O brilho de Derani e da Tequila Patrón ESM nas 12h de Sebring

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O voo da águia: à noite, Pipo Derani foi espetacular, garantindo para a Tequila Patrón ESM, para ele e seus companheiros a 2ª vitória nas 12h de Sebring

RIO DE JANEIRO (Que maratona!) – Valeu – e muito – a pena ficar mais de doze horas no trabalho para a transmissão das 12h de Sebring em sua 66ª edição. O Fox Sports 2 exibiu três janelas ao vivo que, somadas, deram quase sete horas ao vivo. Afora poder acompanhar a recepção do sinal da corrida em sua totalidade, nos períodos em que o Endurance estava fora do ar.

Valeu a pena porque, mais uma vez, brilhou a estrela de um piloto que cada vez mais merece destaque entre os apaixonados pela velocidade. Pipo Derani foi espetacular e venceu pela segunda vez a clássica prova da Flórida, junto aos parceiros de Tequila Patrón ESM, Johannes Van Overbeek e Nico Lapierre – que também fizeram um belo trabalho e são igualmente merecedores de elogios.

Mas Derani tem aquele algo mais que diferencia o grande piloto dos outros. ‘Vestiu’ os Esporte-Protótipos como poucos e hoje tem lugar de destaque na modalidade. O lugar do garoto é o Olimpo, entre os grandes das provas de longa duração. A pouca idade – apenas 24 anos – o credencia a um imenso futuro pela frente.

A trinca do #22 da Tequila Patrón ESM deu à Nissan a primeira vitória da marca depois de décadas. A última vez havia sido em 1994, portanto há 24 anos, com o improvável Nissan 300ZX, em tempos onde os protótipos GTP que brilhavam na IMSA nos anos 1990 já tinham sido deixados para trás.

As 12h de Sebring foram repletas de alternativas do primeiro ao último momento e, em determinada oportunidade, comentei com o ‘doutrinador’ Edgard Mello Filho, que com suas histórias e conhecimento inquestionáveis abrilhantou nossas transmissões, que o placar dos Daytona Prototype International (DPi) estava em 3 x 1 para as marcas japonesas – Nissan, Mazda e Acura, contra a ianque Cadillac.

Mas os Acura ARX-05 DPi mostraram falhas. O #7 foi o primeiro a cair, depois de ter liderado, com um grave problema de injeção de combustível. Depois foi o #6, que se envolveu num incidente com outro protótipo e os danos se mostraram irreversíveis. O jeito foi baixar a crista e trabalhar para a próxima. Não se enganem: Roger Penske deve ter avisado a seus contratados que, apesar de ter muito potencial, o carro sofreria problemas nas provas longas neste início de campeonato.

A Mazda, após o incessante trabalho liderado por Ralf Jüttner e Reinhold Joest, mostrou evidentes progressos. O RT24-P eventualmente liderou em períodos de bandeira verde graças à boa autonomia de combustível, especialmente com o #55 do trio Jonathan Bomarito/Spencer Pigot/Harry Tincknell. Nas mãos do britânico, o protótipo apresentou a única falha: um problema no circuito elétrico fazia com que os faróis e lanternas não funcionassem com o carro em rotação baixa. No último pit stop, o carro ficou parado e não conseguiu voltar para a última relargada. Como efeito, Tincknell perdeu uma volta e o carro acabou em 6º lugar.

Em meio às bandeiras amarelas de praxe, houve dois incidentes que chamaram a atenção. Logo com 20 minutos de prova, o protótipo do colombiano Sebastian Saavedra rodou na temida curva 17, interminável e cheia de bumps. Frankie Montecalvo, com uma Ferrari da classe GTD, não teve como escapar e acertou o carro do sul-americano. Acabou ejetado na colisão com a roda dianteira direita do rival e capotou na colisão com a barreira de pneus, ficando com as quatro rodas para cima.

