Direto do túnel do tempo (430)

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RIO DE JANEIRO – Dia 29 de janeiro de 1978. Naquela data, estreava na Fórmula 1 uma escuderia que ficaria na categoria máxima por mais de duas décadas e carregaria a sina de maior perdedora da história: a Arrows.

Fundada por dissidentes da Shadow, seu nome era um acrófono dos sócios-proprietários:  Franco Ambrosio, Alan Rees, Jackie Oliver, Dave Wass e Tony Southgate.

Ambrosio era o patrocinador da escuderia estadunidense – e depois seria envolvido em diversos “rolos”, entre os quais a suspeita da morte do Papa João Paulo I. Rees e Oliver – ambos antigos pilotos de Fórmula 1 – assumiam a direção. Wass era o auxiliar de projetos e Southgate o desenhista.

Além da questão da deserção, a Arrows protagonizou outra grande polêmica.

Regazzoni_DN9_Jarama_1978

Como Southgate era o projetista da Shadow e ele levou todos os desenhos para a nova equipe, o carro que concebeu para 1978 – que recebeu a sigla FA1 – era IGUALZINHO ao Shadow DN9. Don Nichols, furibundo com seus ex-empregados, entrou na justiça. Causa ganha: a Arrows foi acusada de plágio e teve que se socorrer de um novo modelo para a reta final daquele campeonato.

A nova equipe teve também outros problemas. Talvez o maior deles tenha sido a doença do sueco Gunnar Nilsson, contratado para ser o companheiro de Riccardo Patrese. Ao terminar o campeonato de 1977 pela Lotus, Nilsson descobriu-se com câncer nos testículos. Teve que se retirar das pistas para fazer quimioterapia – e morreria logo depois da tragédia envolvendo Ronnie Peterson em Monza.

Como vocês viram na foto acima, o Arrows FA1 estreou no GP do Brasil – o carro não ficou pronto a tempo para o GP da Argentina, duas semanas antes – pintado inteiramente de branco e com adesivos da saudosa Varig, tal como na apresentação numa Silverstone coberta por neve.

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Riccardo Patrese fez o 18º tempo – 1’43″19, entre 24 pilotos aptos a largar em Jacarepaguá, que recebia sua primeira corrida de Fórmula 1. Sob um calor senegalesco, bem semelhante ao do verão carioca em 2019, o italiano levou o carro até o final, chegando em 10º lugar, a quatro voltas de Carlos Reutemann.

Na segunda corrida do time, o carro já era competitivo a ponto de Patrese liderar em Kyalami, na África do Sul. O primeiro ponto veio em Long Beach e o primeiro pódio, na Suécia – já nas cores douradas da cerveja alemã Warsteiner, que passou a patrocinar a equipe a partir da etapa sul-africana.

Mas a Arrows nunca venceria uma corrida, nem mesmo quando mudou de nome entre 1991 e 1996, passando a se chamar Footwork – tampouco quando foi absorvida por Tom Walkinshaw. Foram 382 GPs disputados e nove pódios – por quatro vezes a equipe chegou em 2º lugar, a última delas com Damon Hill, em 1997.

A Arrows teve seu fim antes mesmo do campeonato de 2002: o GP da Alemanha foi a última corrida da escuderia, que à época tinha os pilotos Enrique Bernoldi e Heinz-Harald Frentzen.

Há 41 anos, direto do túnel do tempo.

 

Comentários

  • Tava lá na arquibancada de Jacarepaguá na estreia desse Arrows branco com patrocínio da VARIG. Uma coisa que me chamou a atenção foi o barulho do Cosworth do carro; parecia um caminhão! Bem diferente dos demais equipados com o mesmo V8…