30 anos de Senna, parte IV – GP do México

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Foto da volta de apresentação: o GP do México seria mais um solo da McLaren e Prost, novamente, conseguiu um resultado melhor que Senna

RIO DE JANEIRO – Esfriar a cabeça após o que aconteceu em Mônaco? Para alguém tão competitivo quanto Ayrton Senna, só ganhando a quarta etapa do campeonato, o GP do México. A corrida era a primeira de um total de três na incursão da Fórmula 1 pela América do Norte, antes da volta às corridas na Europa.

Um ponto a favor não só para ele como para todos os pilotos com motores turbo é que o ar rarefeito ajudava na potência, enquanto para os carros de motores aspirados, a perda seria grande, em torno de 20% da potência. Era como se esses propulsores – Cosworth e Judd – voltassem aos tempos idos em que debitavam 480 HP. Se já estava difícil nas corridas anteriores, no México seria ainda pior.

A pista do Autódromo Hermanos Rodriguez não era – e nunca foi – uma mesa de bilhar. Tinha como atração a veloz curva Peraltada, da entrada da reta, em que um bom apex era importante para sair lançado rumo à longa reta dos boxes. No treino de sábado, faltavam 12 minutos para o fim da sessão, quando o francês Philippe Alliot, um mais do que razoável 13º colocado no grid, sentiu na pele a dor de errar a saída da última curva da pista.

Ao perder o controle do Lola-Larrousse #30, Alliot foi lançado de encontro ao muro dos boxes a mais de 250 km/h. Com uma violência incomum, o piloto bateu na mureta e capotou, várias vezes, parando com o carro completamente destruído. Felizmente, a célula de sobrevivência salvou o francês.

Na tomada de tempos, Senna marcou 1’17″468 e conseguiu quebrar o recorde da pista em mais de um segundo, alcançado por Nigel Mansell um ano antes com os carros ainda com a válvula pop-off abrindo para mais pressão do turbo. Alain Prost até que tentou, mas ficou a seis décimos e com Gerhard Berger nos seus calcanhares.

Na Pré-Qualificação, Stefano Modena foi excluído por conta de uma irregularidade técnica, enquanto no treino oficial, Jonathan Palmer (quinto na corrida anterior) encabeçava a lista dos quatro que ficavam fora, junto a Nicola Larini, Julian Bailey e Adrián Campos – que nesse fim de semana recebeu o aviso prévio da Minardi. A corrida do México marcava a estreia de Bernd Schneider, que fez o 15º tempo com a Zakspeed.

A corrida teria 68 voltas, mas seu total foi reduzido a 67 porque dois pilotos deixaram morrer seus motores após a volta de apresentação: Alessandro Nannini, o melhor do grid entre os carros com motores aspirados e… Philippe Alliot, cuja equipe conseguiu reconstruir o Lola-Larrousse para que pudesse largar. Pena que a corrida do francês durou somente uma volta.

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Senna foi o pole nos treinos, mas um problema de lag no turbo arruinou suas chances logo na largada. Depois, descobriu-se que a válvula pop-off era defeituosa e Ayrton não pode acelerar o que devia para se aproximar de Prost

Na largada, os planos de Senna foram por água abaixo. Quando engatou segunda marcha, a válvula pop-off abriu e o lag do turbo fez o motor Honda perder potência. Prost assumiu a ponta e Ayrton chegou a ser ultrapassado por Nelson Piquet, numa rara boa largada do então tricampeão mundial. Logo na primeira volta, Senna restabeleceu a verdade e deixou a Lotus #1 para trás. Satoru Nakajima fez um início de corrida espetacular, saltando para quarto, à frente das duas Ferrari.

Com cinco voltas, Senna está a três segundos de Prost, enquanto Nakajima, já deixado para trás pelas Ferrari, vê Piquet resistir na terceira colocação ante a pressão de Berger. No início da disputa, destaque para Bernd Schneider, 11º colocado com um carro que ainda não havia se classificado para nenhuma corrida em 1988.

O vácuo no longo retão do circuito permite a Berger, após algum tempo, ultrapassar a Lotus e ganhar do brasileiro a 3ª posição. Com 10 voltas, Prost tem cinco segundos para Ayrton e a Ferrari #28 vem longe, a 17 segundos. Piquet segue em quarto, com Alboreto à frente de Nakajima, vindo a seguir as Arrows de Derek Warwick e Eddie Cheever e as duas Benetton, com Alessandro Nannini e Thierry Boutsen próximos um do outro.