À noite, já no breu, houve o acidente mais violento da disputa, quando o pole position Tristan Vautier não conseguiu completar a curva 17 e bateu na barreira de pneus. O impacto foi tão violento que o Cadillac #90 da Spirit of Daytona decolou e deu um giro de 360º em seu próprio eixo. Os pneus que se soltaram na batida foram para o meio do traçado e o Acura de Tom Dyer, da equipe HART, colheu os destroços que ficaram espalhados pelo início da reta.

Voltando a falar da disputa, a campeã Wayne Taylor Racing salvou um importante 2º lugar, superando o carro #31 da Whelen Racing/AX Racing, que pelo visto não teve fôlego para brigar pela vitória. Felipe Nasr, apesar de não ter subido no topo do pódio, não tem do que se queixar. O brasileiro chegará a Long Beach como líder do campeonato com 62 pontos, ao lado do parceiro Eric Curran e do britânico Mike Conway – que só volta ao carro nas 6h de Watkins Glen.

Entre os LMP2, ótimo resultado da CORE Autosport, que chegou em 4º lugar com Colin Braun/Romain Dumas/Jonathan Bennett e o quinto posto do Ligier da United Autosports, pela qual correria Bruno Senna se não tivesse passado por uma cirurgia. A equipe britânica foi a última a completar as mesmas 344 voltas dos vencedores.

Já os vencedores de Daytona tiveram um fim de semana para apagar da memória. Com muitos problemas desde os treinos, a conexão luso-brasileira até conseguiu andar eventualmente entre os primeiros. Mas dois incidentes, o primeiro numa colisão entre Christian Fittipaldi e Felipe Nasr e outro – creio que com João Barbosa a bordo, com outro adversário – fizeram o Cadillac #5 da Mustang Sampling/AX Racing perder 20 voltas para terminar em 16º na geral – décimo na categoria.

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Após uma batalha ferrenha pela liderança, o triunfo da GTLM foi do Porsche do trio Tandy/Pilet/Makowiecki. Foi a 95ª vitória da marca de Weissach na Flórida

Na GTLM, foi muito bonito o duelo pela vitória. E no fim das 12h de prova, prevaleceu o construtor que mais vezes triunfou em Sebring, seja na geral ou em classes. A Porsche, 18 vezes vencedora no overall, subiu ao topo do pódio pela nonagésima-quinta vez, graças ao #911 de Nick Tandy/Patrick Pilet/Fred Makowiecki, completando em 10º lugar após 328 voltas e com somente 6″230 de vantagem para a BMW – que fez uma corrida excelente na segunda apresentação do modelo M8 GTE.

Partindo para uma estratégia diferente desde o primeiro momento, Connor De Philippi/Bill Auberlen/Alexander Sims fizeram uma sólida corrida e conquistaram o primeiro pódio do novo carro dos bávaros. A BMW foi enormemente beneficiada pelo BoP da IMSA para Sebring, mas o mérito dos pilotos em conseguir conservar o equipamento e terminar bem colocados também tem que ser considerado. A Porsche ainda comemorou o 3º posto da trinca Gimmi Bruni/Laurens Vanthoor/Earl Bamber, com uma ótima performance do neozelandês no trecho noturno.

A Ford não foi além do 4º posto após a contundente dobradinha em Daytona, com a Ganassi tendo o desprazer de ver o #66 do trio Dirk Müller/Joey Hand/Sébastien Bourdais parar no meio da pista completamente apagado – talvez por um curto-circuito no sistema elétrico do carro. A Risi Competizione liderou em vários momentos, mas a Ferrari #62 ficou em quinto e o único Corvette que conseguiu terminar no mesmo ritmo dos rivais acabou num modesto sexto posto – um início complicado para quem venceu a corrida ano passado de forma incontestável.

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Mais uma inédita para a conta: a Lamborghini ganhou pela primeira vez em Sebring, repetindo o feito de Daytona, em janeiro

A GTD, por seu turno, acompanhou mais um triunfo inédito da Lamborghini: o único representante da marca de Sant’Agata derrotou todos os demais 17 adversários e venceu com o “Angry Birds” da Paul Miller Racing guiado por Madison Snow/Corey Lewis/Bryan Sellers, após 321 voltas e o 17º lugar na geral. A briga pelo topo do pódio foi outra grande atração da disputa, com a Mercedes-AMG de Ben Keating/Jeroen Bleekemolen/Luca Stolz capitulando no final das 12 horas, perdendo também o segundo posto para a Ferrari de Cooper MacNeil/Alessandro Balzan/Gunnar Jeannette.

