Direto do túnel do tempo (392)

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RIO DE JANEIRO – Nesta quinta-feira, 8 de novembro, faz sete anos que Luiz Pereira Bueno nos deixou. Para toda uma geração, ele é um dos maiores da história do nosso automobilismo. Se a carreira dele não deu certo no exterior é outro departamento, mas que o “Peroba” era bom demais… ah! isso era.

A trajetória do Luizinho começou aos 20 anos, no velho Interlagos, a bordo de um Fiat Stanguelini. Ainda andou em pequenos Simca antes de ingressar na lendária equipe Willys de Luiz Antônio Greco, correndo com um pouco de tudo – Renault Gordini e 1093, Willys Interlagos de 1 litro, Carretera Gordini, Alpine A110 Renault, Willys Mark I e Bino Mark II.

Antes de ir para a equipe SMART na Fórmula Ford inglesa em 1969, Luizinho fez algumas corridas de BMW. Primeiro na equipe então chamada CBE e dirigida por Eugênio Martins, antes de mudar a nomenclatura para CEBEM e passar ao controle de Agnaldo de Góes Filho. Na época, seu parceiro era Jan Balder.

No exterior, dividiu a equipe que levava o nome do mito britânico Stirling Moss com Ricardo Achcar. Ganhou seis provas, mas não foi o bastante para uma sequência internacional. Luizinho voltou ao Brasil, já com 33 anos, para regressar ao time de Greco e fazer também o Torneio BUA de Fórmula Ford em 1970 (ganhou a 4ª etapa no Rio de Janeiro) e depois a Temporada Internacional de F-3 já em 1971, com um Chevron de motor Holbay.

Ainda em 1971, montou com Anísio Campos o embrião da equipe Hollywood, que no início se chamava “Z”. Importaram um Porsche 908/2 e com ele, o inesquecível “Peroba” deu show em vários autódromos, inclusive lá fora, com uma participação histórica nos 1000 km de Zeltweg, em 1972 – Luizinho e Tite Catapani vinham bem na disputa até Bueno ser tirado da corrida por Helmut Marko, o companheiro de José Carlos Pace na equipe oficial Ferrari naquela oportunidade.

Suas passagens pela Fórmula 1 primeiro no GP do Brasil extracampeonato – onde aproveitou para quebrar o recorde do anel externo de Interlagos com o March 711 – e depois na prova de 1973 a bordo de um velho Surtees foram tão saudadas quanto os desempenhos de Emerson Fittipaldi, de seu irmão Wilsinho e de Moco.

A última temporada completa a bordo de um carro de competição foi em 1975, quando consagrou-se campeão brasileiro de Divisão 4, com o Hollywood Berta Ford. Também guiou o “Haras Hollywood”, apelido do Maverick que Berta preparara para o time brasileiro. Mas o carro, embora rápido e muito potente, quebrava bastante.

Foram sete anos longe das pistas, até que em 1982 o nosso Luizinho montou uma equipe de Stock Car, com o patrocínio da Basf e o layout bastante parecido com uma BMW M1 Procar que inclusive foi guiada por Nelson Piquet numa prova que o brasileiro venceu no World SportsCar Championship, em Nürburgring.

Na época, a empresa alemã era uma das indústrias petroquímicas mais poderosas do planeta. E fazia também fitas cassette (a maioria nunca deve ter visto uma) e VHS, daí o acordo ter sido fechado com o departamento de áudio e vídeo da marca.

O carro #90 que ilustra o post foi guiado no começo do ano – se não me engano – por Hélio Horácio Matheus (o outro, com o número #60, era de Mike Mercede). Mas Horácio, que era oriundo das provas de Fiat 147, não se adaptou à categoria, embora tenha marcado um ponto no Rio de Janeiro, numa prova em que um terço do grid se autoeliminou logo após a largada.

Com um contrato por cumprir, mesmo aos 45 anos de idade, Luizinho não se vexou: assumiu ele mesmo o volante do Opala. Acabou marcando cinco pontos em três corridas, com um 9º posto em Tarumã e duas vezes em décimo, ambas em Jacarepaguá, para mostrar que velhos eram os trapos.

Não foi tudo: em 1984, o “Peroba” recebeu um convite de Luiz Antônio Greco para disputar os 1000 km de Brasília como uma despedida definitiva do cockpit. Até as cores lembravam vagamente o tempo em que serviu ao “Trovão” na equipe Willys e depois com os carros que homenageavam Christian Heins.

A bordo do Ford Escort #46, Luizinho cumpriu com honra o seu ‘canto do cisne’, terminando a disputa na 8ª posição em parceria com Lian Duarte.

Há 35 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Belo texto, Rodrigo. Quando vi a foto do Opala com o esquema gráfico da BASF me chamou muito a atenção. Eu tenho devidamente exposto na minha coleção uma dessas M1, mas a que correu em Le Mans. É a mesma da vitória do Nelsão em Nürburgring depois da bandeira vermelha, como você bem citou, mas a versão de Le Mans daquele ano quando o Hans Stuck pilotou o carro mas abandonou a prova. Na minha sincera opinião, deveriam escrever um livro com muitas fotos para contar a história do nosso automobilismo naqueles tempos, principalmente décadas de 60 e 70, por conta dessas categorias e equipes extraordinárias que passaram por Interlagos. Tem muita coisa que está apenas na cabeça de quem viveu aquele tempo e que precisam estar escritas no papel. Por acaso, alguém tem uma foto desse Escort dos 1000km de Brasília de 84?