Tarquini, o interminável

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RIO DE JANEIRO – Aos 56 anos, Gabriele Tarquini prova que ainda é possível ser competitivo no automobilismo, apesar da idade que muitos considerariam de piloto gentleman driver ou de semiaposentado. O piloto da equipe BRC Racing Team conquistou no último fim de semana o título da temporada 2018 do WTCR, campeonato criado para substituir o WTCC – e que foi um sucesso ao longo de 10 finais de semana e 30 baterias disputadas em quase todos os continentes do planeta – vencidas no total por 15 pilotos diferentes.

Tarquini venceu cinco vezes e fez uma primeira metade de campeonato sólida, forte e competitiva. Apesar dos vacilos nas provas finais, venceu quando mais interessava, na prova que dava mais pontos em Suzuka, no Japão. Em Macau, no Circuito da Guia, o veterano embolsou um 4º posto na primeira prova disputada no último sábado, mas o dia seguinte teve contornos dramáticos para ele, quando se envolveu num enrosco em que o parachoque do seu Hyundai i30 N TCR foi arrancado por outro adversário.

Sem pontos na prova #2 e largando de 14º lugar, o italiano precisava torcer para que Yvan Muller, noutro Hyundai, não descontasse a diferença que os separava antes da última prova. Com cinco carros largando à sua frente, já que ocupava o 6º lugar no grid, era humanamente impossível para Yvan que o quadro fosse revertido – exceto em caso de enrosco entre os líderes.

O argentino Estebán Guerrieri queria fazer história e tornar-se o primeiro piloto do país a vencer em Macau. Resistiu à pressão de Rob Huff, considerado o melhor piloto a guiar carros de Turismo no Circuito da Guia. E venceu a prova. Jean-Karl Vernay, que vinha em 3º lugar, bateu sozinho e deixou Yvan Muller em quarto. Com Tarquini em décimo, o francês precisava ainda tirar mais pontos. Não foi suficiente, pois o Cupra do húngaro Zsolt Szabo bateu na última curva e o Safety Car entrou para não mais alterar as posições. Com apenas três pontos de vantagem (306 a 303), Tarquini era o primeiro campeão do WTCR.

Por isso, a tamanha vibração e alegria de um piloto que esperou nove anos para celebrar um novo título na carreira e que, se não foi feliz na Fórmula 1, em que esteve presente a bordo de verdadeiras “cadeiras elétricas”, soube se reinventar no esporte.

“Ganhei o título da forma mais difícil”, admite. “Errei no qualifying. Larguei em 14º por culpa toda minha. Sabia que as coisas poderiam acontecer na primeira volta e no domingo, na primeira prova do dia, já tinha passado alguns carros quando alguém bateu à minha frente e eu tive que praticamente parar na curva Lisboa. Bateram em mim e destruíram a traseira do meu carro”, disse o campeão.

“Na última etapa, eu sabia que se conseguisse passar inteiro na primeira volta, 50% do que eu tinha que fazer pra levar o título estava feito. Superei uns três caras na primeira volta, apesar de ter feito a pior largada da minha carreira. Foi uma corrida dura porque (Thed) Björk deu muito trabalho. Mas o carro estava até melhor que na véspera. Foi muito difícil. Teria sido melhor se fosse fácil, é claro. Mas tudo enfim deu certo”, comentou Tarquini.

Ao todo, 44 pilotos disputaram pelo menos uma prova da temporada 2018. Entre as equipes, a BRC Racing Team levou o título com oito pontos de vantagem sobre a M.Racing-YMR, com a Münnich Motorsport em 3º lugar, seguida pela Sébastien Loeb Racing e pela Audi Sport Leopard Team WRT.

A classificação final do WTCR:

1. Gabriele Tarquini (campeão) – 306 pontos
2. Yvan Muller – 303
3. Esteban Guerrieri – 267
4. Norbert Michelisz – 246
5. Jean-Karl Vernay e Pepe Oriola – 245
7. Thed Björk e Rob Huff – 242
9. Fréderic Vervisch – 228
10. Yann Ehrlacher – 204
11. Aurélien Comte – 191
12. Mehdi Bennani – 155
13. Gordon Shedden – 122
14. Kevin Ceccon – 102
15. Nathanaël Berthon – 79
16. Denis Dupont – 69
17. Aurélien Panis – 55
18. Mat’o Homola e Benjamin Lessennes – 48
20. Dániel Nagy e James Thompson – 36
22. Timo Scheider e Tom Coronel – 24
24. Fabrizio Giovannardi – 19
25. Norbert Nagy – 18
26. John Filippi – 14
27. Petr Fulin – 13
28. René Rast – 10
29. Luigi Ferrara – 8
30. Ma Qing Hua – 7
31. Zsolt Szabó – 4

Comentários

  • Gabriele Tarquini é uma lenda do esporte a motor, admirável sua eterna disposição.

    Quem sabe, algum dia, o WTCR não venha realizar uma etapa por aqui?

      • Felipe,

        As provas do WTCC no Brasil foram realizadas em Curitiba, mas depois da saída, e da mudança de nome/regulamento da categoria, as perspectivas de retorno são baixíssimas (o que é lamentável).

        A torcida pelo retorno permanece, e não me parece faltar praças no Brasil tecnicamente capazes de receber o evento.

  • Muito legal caras como o Tarquini e o Zanardi.
    Imparáveis como você bem sintetizou.
    Com fogo nos olhos.
    Pena que essa fome de competição não seja a regra.
    Já pensou quantos caras legais poderiam estar acelerando mundo afora?

    • Uma pena por exemplo o Scott Pruett ter se aposentado nos EUA e o Stefan Johansson ser apenas um competidor eventual. Essa turma perto dos 60 anos deveria ainda estar nas pistas.

      Um que eu acho que vai andar além dos 50 anos é o Barrichello.

      • Concordo sobre a possível longevidade de Barrichello, e reconheço o enorme talento dele com os carros.

        Fico com a impressão que a “birra” com Barrichello se deva menos às suas qualidades técnicas, e mais com as atitudes que adotava no período em que correu na F-1. Tivesse ele guiado entre a década de 1970 e a primeira metade da de 1980, a história talvez tivesse sido outra.