No final, a classificação geral apresentou sete marcas diferentes nas sete primeiras posições, pois o Audi R8 LMS da Land Motorsport chegou em quarto, seguido pelo Lexus RC-F GT3 #15 da 3GT Racing em quinto, o Porsche 911 GT3-R da Wright Motorsports em sexto e um dos Acura NSX-GT3 da Michael Shank Racing em sétimo.

Faltou a Ferrari #51 da Spirit of Race nesse balaio, mas o carro pole position, com uma performance brilhante de Daniel Serra nos treinos, teve um pneu furado logo na primeira volta, perdendo – de cara – duas voltas. Não foi possível recuperar a diferença por completo e o carro acabou com uma volta de atraso em relação ao vencedor de sua categoria, fechando em 28º lugar na geral e 12º na categoria. Pelo menos, diferentemente de Daytona, receberam a quadriculada final.

A próxima prova será o GP de Long Beach, num sábado – dia 14 de abril. Nessa prova, com 1h40min de duração, vão correr apenas os Protótipos e os carros da GTLM.

Para completar, deixo aqui o meu agradecimento final. Ao Fox Sports por ter acreditado que é possível transmitir 12h de automobilismo ao vivo. Aos companheiros Hamilton Rodrigues, Edgard Mello Filho e Thiago Alves pela transmissão em Sebring e pela parceria. Ao Teo José e ao Flavio Gomes, igualmente empenhados. A todos da parte técnica, coordenação, engenharia e demais integrantes da nossa equipe de redação e produção.

E parabéns ao Pipo e também ao Felipe Nasr, por mais uma vez mostrar que qualquer piloto brasileiro – desde que mostre talento de sobra e desprendimento para isso – consegue ser feliz sem estar na Fórmula 1.

Comentários

  • Cabe um elogio pela sua coluna..Vc faz uma apresentação de certas categorias simplismente fantastica…melhor do que ir na pista….
    Parabens. pelo seu profissionalismo muito bom…

  • Gostei muito da corrida principalmente do “comeback”(virada) do Mazda que em Daytona tiveram muitos problemas e do #10 da Wayne Taylor Racing que tiveram problemas no pneu traseiro de madrugada em Daytona aposto que com a P2 o Cadillac preto volta a briga do titulo na WeatherTech

  • Boa prova, como é 12h os caras sentam a bota mesmo.

    Grande resultado do Pipo, merecidíssimo depois do insucesso em Daytona!

    A BMW tem um início bastante promissor. Não é fácil um carro novo aguentar 12h naquele rali asfáltico e ainda chegar em segundo. O BoP os beneficiou mas, levando-se em conta que o carro é novo e pouco testado, nada mais justo, e devemos lembrar também que a RLL é uma baita equipe. A própria Aston Martin viveu de BoP por quase uma década (e ganhou Le Mans na temporada derradeira!) e a Porsche só é competitiva com o boxer aspirado porque os turbinados são capados na GTE/GTLM…

    Por outro lado, a Corvette preocupa, mas o carro já está obsoleto, é o mais antigo da classe. Podem retornar às vitórias com o carro novo, pois sabem o caminho das pedras como ninguém.

  • Parabéns à equipe do Fox Sports pelas 12 horas de transmissão de automobilismo ao vivo!
    Vocês são um canal realmente diferenciado para os amantes dos esportes a motor.
    Cansativo para vocês, mas em espetáculo para nós.
    Show!!!

  • Puxa, não pude assistir, estava em viagem de trabalho, e o hotel não tinha Fox…
    Lamentável.
    Mas fico feliz com a vitoria do Pipo. E do 991 também: a Porsche já merecia uma vitoria com esse carro, pra animar.
    Parabéns a Foz por ter “juntado” um time de automobilismo desse naipe !!!!

