30 anos de Senna, parte X – GP da Hungria

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Após vitórias em sequência de Nelson Piquet nas duas primeiras provas disputadas na Hungria, a missão de Ayrton Senna era manter o predomínio dos brasileiros em Budapeste

RIO DE JANEIRO – Realizado pela terceira vez, o GP da Hungria era um feudo de Nelson Piquet nas duas primeiras edições. O então tricampeão mundial vencera em 1986 com direito a uma manobra de ultrapassagem até hoje celebrada e também em 1987, por conta de uma porca de roda saltitante do carro de Nigel Mansell.

Na visita prevista para 1988 no circuito do Hungaroring, não havia chance alguma para Piquet – porém existia um certo Ayrton Senna que vinha de duas vitórias seguidas e queria a terceira, para pôr uma pimenta no Mundial de Pilotos, até então liderado por Alain Prost por três pontos.

O circuito magiar ainda estava em sua primeira versão com 4,014 km de extensão e trechos muito lentos e sinuosos. Quase um Mônaco sem casas, como diria Martin Brundle, que à época estava fora da categoria. Mas se era assim então, Ayrton Senna mostrou que o negócio era passar por cima dele. Fez a oitava pole em 10 corridas, com 1’27″635 e um décimo de vantagem sobre – ora vejam! – Nigel Mansell.

A pista travada era uma delícia para os motores aspirados e surpresas viriam com o 3º lugar de Thierry Boutsen e o quarto de Ivan Capelli. Alain Prost ficou apenas em sétimo, dividindo a quarta fila com Maurício Gugelmin e a 1″143 de Senna nos treinos oficiais. As Ferrari ficaram em nono com Berger e décimo-quinto apenas, com Alboreto. A Osella de Larini dançou na pré-qualificação (realizada com chuva, inclusive) e nos treinos oficiais, Oscar Larrauri, Julian Bailey e as duas Zakspeed ficaram chupando dedo.

Prost fez no warm-up o melhor tempo, sinal de que tinha carro para poder tentar brigar lá na frente, já que no treino oficial as coisas não deram certo. E quase que Senna é surpreendido no pulo inicial por Mansell: a Williams larga melhor que a McLaren, mas o brasileiro tem a preferência da curva e assume a dianteira do GP da Hungria.

Por conta da melhor resposta do motor Honda Turbo, Ayrton consegue manter-se líder, mas Mansell é uma sombra incômoda nas curvas de baixa e nos trechos travados. Graças a problemas crônicos do March de Ivan Capelli, Prost sobe para a 6ª posição.

Na 11ª volta, Ayrton ainda lidera, mas Mansell não o deixa escapar. Riccardo Patrese está a menos de um segundo do brasileiro, com Thierry Boutsen em quarto, Alessandro Nannini em quinto e Alain Prost em sexto. O inglês tenta a manobra na passagem seguinte sobre Ayrton, mas se dá mal e roda de forma espetacular com seu carro. Nigel cai para quarto, atrás de Patrese e Boutsen.

O ritmo de Ayrton é moderado – também pudera: o risco de pane seca é elevado e os engenheiros da Honda já o haviam alertado dessa possibilidade, ainda mais com o limite de combustível a 150 litros. Isto faz com que Patrese e Boutsen consigam se aproximar do líder da prova, enquanto Prost, que já havia se livrado de Alessandro Nannini, vinha em quinto no encalço de Mansell.

Algum tempo depois, Luis Perez-Sala ignora os espelhos retrovisores – sem contar as bandeiras azuis – e não cede passagem a Senna. O piloto da McLaren perde praticamente meia volta tentando dobrar o espanhol da Minardi, permitindo que o pelotão que vem atrás de si novamente se aproxime. Na 28ª volta, Prost faz uma manobra arriscada de ultrapassagem sobre Mansell. No fim da reta, por fora, o francês sobe para o quarto posto.

Com uma disfunção de eletrônica, o motor Judd da Williams de Riccardo Patrese impede o italiano de brigar pela liderança. Isto deixa Thierry Boutsen atrás do rival e amigo Senna, com Prost já em terceiro. O italiano segue na pista, porém ultrapassado por vários adversários, sai da zona de pontuação do GP da Hungria.

Metade das 76 voltas previstas: Senna tem dois segundos sobre Boutsen e Nigel Mansell entra para colocar pneus novos. O britânico volta em 7º atrás de Michele Alboreto, enquanto Prost começa a pôr devagarinho as manguinhas de fora – faz a volta mais rápida em 1’30″763. O consumo de gasolina do carro do francês está sob controle, o que lhe permite entrar no modo de ataque.

Ayrton tem problemas para superar a Arrows de Eddie Cheever, que está em nono. Boutsen ameaça um ataque a Senna, mas o belga não tem fôlego suficiente para tentar ganhar a liderança. Prost percebe essa fraqueza da Benetton e supera o carro #20 no início da 47ª volta.

O francês parte ao encalço do brasileiro e reduz a diferença pouco a pouco. Nisso, os dois dão de cara na última curva do circuito com dois retardatários: Gabriele Tarquini, da Coloni e Philippe Alliot, da Lola-Larrousse. Enquanto este tem problemas de câmbio, Tarquini consegue vir um pouco mais lançado para descer a reta, deixando somente a linha interna para Ayrton Senna.

Nisso, Alain mergulha também por dentro, quase formando um três lado a lado, vislumbrando a ultrapassagem. Consegue, por alguns metros, passar à frente do carro de Senna, numa manobra que – guardadas as proporções devidas – lembra Piquet versus Senna em 1986. Mas Prost não é Piquet e não sustenta a dianteira no contorno da curva. Ayrton volta ao primeiro posto.

Alain não desiste. Faz de novo a melhor volta em 1’30″639 e não deixa Senna fugir. Boutsen é terceiro, a quase quatro segundos das duas McLaren. Mas depois de tanto forçar, seu carro começa a ter problemas de vibração em decorrência de um pneu dianteiro esquerdo excessivamente mais gasto. A travada de rodas ao tentar passar o brasileiro custou caro…

A menos de dez voltas para o fim, o líder ainda tem sobra de equipamento. Faz uma volta abaixo de 1’31” e relega Prost a seis segundos. Boutsen e Berger estão sólidos em suas posições e são os únicos ainda na mesma volta dos líderes. Um segundo pit stop de Nigel Mansell deixou Maurício Gugelmin num ótimo 5º lugar, seguido por Riccardo Patrese, apesar do mau comportamento de seu motor Judd V8.

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Ayrton resistiu aos ataques de Prost e no final o francês ainda ensaiou um último bote. Ficou a meio segundo – apenas – do vencedor

No final, mesmo com todos os problemas, Prost ainda ensaia uma aproximação. Dá tudo de si, mas é insuficiente. O francês cruza a pouco mais de meio segundo do vencedor – pela terceira vez seguida na temporada de 1988. E não é uma vitória qualquer: com os nove pontos no Hungaroring, Senna empata com Alain nos mesmos 66 pontos. Só que aquele bom placar de vitórias aponta 6 x 4 para o brasileiro.

Próximo post – GP da Bélgica.

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