No fundo do pelotão, as Williams se debatem com a perda de potência dos seus Judd V8. Nigel Mansell anda em 17º lugar e Riccardo Patrese em décimo-nono. Logo depois, o líder Prost perde tempo ultrapassando o grande bloco de retardatários, entre eles Mansell e Patrese, sem contar Streiff, Dalmas, Ghinzani, Caffi, Arnoux, Johansson e Tarquini.

Na 14ª volta, um acidente acaba com a corrida de René Arnoux e Alex Caffi – e os problemas se sucedem. Um superaquecimento acaba com a boa estreia de Schneider. Patrese desiste logo depois com o motor completamente mudo em sua Williams.

Prost começa a rodar abaixo de 1’21”, enquanto Senna não perde tempo ao superar a AGS de Streiff e a Lola-Larrousse de Dalmas. Cheever e Warwick continuam andando juntos em sétimo e oitavo, com Alessandro Nannini lutando de igual para igual com as Arrows de motor Megatron (BMW) turbo. Thierry Boutsen sofre com um carro muito dianteiro e perde o contato com o italiano.

A primeira mudança entre os seis primeiros ocorre após a 27ª volta, quando estoura o motor Honda de Satoru Nakajima. Na dianteira, implacável, Prost baixa seus tempos de volta e mantém Senna sob controle. Quando o francês marca 1’19″907, Ayrton logo responde e crava 1’19″846. Mas a diferença no cronômetro oscila mais a favor do francês que do brasileiro.

Após a metade da corrida, a dupla líder deixa para trás os dois Arrows, o que significa que além de Prost e Senna, somente Berger, Piquet e Alboreto estão na mesma volta das McLaren. Prost começa uma sequência de voltas rápidas – a despeito dos pneus usados – que impede a aproximação de Ayrton. Alboreto ensaia o ataque a Piquet, mas sua Ferrari começa a sair de frente e o italiano se conforma com a 5ª colocação.

Na guerra de cronômetros que se seguiu nas 25 voltas finais, Alain foi de uma regularidade irritante. Num trabalho de formiguinha, começou com 1’19″352 e foi de novo rápido pouco depois, com 1’19″294. Nessa altura, Senna estava a sete segundos, recuperando alguns milésimos em relação ao líder nas passagens seguintes.

Tarde demais: o GP do México era de Prost. O francês voltou à carga e cravou 1’18″907, melhorando duas voltas mais tarde para 1’18″608. Senna fez o que pôde para conseguir 1’18″776 e marcar sua volta mais veloz na disputa. Mas com os pneus já desgastados em excesso, o brasileiro resolve maneirar no ritmo.

Após uma boa prova que o levou ao oitavo posto, De Cesaris é obrigado a abandonar com problemas de transmissão. Pouco depois, Berger vê acender no painel de sua Ferrari a luz de alerta de falta de gasolina. Mas como ainda havia combustível de sobra nos reservatórios, concluiu-se que era um problema no indicador, que deu pane.

Piquet perde rendimento em sua Lotus e um pistão se despede do motor Honda. O brasileiro abandona a corrida e Alboreto herda enfim o quarto lugar, levando uma volta de Prost a menos de 10 voltas para o final.

E nada mais acontece no GP do México, inteiramente dominado por Alain Prost, que vence sua terceira corrida no ano e a 31ª da carreira, com sete segundos para Senna e Berger, a mais de 57 segundos do francês, é o único além dos pilotos da McLaren a completar 67 voltas. Alboreto, Warwick e Cheever fecham os seis que pontuam. Curiosidade: nas oito primeiras posições, quatro equipes em pares: McLaren, Ferrari, Arrows e Benetton.

Já eram 33 pontos – de 36 possíveis conquistados por Prost após quatro etapas. Com quinze, Senna ainda vinha atrás de Berger – mas sabia que tinha totais possibilidades de reverter o quadro até ali desfavorável. O placar de vitórias? Prost 3 x 1 Senna.

A guerra estava declarada. E Ayrton viu que, para ser campeão, era preciso derrotar quem estava na mesma trincheira que ele.

Próximo post – Canadá.

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