Equipes históricas – Jordan, parte III

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A apresentação do carro para 1992 foi feita ainda com a pintura verde, remetendo o ano de estreia

RIO DE JANEIRO – O primeiro ano da Jordan Grand Prix foi espetacular para uma equipe estreante. Quinta colocada com 13 pontos no campeonato de 1991, a escuderia britânica tinha objetivos muito claros para sua segunda temporada – conseguir resultados tão bons ou até superiores em 1992. Desde que não tivesse que pagar pelos motores, principalmente os Ford, já que a Benetton não abria mão de ter motores melhores que as versões cliente.

Assim, Eddie Jordan costurou um acordo com a Yamaha para o fornecimento gratuito de motores. A campanha da marca dos três diapasões na categoria máxima era diametralmente oposta ao sucesso que desfrutava na Motovelocidade. Os japoneses falharam feio em 1989 com uma unidade V8 para a Zakspeed e, dois anos depois, retornaram com a Brabham – que só fez três pontos em 1991.

O motor era inclusive o mesmo: o OX99 de 3,5 litros de capacidade cúbica foi concebido com arquitetura V12 a 72º. Mais largo que o Ford V8, obrigou um novo trabalho de design a Gary Anderson, especialmente na seção traseira do novo carro.

Nos primeiros treinos, a Jordan andou com a pintura do modelo de 1991, ainda em verde, porém com o apoio dos cigarros Barclay. E já com os novos contratados: o italiano Stefano Modena, que fizera um campeonato bem razoável pela Tyrrell e o brasileiro Maurício Gugelmin, que saíra da Leyton House March após quatro temporadas repletas de percalços. Mais tarde, o “Peruca” costuraria um acordo com a petroleira Sasol, que estamparia seu nome na carenagem – que trocaria o verde pelo azul – nos anos seguintes.

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Usado pela Brabham em 1991, o motor OX99 V12 da Yamaha seria o propulsor da Jordan no segundo ano do time na Fórmula 1

O Jordan 192 tinha, além do novo – e pesado – motor, uma novidade: a transmissão de sete marchas era sequencial, como um câmbio de motocicleta. E o início do campeonato foi um pesadelo: de saída, Modena ficou de fora do GP da África do Sul, que voltava ao calendário após sete anos fora. Maurício Gugelmin classificou no 23º lugar do grid e se arrastou pela pista de Kyalami para terminar em 11º, duas voltas atrasado.

Na corrida seguinte, Gugelmin conseguiu um ótimo 8º lugar no grid e parecia que a Jordan tinha enfim reencontrado o rumo. Foi só impressão: o motor Yamaha apresentou problemas antes do fim da primeira volta. Modena largou do meio do pelotão e desistiu com problemas de câmbio.

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A Jordan teria uma temporada sofrível em 1992

O GP do Brasil claramente mostrou que a Jordan não estava ao mesmo nível de sua temporada de estreia. Os dois pilotos abandonaram com falha de transmissão – Gugelmin até conseguiu levar o carro ao 6º lugar durante a disputa – e em Barcelona, no GP da Espanha, Modena amargaria a segunda desclassificação em quatro corridas. No domingo da corrida, choveu muito e Maurício Gugelmin tentou levar seu carro até o final, até sofrer um acidente na 24ª volta e desistir.

San Marino foi uma honrosa exceção na primeira metade do campeonato. Mesmo largando de 18º, Gugelmin quase fez o primeiro ponto da equipe em 1992. Terminou a disputa em 7º lugar, no que seria o melhor resultado do brasileiro em toda a temporada. A caixa de câmbio de Modena, para variar, quebrou. Os problemas de transmissão e caixa de marchas se repetiram nas corridas seguintes – Mônaco e Canadá.

