mas é verdade. Vejam os casos de Clark, Gilles, Peterson e Senna., que morreram aos trinta e poucos, no auge, ou no inicio da decadência.
    Decadência que Schumacher teve a coragem de mostrar, aos 43 (?), andando muitas vezes atras de Nico Rosberg. Teve uma segunda parte de carreira digna, ainda um belo piloto, mas não era mais o mesmo piloto excepcional de antes.
    A primeira parte de Massa foi muito boa. Não se pode esquecer algumas belas corridas dele. Teve 11 vitorias na F1, o mesmo total de Barrichello, o que não é um numero nada ruim, não são muitos os que venceram mais.
    A segunda parte foi, digamos, digna, porem um pouco triste. Não voltou mais a andar o mesmo nivel, não esteve nem perto de flertar com a vitoria. Nessa segunda parte foram alguns podios eventuais, resultados de corridas de estrategia e oportunidade. Nunca mais ofereceu um desempenho de encher os olhos, e se envolveu demasiadas vezes em acidentes e incidentes desnecessários, Por fim, no ultimo ano, ter de se contentar em seguir um fraquíssimo Lance Stroll na pista, sem capacidade ou autorização de ultrapassar, é lamentável.
    Pessoamente, acredito que no ano passado foi a Williams quem decidiu que não queria renovar, e não ele quem resolveu encerrar a carreira. Depois, não critico a decisão de voltar: era mais uma oportunidade pra tentar, e, não da pra esquecer que iriam cair mais alguns excelentes euros na conta bancaria dele.
    Agora teve de parar, ninguém, nem mesmo a Williams o quer mais. Acontece, já aconteceu com os melhores.
    No todo, teve uma bela carreira, bastante vitorias e um quase titulo de campeão. Em tudo por tudo sua carreira se assemelhou em resultados a de Barichello. Muito boa.
    Desejo que ele encontre seu caminho em outra categoria, se ainda tiver vontade e se divertir pilotando. Senão, hora de curtir uma bela aposentadoria privilegiada, ainda jovem, com a grana que amealhou no automobilismo.

  • sinceramente vai ser chato sem um brasileiro,,,mesmo sabendo que massa n venceria eu fica ficava sempre torcendo,,,,pelo que li hoje sobre a aposentadoria,deu a entender que a decisão veio de massa ja que a willians n iria se pronunciar até o gp do brasil,,,,achei uma decisão sabia,,,,n ficaria legal esperar ate o final e receber um chute na bunda,,,,mas tambem pode ter acontecido o seguinte: a willians em off ter comunicado a massa que n iria renovar e pedido para ele anunciar sua aposentadoria como forma de n ficar constrangedor e deselagante,, ou seja,, n passar uma imagem que foi dispensado,,acredito mais nessa teoria devido o respeito mutuo que sempre existiu entre willians e felipe,,,,,,,,agora quanto ao futuro ,será q n terá um apelo por brasileiro na f1,audiencia, lucro n leva em conta,,,,será que o fittipaldi vencendo esse campeonato 3.5 v8 n tera um teste em alguma equipe,,,,antigamente esse capeonato era porta de entrada,,,,será que as coisas mudaram,,,,n sei, mas hoje vejo a formula 03 europeia em alguns momentos mais cotada que a formula 2.

  • Carreira incontestável. Sempre há muito mérito em chegar a F1, (sem pagar pelo cockpit), correr por uma equipe de ponta e vencer várias corridas.

    Confesso que uma época fique de saco cheio do piloto, pois era escandalosa a puxação de saco pelo canal detetor dos direitos de transmissão no Brasil. Não suportava mais ver uma coisa e ouvir outra.

    Imagino o que deve ser para qualquer piloto, desde criança correr por um sonho, se preparar, dedicar-se, trabalhar, trabalhar e trabalhar para ser digno de estar em uma categoria com vagas muito limitadas e baixa rotatividade destas. Conseguir, evoluir e vencer. Depois de anos, finalmente chega a hora de se aposentar. Deve bater um desespero: “fiz isso minha vida inteira, o que vou fazer agora?” Acho que é por isso ser tão difícil largar o osso, mesmo que os bons resultados não apareçam mais.

    Já a Williams: tinha carro para vencer corridas em 2014 e até 2015. A prova disso é que nem com um carro de ponta, taxado com promessa, Bottas não se destaca quanto se esperava.