    Antonio

    • Antonio, quando não tiveres acesso a TV por assinatura, mas acesso a Internet, entre na página da IMSA e acompanhe pelo streaming oficial. Dependendo da prova e do local onde tu estiveres, ele está liberado.

  • Rodrigo,
    Parabéns a todos os envolvidos nas transmissões. Assisti a tudo e a todos, ouvi com atenção a todas as histórias e maravilhei-me com a endurance: a beleza dos carros, as disputas e a qualidade do espetáculo apresentado. Por tudo isso é que assino a FOX.
    Muito obrigado. Diney

  • Mais uma vez deixo aqui meus agradecimentos à todos os envolvidos na transmissão…vocês foram monstruosos…quanto ao Pipo, talvez venha dele, principalmente, a nossa esperança de uma vitória overall em Le Mans, porque não vai demorar para algum time LMP1 recrutá-lo para Le Mans, o moleque nasceu para a coisa. Aliás, temos talvez a melhor “safra” de pilotos para o endurance, porque, além do Pipo, tem o Bruno Senna. já campeão mundial de LMP2 e o Nasr, que muito rapidamente se ambientou ao endurance, e isso não é qualquer um que consegue.
    A briga foi linda também na GTLM, mas achei que tanto o Trovão quanto o Ford GT foram bem castrados pelo BoP, pois praticamente não se apresentaram para brigar pela ponta. BMW vai sim dar muito trabalho e Porsche certamente vai se basear nesta prova para tentar vencer Le Mans…
    A GTD teve um dos pegas mais sensacionais entre a Lambo e Mercedes (bem penalizada…), e depois da Ferrari com um Audi, o grid está grande e muito qualificado…enfim, o campeonato começou em 2014 cheio de desconfianças, polêmicas e alguns erros de regulamento que deixou muita gente insatisfeita, mas o que vemos hoje é um campeonato espetacular em todas as suas classes.
    Minha torcida é que o WEC encontre este mesmo caminho.

  • Vi toda a corrida, sem sombra de dúvidas uma grande corrida em todas as classes, pena que com o BoP da Imsa, os DPi estavam mais para LMP1 frente aos LMP2.

  • Parabéns aos profissonais que transmitiram a corrida pela fox sport2 belíssimo trabalho em especial ao Rodrigo, Edgar e ao Thiago fizeram um trabalho excepcional na transmissão, ao nosso piloto Pipo Derani só tenho a elogiar esse garoto fantástico ao assumir a parte final da corrida confesso que vivi momentos em que Airton Senna pilotava, botava faca nos dentes e partia pra cima, foi um fim de semana inesquecível e estarei sempre acompanhando esse campeonato até o final.

  • Rodrigo, parabenizo vocês pela maratona! Em tempos onde a unica coisa que se passa na TV é o maldito futebol, foi demais ver o empenho de vocês em colocar um dia todo de corridas. Aqui em casa a tv ficou ligada o dia todo, por mais que algumas vezes eu não estivesse assistindo. Valeu mesmo! Sobre o Pipo, ele vem andando de mais mesmo, mas não podemos deixar de lado o que vem fazendo nos últimos 2 anos o Daniel! Na vitoria em Le mans ele fez o recorde da pista na categoria, em Daytona uma volta voadora elogiada pelos gringos, e agora mais uma pole! Fora a stock, o titulo, vitorias e poles lá! O único “pecado” do Serra é não ter a mídia/marketing de outros pilotos, porque é um cara mais na dele! Mas o cara é um puta piloto, e logo logo as vitoria na gtd virão! Não podemos mais ignorar o que ele vem andando, e acredito que ele deva merecer mais destaque nos meios de comunicação…

    • Oi Paulo, obrigado por seu comentário. Concordo com suas observações sobre o Daniel. Ele é um piloto que não se preocupa com o marketing pessoal.

      Mas quem o conhece sabe que ele dentro da pista guia uma enormidade. Monstro.