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O motor Yamaha era um desastre e a má temporada em 1992 marcou a despedida de Maurício Gugelmin e Stefano Modena da Fórmula 1

E quando não era o câmbio, era o motor que se revelava um desastre. Além de ser pouco potente e não permitir performance aos pilotos, começou a sofrer quebras. Foram três, nas etapas da França e Inglaterra. O calvário de Modena seguiu na Alemanha e o italiano foi eliminado do grid – pela terceira vez no ano – em Hockenheim. Gugelmin ainda foi 10º na Hungria e, um ano depois do mágico final de semana da equipe novata em Spa-Francorchamps, o máximo que Eddie Jordan viu seus pilotos alcançarem foi o 14º e o 15º lugares, com Maurício melhor que Modena. Ironicamente, a corrida da Bélgica em 1992 foi ganha por… Michael Schumacher.

As frustrações não paravam: Modena ficou fora de mais uma corrida, pela quarta oportunidade, em Monza. E quase que Gugelmin foi junto: o brasileiro largou da última posição do grid e abandonou por problemas de transmissão. E nas demais provas restantes até a Austrália, a sorte de Gugelmin não mudaria muito, com mais três abandonos.

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O italiano se despediu da categoria somando no GP da Austrália o único ponto da Jordan em 1992

Incrivelmente, Modena conseguiu alguns bons resultados nas corridas finais. Chegou em 7º lugar no Japão e em Adelaide, na última prova do ano, salvou a honra da Jordan ao ser o sexto e somar o único pontinho do time em 1992 – um desempenho que fez Jordan e Yamaha romperem o acordo e a equipe teria que buscar um novo motor para o ano seguinte.

E também novos pilotos, já que Stefano se despediu da categoria e rumou para o DTM, enquanto Maurício Gugelmin, sem conseguir um bom lugar para o campeonato de 1993, teria que esperar um pouco mais até voltar às pistas, o que aconteceria na Fórmula Indy.

No próximo post da série, contaremos os detalhes do campeonato de 1993.

Comentários

  • A Jordan penou demais mesmo em 92. Eddie Jordan tinha fechado 91 com pesadas dívidas(mesmo com os bons resultados, a equipe pagou o preço por ter feito “dumping´´ pra conseguir o patrocínio da 7-Up). e simplesmente não investiu no carro de 92 que praticamente incinerou a carreira de Stefano Modena(cujo ponto conquistado em Adelaide foi sequer comemorado pelo time) na F1 e encerrou a trajetória do Gugelmin lá(que depois soltou a frase de que a equipe estava lá só pra aumentar o patrimônio de seu proprietário).

  • Esse ano terrível da Jordan em 1992 simplesmente acabou com a carreira na Fórmula 1 do talentoso e outrora promissor Stefano Modena, e também com a do Mauricio Gugelmin, que se eu não estou enganado, só voltou a correr nas 500 milhas de Indianápolis, na Indy.

    Me chama a atenção como a carreira do italiano Modena simplesmente degringolou em um ano. De uma temporada bem honesta em 1991 na Tyrrell, com direito a pódio e a largar na primeira fila em uma corrida, para essa temporada horrorosa em 1992.

  • Realmente, 1992 foi uma temporada pavorosa da Jordan, depois de uma estreia muito boa. A opção em assinar com a Yamaha foi mesmo péssima, pois em 1991 a temporada da Brabham com esse motor já tinha sido um desastre.
    Mauricio Gugelmin não conseguiu espaço na F1, mas foi para os EUA e teve razoável participação na F-Indy. Fez a temporada de 1993 incompleta, se não me engano, mas chegou com o apoio da Souza Cruz, via a icônica marca dos cigarros Hollywood. Usava um conjunto Lola-Ford.
    Quando a Reynard lançou seu chassi para Indy daí em diante só guiou em equipes com esse chassi.

  • Mattar, o motor de 1989 era um V8 de 5 válvulas e não o mesmo utilizado em 1991 e 1992 – V12. Tinha pelo menos 60 cavalos a menos que os Judd e os Cosworth naquela temporada. Em 1993, houve uma união de Nakajima-Tyrrell/ com a Yamaha e a Judd. Os motores da marca japonesa de 93 a 96 foram um Judd v10 rebatizado. Já em 1997 e último ano era um motor Hart-Yamaha V10