    Vejo que o mais certo para o Massa seria a F-E. É a chance de ser campeão mundial em uma categoria que veio para ser tornar sólida.

    F-1 deveria esquecer a visão de ser a Fórmula do futuro e olhar para os tempos de glória do passado. Usar da tecnologia sim, mas para recriar o nostálgico, mesmo que isso signifique regredir ao passado. Uma “Fórmula Clássica” ia bem melhor que a atual. E qual é o futuro da F1 se não virar a F-E?

  • Independente de ter sido vontade dele ou uma decisão da Willians,(ou até as duas junto) em fazer o comunicado da forma que foi feito, os ultimos dias estavam expondo ele à uma certa humilhação que ele não precisava passar. Ele fez muito na categoria. Merece respeito. E pra não deixar ele sem opção pro ano que vem, tem um assento vago no MRX#8 para a tempórada 2018 do Gaúcho de Endurance. rsrsrsrsr.

  • Rodrigo

    Acho que o que faltou para o Massa em relação ao público brasileiro na questão do brasileiro falar que não tivemos piloto depois de 1994 foi carisma, algo que o Rubinho tem. No meu ver o brasileiro só gosta do piloto quando ele vence corridas e principalmente campeonatos. Uma parcela menor gosta do Barrichello pela história dele e pelo carisma, aí uma parcela menor ainda gosta do Massa pela história dele, mas acho que falta um pouco de carisma.

    Ano que vem ele o único banco que ele deve sentar deve ser o da praça. Como anunciou tarde a aposentaria, as melhores vagas nos outros campeonatos estão completas.

    Tira um ano de descanso, faz uma corrida aqui, outra alí e procura algo interessante para fazer em 2019.

  • Olha Rodrigo, comecei a acompanhar F1 no distante ano de 1965. Por isso, meu único ídolo na categoria foi e continua sendo Jim Clark. Na época, eu e meus amigos loucos por automobilismo fazíamos pegas homéricos de autorama na pista da Hobby Center, em Copa. Depois tinha sempre resenha e discutíamos de tudo sobre o esporte, mas nem em sonho imaginávamos que um dia haveria um piloto brasileiro na categoria.
    Por isso, quando o Emerson chegou lá foi um grande barato pra nós. Pra quem veio depois, acho que isso ficou ‘normal’ , mas pra nós deu pra perceber o impacto enorme que teve na popularização e divulgação do nosso esporte. A gente era uma seita de poucos, hoje são milhares de pessoas que gostam, acompanham e discutem automobilismo. 48 anos, uma vida. Pode ser que a gente possa prescindir de ter um piloto lá. Pode ser que não. Vamos ver. Vai ficar quem gosta mesmo.

    • Alvaro, comecei a acompanhar um pouquinho antes, talvez 62-63, lendo as revistas do meu avo: Quatrorroute, L”Automobile, 4 Rodas e depois Autoesporte. (as estrangeiras meu avo tinha de traduzir pra mim a parte de corridas….) Graças a isso hoje eu falo frances e me viro bem em italiano…
      DE autorama, em 65-66 eu andava na Coral (morava no posto 6), as vezes ia na Hobby Center…mas raramente andei lá…
      Meus idolos eram, no Brasil, o Bird, o grande Bird. E logo depois o Moco.
      Brasileiro na Formula 1, nem sonhar !!!! Corrida na TV ???? PQP, nem imaginar….mas se eu soubesse que tinha um anuncio do Canal 100 no cinema com cenas da F1 (ou outra corrida qualquer), no dia seguinte ia ver o filme !!!! Nem que fosse proibido, eu dava um jeito de entrar.
      A partir dos 11 anos meu avo já me levava pra corridas, na Barra, no Autodromo da Nova Caledonia, a partir dos 14 já era rato de oficina, de postinho, de qulquer lugar onde se respirasse fumaça de gasolina….kkkk
      E ainda não dava pra sonhar com brasileiro na F1 nem com transmissão de corridas. Mas quem gostava gostava. Lia tudo o que me caia nas mãos, sabia de cor os recordes de volta em todas as pistas, para todas as categorias: F1, F2, F3 e SP.
      Em inicio de 68 a primeira grande tristeza, morre o Clark. Aos 14 anos, chorei o dia todo, não fui a aula (e eu era CDF !!!) Em compensação o Aschar ganhou uma Club Race na Inglaterra !!! E o Emerson foi pra lá, e já começou a ganhar.: F- Ford, F3. E a abertura da novela Veu de Noiva era o deleite total, com cenas do Emerson na de Lotus 59B F3, se a memoria não me trai, em Brands.
      Em 69-70 Autodromo fechado, e todo no mundo no Calombo, no Alto, na Grajau Jacarepaguá, na descida de Petropolis….e não tinha Brasileiro na F1, nem transmissão direta de corridas. Em meados de 70 o Emerson estreia na F1, já começava a ter noticia nos jornais…e logo o Rato ganha uma !!!!
      Era o sonho !!!! e não tinha transmissão nem video tape !!!!
      Por isso, enquanto o coração bater eu nao deixo de ver corrida, tenha brasileiro ou não por lá.

