Ceticismo

imagem_4

RIO DE JANEIRO – Todo mundo que me conhece sabe que baixei a guarda quanto à questão de um novo autódromo no Rio de Janeiro. Tive que me conformar com o fato de que é praticamente impossível que o substituto da inesquecível pista de Jacarepaguá venha realmente a existir. A novela Deodoro já se arrasta desde que o primeiro rastro de demolição se abateu sobre o terreno que virou um Parque Olímpico que, como se desconfiava, está praticamente abandonado.

Aos 47 anos, não me iludo mais. Fui vencido pelo cansaço e também pela descrença na palavra alheia, principalmente na de políticos. Em ano eleitoral, principalmente, promessas que não se concretizam ou são difíceis de se concretizar, tomam forma.

Não estou duvidando do trabalho sério do amigo jornalista Fred Sabino – que tem credibilidade suficiente para assinar a matéria que vocês podem ver aqui no Globoesporte.com – a apuração do colega foi excepcional.

Mas uma coisa é uma coisa… e outra coisa é outra coisa, como diz o filósofo contemporâneo.

Ter uma planta, um projeto de um circuito com 20 curvas e 5,386 km de extensão, é tudo o que se quer. É tudo do que o esporte a motor precisa no país, já que o que menos temos hoje são autódromos em condições. Além de Jacarepaguá, Brasília inexiste e Curitiba está sob constante ameaça de extinção.

Sem contar a insana e infeliz ideia de se transformar Interlagos em área residencial ou de exploração comercial – algo que a nova administração municipal pode começar a rever, após uma reunião em que esteve presente o presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Waldner Bernardo, o Dadai – sem contar Rubens Barrichello, com a autoridade de quem detém o recorde de participações em corridas de Fórmula 1, e os representantes da Comissão Interlagos Hoje, que vêm lutando pela sobrevivência da pista desde a primeira ameaça.

Mas da apresentação de um projeto – de Hermann Tilke, inclusive – até sua execução em si, a história é outra e envolve um dinheiro grande. A estimativa é de R$ 850 milhões de investimento, mas podem escrever que no país do superfaturamento, o valor pode ser quadruplicado. O que se gastou nos elefantes brancos da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 quebrou o país, mas encheu o bolso das empreiteiras e de quem lucrou – barbaramente – com os dois eventos.

Se eu quero ver um autódromo novo no Rio de Janeiro? Olha… não tenham dúvidas de que é um sonho. Mas eu prefiro ser cético e acreditar que tão cedo haverá o substituto de Jacarepaguá.

A menos que alguém realmente esteja disposto a fazer um investimento dessa natureza num Brasil alquebrado e num Rio de Janeiro (estado e município) sem nenhuma credibilidade política e financeira.

Comentários

  • Eu também não acredito.
    Mas, sonhar é gratuito.
    Mandem o seu Tilke passear e façam um circuito com traçado idêntico ao do antigo Jacarepaguá.
    Era excelente, com curvas de vários ângulos e desafios.

    • O problema é que um traçado como aquele só funciona em terrenos planos. Quem garante que planificarão Deodoro ou qualquer outro que tentarem fazer um autódromo?

  • Sei q, pelo q os autores falaram, o projeto envolveria dinheiro 100% privado.
    A questão é: e se fizessem um “circuito de rua” no q restou do antigo autódromo, ñ seria economicamente mais viável?
    Daria para transformar a parte externa em um oval? Pelo menos opção pra reber as provas da Indy.

  • Um investimento tão grande num autódromo teria de ter garantido a fórmula 1, Indy, MotoGP, Wec… e por aí vai… EU infelizmente não acredito que se concretize, apesar de o Rio merecer demais um autódromo deste porte. Aguardamos os próximos capítulos.

  • Caraca, impressão minha ou chupinharam pesadamente boa parte do primeiro setor de Suzuka (só que ao contrário) das curvas 14 à 20?

  • Agora sim, Rodrigo, no post correto!

    Levando-se em conta a batalha que tem sido enfrentada pelo pessoal do Circuito dos Cristais, em Curvelo/MG, não consigo vislumbrar, em termos econômicos/financeiros, a criação de um autódromo no Rio.

    Além de Jacarepaguá, Brasília e Curitiba, quem, por exemplo, vai à Belo Horizonte fica com nó na garganta ao ver o circuito do Mega Space subutilizado. É uma pista que já recebeu corridas regionais muito boas de se assistir.

    Sem automobilismo regional forte nunca existirá um automobilismo nacional forte.

    E o automobilismo brasileiro virou coisa de nicho.

  • O estado não tem dinheiro pra comprar um Dorflex.. fazer uma pista pra que?..
    Caramba.. o pais ta virando prostituta mundia.. nenguin chega..joga um AGA..e sai curtindo do povo..
    Arrumar as finanças.. arrumar o sistema educacional, saude, segurança, não aparece ninguem..
    Se assim ficar, em 6 anos o RJ vai ser o Favelão do planeta.. só tem muquifu e malaquias…rss

    • O dinheiro não sairia do estado. Mas, mesmo assim, quem vai investir tanto dinheiro no autódromo.

      Quanto ao resto, em parte concordo, em parte discordo. Defina “malaquias”, pois essa cidade tem gente honrada e trabalhadora.

      Favelão já é. Basta ver as Linhas Vermelha e Amarela, o horror que são.

      • malaquias..vem de Malas..
        Tipo.
        Nuzman.
        Cabral.
        Pézão(ele é pezão por parte de pai ou de mãe)..
        aquele prefeito..que não vale um litro de esgoto..
        Rj.pode ter pessoas boas..mas..olhe.
        Fujam do RJ…

  • Infelizmente é mais uma falácia para acalantar bovinos… Como mineiro, confio desconfiando…
    Não será tão cedo que se verá um autódromo no Rio de Janeiro. Mesmo não havendo, a princípio, dinheiro público na construção da pista, quem for tocar a obra vai pedir uma ajudinha para o Poder Público (municipal, estadual e federal) e aí lá vai dinheiro dos impostos que pagamos até enquanto dormimos pra bancar a brincadeira…
    O esporte a motor, seja com duas ou quatro rodas, precisa ser revisto e repensando em todos seus aspectos e nuances neste país, pois caminha-se a passos largos para a extinção… É um esporte caro, sem dúvidas, mas esse papo de crise econômica já subiu no telhado, pois pra mim é muita falta de visão, organização e uma cultura automobilística mais madura. Vejam, por exemplo, a Argentina: há tempos a economia lá patina, mas eles tem pelo menos uns dez autódromos ativos, tem mais competições (principalmente de turismo, como o SuperTC e o Turismo Carretera) e sediam uma etapa do Mundial de MotoGP e olha que depois de Fangio, que foi pentacampeão da F-1 na década de 1950, o esporte a motor lá não desmoronou ante a mingua de um campeão numa categoria internacional até os títulos de Pechito Lopez no finado WTCC. A cultura do esporte a motor é forte e formada lá.
    E aqui?? O que nos falta??

  • Dificilmente vai sair do papel, tanto por conta da situação financeira do estado do RJ (ainda que digam que não entraria $$ público…), quanto pela vontade e seriedade com a qual o esporte a motor é tratado no pais atualmente.
    Exemplos não faltam…Brasília, que receberia a etapa de abertura da Indy de 2015, tá ai inutilizado até hoje…

  • Depois das ultimas notícias, ainda acha impossível o autódromo em Deodoro?
    Só não gostei do nome sugerido. Gostaria que permanecesse Nelson Piquet. O outro nunca foi nada para o RJ.