Equipes históricas – Jordan, parte I

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Fazendo pose com um March de Fórmula 3 em 1979: Eddie Jordan descobriu-se melhor dono e chefe de equipe do que piloto, após desistir da carreira nos cockpits

RIO DE JANEIRO – Sim, leitoras e leitores. Sei que na enquete que fiz no Twitter deu Brabham. Que muitos queriam vista aqui contada a história da equipe de Jack Brabham. Mas vou atender o pedido de quem quis a outra escuderia e está iniciada a saga da Jordan Grand Prix aqui no blog.

O fundador da equipe é o “Peruca” Eddie Jordan, irlandês nascido em 1948 que foi piloto de competição – no mínimo abaixo da média – tanto que na temporada da Fórmula 3 inglesa disputada em 1979 e vencida pelo brasileiro Chico Serra, Eddie chegou em 11º lugar na classificação final com nove pontos somados. Mesmo com o apoio da Phillip Morris (leia-se Marlboro), não foi suficiente para a continuidade da empreitada a bordo dos cockpits.

Tanto que em 1981, aos 33 anos, ele se tornava dono de equipe. Seus primeiros contratados foram David Sears (o mesmo que depois também seria dono de equipe) e David Leslie. Na temporada seguinte, com James Weaver a bordo de um Ralt Toyota Novamotor, viu seu piloto terminar na 5ª posição. Em 1983, contratou Martin Brundle, egresso da escuderia de David Price, para disputar a Fórmula 3 inglesa naquela temporada. E seria o primeiro momento de brilho do irlandês como dono de equipe.

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A rivalidade entre Ayrton Senna e Martin Brundle, piloto de Eddie Jordan, foi o ponto alto da Fórmula 3 britânica em 1983

Porque Brundle foi uma pedra cascuda no caminho de Ayrton Senna, que vinha de campanhas extraordinárias na Fórmula Ford e era tido como o novo fenômeno do automobilismo mundial. A batalha entre Brundle versus Senna e, por tabela, entre a Eddie Jordan Racing e a West Surrey Racing, de Dick Bennetts, monopolizou aquele ano. Foram muitos os momentos de disputas férreas entre os dois pilotos e no acidente mais emblemático daquele ano de 1983, os dois terminaram com seus Ralt RT3 um sobre o outro. Martin venceu seis corridas e fez 123 pontos. Senna ganhou o dobro de provas e, com nove pontos a mais que o rival, foi campeão.

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Johnny Herbert conquistou o primeiro título de Eddie Jordan como dono de equipe em 1987

Jordan repetiria o vice como dono de equipe em 1984: o canadense Allen Berg não foi páreo para o Marquês de Bute Johnny Dumfries, que levou o caneco. Após Bennetts levar sua equipe novamente ao título com Maurício Gugelmin em 1985 e a conquista de Andy Wallace pela Madgwick Motorsports no ano seguinte, finalmente a sorte sorriria para a Eddie Jordan Racing em forma de título: Johnny Herbert foi o grande campeão da Fórmula 3 inglesa em 1987 – cinco vitórias em 17 etapas foram o bastante para o garoto de 23 anos à época derrotar Bertrand Gachot e Martin Donnelly, além de outros rivais como Damon Hill e Gary Brabham, ambos filhos de campeões do mundo na Fórmula 1.

O passo seguinte foi a Fórmula 3000 Intercontinental, categoria na qual a equipe já estava participando desde 1986. No primeiro ano, com nove pilotos se revezando nos March Cosworth do time, só Russell Spence fez pontos – na verdade, meio ponto, numa corrida interrompida em Birmingham, possivelmente por uma dessas porradas monumentais em circuitos urbanos. Na temporada seguinte, a EJR se segurou apenas meio ano tendo um único piloto, o sueco Tomas Kaiser, que conquistou como melhor resultado em 1987 uma 9ª colocação em Vallelunga, na Itália.

Obrigado, Ricardo Divila, por me corrigir e lembrar que a Jordan já estava entre F3 e F3000. Vamos em frente, pois.

Com o apoio da companhia tabaqueira RJ Reynolds, via Camel, Jordan montou um esquema para 1988 em que seu principal piloto seria o mesmo Herbert campeão da Fórmula 3 inglesa em 1987. O outro cockpit tinha o sueco Thomas Danielsson, que também vinha da F3. A equipe começou o ano com ares de favorita e Herbert venceu a primeira prova do campeonato em Jerez de la Frontera, apresentando armas. Depois, viriam dois abandonos, uma incrível desclassificação em Pau, na França e um 3º lugar em Monza. Após novo abandono na etapa de Enna-Pergusa, na Sicília, veio o enorme acidente aprontado por Gregor Foitek em Brands Hatch, na primeira volta daquela corrida.

https://www.youtube.com/watch?v=rlSo9MWZmq8

O saldo para Herbert foram múltiplas fraturas nas pernas, pés e tornozelos, no que foi um milagre dos médicos ao salvar seus membros inferiores para que o piloto pudesse voltar às pistas no ano seguinte pela Benetton, na Fórmula 1.

