Polêmicas e surpresas na lista final das 24h de Le Mans

RIO DE JANEIRO – O Automobile Club de l’Ouest (ACO) fechou hoje a lista de 60 competidores titulares e as dez suplências para a disputa das 24h de Le Mans 2019. Com poucas vagas – apenas catorze – a se distribuir, os franceses tiveram dor de cabeça na elaboração da relação. E não faltam críticas à escolha do Comitê de Seleção.

Dessas vagas que hoje foram enfim preenchidas, metade são da LMGTE-PRO, com quatro equipes da IMSA. A Ford Chip Ganassi Racing me surpreendeu positivamente. Acreditei que, por conta da possibilidade do fim do projeto do seu modelo GT EcoBoost, em detrimento de um investimento na DPi da IMSA e também na Fórmula E, a marca do oval de Detroit não teria mais do que seus dois carros do Mundial de Endurance. Pois queimei a língua: vão os dois bólidos dos EUA, já com trios definidos – Joey Hand/Dirk Müller/Sébastien Bourdais e Richard Westbrook/Ryan Briscoe/Scott Dixon.

Já com seus pilotos anunciados, a Porsche também irá para a prova de La Sarthe com quatro carros – os dois do WEC e os dois do time dos EUA, cujo running é da CORE Autosport. Claro, a Corvette Racing não poderia ficar de fora: também já tem trios confirmados, com Antonio Garcia/Jan Magnussen/Mike Rockenfeller e Oliver Gavin/Tommy Milner/Marcel Fässler.

A Risi Competizione traz uma terceira Ferrari, o que é outra surpresa: o time de Houston anunciou o veteranaço Stéphane Ortelli ao lado do alemão Pierre Kaffer nessa inscrição que fecha o total de 17 LMGTE-PRO no grid.

Aliás, os Grã-Turismo são maioria absoluta, pois na LMGTE-AM, o total será de dezoito, o maior do lote. Quinze carros já estavam confirmados em fevereiro. A CarGuy, do Japão, também está entre os titulares. E duas equipes garantiram inscrições suplementares: a Spirit of Race teve êxito ao encaixar sua segunda Ferrari, que será vista no ELMS e a Kessel Racing, ora vejam, se garantiu também entre os titulares.

Aí foi uma indicação do Comitê de Seleção que tem razoável dose política. Esse carro é o que tem apoio da FIA, que tem um projeto de motorsport para o sexo feminino, que estará também ao longo de todo o campeonato do European Le Mans Series. Rahel Frey, Michele Gatting e Manuela Göstner estão confirmadas para fazer parte do tandem 100% composto por mulheres na prova francesa.

E poderia haver um segundo, já que a Michael Shank Racing (ou Meyer Shank Racing, se quiserem) enviou um dossiê de inscrição com o objetivo de colocar um protótipo LMP2 só com pilotos mulheres. Acabaram não tendo êxito, já que o ACO deu apenas a nona suplência ao time dos EUA.

As decisões políticas desagradaram várias equipes, até porque a LMP2 ficou com as poucas vagas restantes – eram cinco – e não houve como acomodar times que, por merecimento absoluto, poderiam estar na prova até com dois carros. Foi o caso da United Autosports, campeã no Asian Le Mans Series, prometida no WEC para 2019/20 e que vem investindo pesado – foram 11 carros em três certames do ACO: o time de Richard Dean e do CEO da McLaren na Fórmula 1, Zak Brown, acabou ficando com apenas um único carro na relação definitiva.

Dean foi muito duro em suas palavras. Confira:

“Estou atordoado. Não tenho outra conclusão a alcançar do que o fato de que nossa vitória no Asian Le Mans Series permitiu efetivamente que o Comitê de Seleção fizesse o que, por qualquer medida, certamente teria sido pelo menos uma entrada selecionada em mérito, fora da mesa. Fizemos apresentações de alta qualidade e trouxemos grandes pilotos para Le Mans, como Montoya e di Resta.” (N. do blog: a equipe fez um pódio de classe em Le Mans em 2018).

“Estou realmente confuso quanto à mensagem para as equipes que estão sendo enviadas para cá – não é sobre quem está na lista, é sobre o fato de que a lealdade em profundidade, incluindo o nosso anúncio semanas atrás que estaríamos nos juntando ao WEC da FIA em LMP2, não parece ter sido recompensada de forma alguma.”

“Efetivamente, a única mensagem para uma equipe LMP2 aqui é que, a menos que você se qualifique de direito através do WEC, não há como ter mais de um carro em Le Mans este ano.

“Tomamos decisões sobre quais campeonatos apoiar, e com quantos carros, tanto mais difícil para nós, e para todos os outros, daqui para frente.”

Também a Panis-Barthez Competition, que inscreverá dois carros no ELMS, teve um de seus bólidos suprimido na relação principal. A IDEC Sport Racing perder a segunda vaga não se constituiu em surpresa. Ruim mesmo, para quem alimentava esperanças, foi ficar de fora. A Duqueine Engineering teve o gosto mais amargo, já que será a primeira na relação de suplentes.

A High Class Racing – pelo terceiro ano consecutivo – não conseguiu também um lugar fixo. O time nórdico consta como segundo da relação, em que também figuram como reservas a Eurasia, a Ebimotors, a Project 1 (com a inscrição do ELMS) e a TF Sport by Red River Sport.

Comentários

  • como dizia em Minas Gerais , essa terra foi louvada ! …termo regional a forma de medir uma area rural antes das tecnicas de medição por teodolito , hoje se usa GPS, antes ainda seria por cordas e angulos, mas antes de usar qualquer ferramenta a terra ela “louvada” (o mais experiente da região subia na parte mais alta da propriedade e baseava somente por seu olhar as divisas e baseava a medida , pronto, a terra foi louvada e mensurada .

    Tenho essa sensação com le mans ,na forma de escolher os times……..em le mans…os times são louvados!!!

  • Rodrigo entendi claramente que a decisão nos LMP2 foi bem política. Mas na atualidade temos boas equipes na LMP2 e falta de “espaço “ nas 24h. Decisão difícil.

  • A P2 é a classe mais competitiva – junto com a GTE -, base para os DPi e responsável pela existência da ELMS.

    Qual a contrapartida da ACO? Nenhuma.

    É o mesmo caso do fracasso anunciado que é a classe do “hipercarros”. Ao invés de se olhar para quem faz as coisas acontecerem, abaixar a bola e apostar na simplicidade e no custo baixo, a entidade francesa faz questão de investir num samba do gaulês doido que, até agora, conseguiu seduzir marcas vultosas como Glickenhaus e a suspeitíssima Kolles.

    Vem ai tempos negros para o WEC e Le Mans, inversamente proporcionais ao ápice dos P1 híbridos em 2015.