Marco Mora, 69

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RIO DE JANEIRO (Obrigado…) – O jornalismo esportivo perde uma grande figura já no início de 2018. Morreu hoje aos 69 anos o ex-diretor da Central Globo de Esportes em São Paulo, Marco Antônio Mora. Ele não resistiu a graves problemas de saúde, após ser internado na antevéspera do Natal, no Hospital Albert Einstein. Faleceu em razão de uma fibrose pulmonar.

No período em que trabalhei nas Organizações Globo, entre 1998 e 2012, tive a oportunidade do convívio com aquele sujeito que sabia tudo de televisão, que começou como editor e depois assumiu a direção – primeiro do Esporte Espetacular, quando a atração voltou remodelada à telinha em 1987, após quase quatro anos fora do ar – e depois da CGE em Sampa, já que aqui no Rio o diretor era Luiz Fernando Lima – anteriormente, para quem não sabe, o cargo era de Leonardo Gryner, o mesmo que foi preso junto com Carlos Arthur Nuzman. Pano rapidíssimo.

Do Marco Mora, apesar do jeitão meio fechado e dos esporros inomináveis em tudo e todos, guardo até boas lembranças. Nunca nos 13 anos em que lá trabalhei, levantou a voz pra mim. Acho que dei sorte, portanto…

E se me lembro bem, eu estava um dia lá na redação de São Paulo – na época eu ajudava no fechamento do extinto Linha de Chegada junto ao Eduardo “Borrachinha” Abbas e vira e mexe eu pintava na Berrini – quando o Mora, sem levantar a voz como fazia com qualquer outro que fizesse uma besteira, me deu uns conselhos importantes sobre os comentários que começara a fazer no ano de 2003.

Uma pessoa que estava perto e ouviu disse, assim que ele se afastou. “É porque ele gosta de você”. Fiquei até surpreso, não sabia que o Mora tinha essas atitudes, porque só ouvia falar dos esporros, et cetera e tal.

Tem mais: quem leu o livro “Ayrton, o Herói Revelado”, escrito por Ernesto Rodrigues, soube que Marco Mora apagou um tremendo incêndio na transmissão do GP do Japão de 1990.

Naquele dia 21 de outubro, Galvão Bueno fez a transmissão do Brasil em off-tube e Reginaldo Leme estava lá em Suzuka, in loco, acompanhando a decisão do campeonato, que como todo mundo sabe, durou 10 segundos. Senna bateu em Prost e levou o título. Na coordenação, aboletado no que chamamos no jargão televisivo de Switcher, junto ao diretor de imagens, ao operador de áudio e demais pessoas da retaguarda, falando com Galvão e Regi via fones de ouvido, justamente estava o Marco Mora.

Quando Reginaldo pegou o microfone após a corrida para elogiar Nelson Piquet pela vitória em dobradinha com Roberto Pupo Moreno e criticar Senna da forma como o piloto conquistou o bicampeonato do mundo, Galvão não engoliu o desaforo e após a saída para o break, deixou a cabine e saiu esbravejando na emissora do Jardim Botânico.

“Eu não volto para fazer o pódio!”, disse num rompante de raiva.

“Vocês tem que se entender. Vocês estão confundindo as coisas. Volta lá, Galvão, volta lá”, pediu Mora. Ele tinha apenas 2 minutos – o tempo do intervalo comercial – para convencer Galvão a voltar a seu posto e encerrar a transmissão, num dia duplamente feliz para a torcida brasileira.

O narrador aceitou os argumentos e foi profissional o suficiente para fazer o pódio, com direito ao incontido choro de Moreno. E foi a última corrida que Galvão narrou em 1990, já que Cleber Machado foi quem fez a transmissão da corrida seguinte, o GP da Austrália.

Dito isto, com a saída do “Borrachinha” do comando do Linha de Chegada, foram poucas as vezes em que estive com o Mora depois disso. Dentre as raras pessoas de quem guardo respeito e admiração lá dentro, com certeza ele era um deles.

A reformulação da Central Globo de Esportes, que vem sendo promovida aos poucos, o atingiu: em 2015 ele aposentou-se.

E há quem diga que, na verdade, o aposentaram.

Prefiro acreditar na segunda hipótese.

Comentários

  • Se me lembro bem, acho que teve também outra treta nesse GP: Ayrton Senna teria se recusado a dar entrevista para a Globo, por causa das críticas do Reginaldo. E a situação só teria se resolvido quando ele concordou em dar entrevista para o enviado do jornal O GLOBO, com a promessa estrita de que o Regi não aparecesse no noticiário sobre a corrida. E assim foi feito, para que a Globo conseguisse entrevistar o brasileiro, novo bicampeão da F-1. A posição de Senna acabou arrumando encrencas para o pessoal da Globo, que até tirou o Reginaldo Leme das transmissões da F-1 por um tempo, até que o trouxessem de volta, em 1992 (ele apenas ficou na “geladeira” na Globo, não indo para nenhuma outra emissora, como acabou fazendo o Galvão, em sua malsucedida passagem pela CNT).

  • Essa idolatria do Galvão para com o Ayrton seria cômica, se não fosse trágica.

    Pra mim esse episódio mostra mais do que tudo que o Ayrton era obcecado por vencer… Entraria pra ganhar até em corrida de velotrol. Num ídolo, esse tipo de comportamento é muito ruim.

    Infelizmente, na F1 você tem que ser mais ou menos como o Senna se quiser ser bem sucedido. Aliás, não só na F1… Nos níveis mais altos do automobilismo é muito raro ver camaradagem. Há muito em jogo a cada corrida.

    Uma pena, pois acredito que o Ayrton poderia ter ganho aquele campeonato de forma limpa.