      Porra esse teu post me fez “ir buscar” um monte de lembranças boas !!!!

      • Sensacional, Antonio!
        Também desenvolvi meu francês e aprendi italiano pelas revistas de automobilismo e consultas aos dicionários! Era o que a gente podia ter como fonte de informações, né mesmo? Grande abraço.

  • A globo vai transferir a F1 aos poucos pra o Sportv. o problema é que o gavião tbm vai junto.. ja disse por aí que foi muito bom apresentar por lá.. lógico, não tem q falar as asneiras as pressas por horário apertado. vamos ver o q da

  • Alguns comentários, se me permite:
    Anteontem se completaram 9 anos da famosa decisão em Interlagos, ok!
    Ele já havia sido dispensado ano passado, a dupla seria Bottas e Stroll.
    Só voltou, in extremis, por conta da necessidade da Martini, não da equipe.
    Portanto, já estava careca de saber que era carta fora do baralho, mas mesmo assim fêz biquinho, durante os últimos meses, reclamando da maneira como o time vinha conduzindo o processo de escolha do futuro parceiro do Stroll.
    Melhor e mais digno seria ter ficado de bico calado, sem mimimí.

  • O Massa nunca foi piloto dum calibre de Senna ou Piquet, mas não foi um roda dura. Teve seus lampejos e quase foi campeão em 2008, mas em 2009 teve uma mola no caminho, no meio do caminho dele teve uma mola e depois daquilo creio que ele não foi mais o mesmo piloto e para coroar, pintou ao lado dele lá na Ferrari um certo espanhol, Rei das Astúrias, Don Fernando Alonso… Felipe Massa cumpriu com decência a jornada dele na F-1, e se não foi mais bem sucedido é por que não era para ser.
    A F-1 de hoje, mais do que nunca, privilegia quem tem bolso polpudo de dinheiro e não o talento do piloto que bate na porta da garagem… Hoje se não tiver muita grana ou dar a sorte de ser apadrinhado de algum programa de formação de pilotos de uma equipe, chegar na F-1 só por puro talento acredito que será algo muito raro. O automobilismo sempre foi um esporte caro e para poucos. Se antigamente dava para correr com poucos tostões no bolso e na medida que se ganhava corridas e mostrava serviço aparecia quem bancasse o piloto e aí era com ele fazer a parte que lhe cabia…
    Não vou deixar de acompanhar a F-1 por conta da falta de um piloto brasileiro, mas vai demorar aparecer outro num carro minimamente competitivo. Tem o Sete Camara na F-2 mas antes de 2019 e o menino dando o jeito dele de se capitalizar com recursos financeiros e mostrar muito serviço nas pistas em 2018, sei não… Um outro piloto jovem que acho que poderia ser avaliado, o Pipo Derani, já se arrumou e está fazendo o nome dele no Endurance americano e se o WEC conseguir se reorganizar em sua classe principal, para mim é nome para ser colocado em equipe da prateleira de cima. Pietro Fittipaldi e Pedro Piquet?? Cedo demais na minha opinião. Talvez em 2021…
    E essa entressafra que teremos na F-1 só é mais uma consequência da falta de organização e investimento no esporte a motor aqui no Brasil. A bandeira amarela já estava sendo agitadas há tempos… O automobilismo brasileiro tomou uma bandeira preta pelo relapso que quem o dirige, de quem o pratica e de quem “investe” nele???