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Jean Alesi (adiante de Martin Donnelly) foi uma aposta que rendeu dividendos e mais um título à Eddie Jordan Racing, desta vez na Fórmula 3000

A equipe tinha um equipamento tão competitivo que Martin Donnelly, o substituto dos medíocres Danielsson e Alessandro Santin, disputou apenas cinco corridas e terminou o campeonato em 3º lugar, quatro pontos atrás do vice Olivier Grouillard. Para o ano seguinte, Donnelly ficou e veio Jean Alesi, que disputara o primeiro ano de Fórmula 3000 defendendo a Oreca. A troca foi perfeita: Alesi venceu três provas e já no meio do campeonato estava contratado pela Tyrrell para a Fórmula 1. Deu-se ao luxo de sequer disputar a última etapa e o vice Erik Comas acabou por igualar o compatriota em pontos – mas não em vitórias.

Nesse interim, Jordan já havia recrutado Gary Anderson, antigo mecânico da Brabham nos anos 1970, construtor do Anson de Fórmula 3 e engenheiro de Roberto Pupo Moreno na minúscula Bromley Motorsports em 1988 na mesma Fórmula 3000 – e que fora promovido a Designer Chefe da Reynard Racing Cars. Anderson começou a trabalhar em 4 de fevereiro de 1989 para Jordan, primeiro como engenheiro de pista de Martin Donnelly e depois como autor do mais ambicioso projeto de Eddie Jordan: um carro de Fórmula 1, com estreia prevista para 1991.

Rugby
Eddie Irvine foi o 3º colocado no último ano em que a equipe de Eddie Jordan tinha a sigla EJR e disputava apenas as categorias de acesso

Em 1990, a Fórmula 3000 permitia a inscrição de três pilotos por equipe e a Jordan contratou Emanuele Naspetti, o irlandês Eddie Irvine e o promissor alemão Heinz-Harald Frentzen. Só que HHF foi mal, Naspetti também não correspondeu e Irvine foi o único que ganhou corridas – uma, em Hockenheim. Terminou o campeonato em 3º lugar, atrás do campeão Erik Comas e do belga Eric Van de Poele.

Era a hora de começar uma nova aventura. A Eddie Jordan Racing mudava também de nomenclatura e passaria a se chamar Jordan Grand Prix no seu mais novo passo: a Fórmula 1. Assunto para o próximo post.

Comentários

  • Muito legal a história. Eu pelo menos não conhecia a história da Jordan pré-F1. Mas por que Jordan e não Brabham? Sei que não é democracia mas fiquei curioso… rs…

  • em relação a ordem das histórias: um bom exemplo de como a ordem dos fatores não alteram o resultado rs

    O resultado é sempre uma ótima história e muita informação.

  • Muito legal mesmo! Interessante trajetória, com triunfos nas categorias de acesso á F1…realmente eram outros tempos…hoje, mesmo na Europa, muita coisa minguou.

  • Sei que já foi comentado em postagens anteriores, mas não lembro de ter lido a sua opinião a respeito. Você já pensou em reunir tudo isto num livro? Acredito que entre os fãs do teu blog você consiga juntar todo o custo da tiragem inicial, via crowfunding. Pensa nisso. Parabéns pelos detalhes.

  • Muito bom.
    Mudando de assunto: poderia contar também sobre equipes históricas de outras categorias: Ecurie Francorchamps, Ecurie Ecosse, Tom Walkinshaw Racing, Equipe Hollywood, Equipe Camber, etc.

    • Não sei se vou fazer isso. A Fórmula 1 atrai muito mais atenção e sobretudo escrever esses posts requer paciência, pesquisa e tempo – que não tenho tido.

  • A passagem do Eddie para a Formula 3000 foi em 1986, quando fechei a minha equipe de F3 e F3000 e levei meu piloto Russel Spence e o patrocinador para a EJR, montando a equipe de F3000.

    Na nossa primeira corrida repartimos o quarto de hotel e quando descobri que acabou meu shampoo inocentemente pedi emprestado ao Eddie, sem saber da sua famosa peruca….