Direto do túnel do tempo (439)
RIO DE JANEIRO – Jim Hurtubise entrou para a história e para o folclore das 500 Milhas de Indianápolis. E dos monopostos, também.
Em 1968, ele se tornou o último piloto a disputar a clássica prova dos EUA com um carro dotado de motor dianteiro – algo que a Fórmula 1 já abolira antes.
Mas o novaiorquino nascido em 1932 não se deu por vencido. E depois de classificar seu Mallard-Offenhauser pela última vez, ele ainda tentaria outras mais.
Querem uma amostra?
Com 10 aparições na Indy 500 e uma única vez na quadriculada, como 13º colocado, o já veterano Hurtubise, também conhecido como “Herk” (não me perguntem o motivo), insistiu em tentar qualificar seu Roadster noutras oportunidades.
Entre 1969 e 1971, lá estava ele engrossando a lista dos chamados “Fail to Qualify”. E a odisseia seguiu de 1976 pelos anos seguintes.
Mas vamos parar em 1978.
Naquela ocasião, o United States Auto Club (USAC) resolveu não permitir a tentativa do nosso bravo “Herk” em tentar colocar o Mallard-Offy no grid e assim quebrar um tabu que já durava 10 anos.
Os comissários jogaram pesado. Estipularam uma média mínima de 185 mph (297 km/h) para que Jim alcançasse e é evidente que não era possível. Embora tenha dito que chegara a 184 mph, nos treinos suas velocidades mal chegavam a 175 mph (280 km/h) – e estamos falando do ano em que pela primeira vez um carro de Indy superou 200 mph de média (321 km/h), no caso o de Tom Sneva, autor da pole position.
No Bump Day de 21 de maio, o grid estava quase completo: 32 carros já estavam classificados e faltava preencher uma vaga. Bob Harkey estava na linha para fazer suas quatro voltas e tentar a qualificação.
E Hurtubise resolveu dar seu show.
Criou tamanha quizumba que resolveu subir no monoposto de Harkey, ficando por lá uns bons 10 minutos, enquanto o chefe de comissários Tom Binford tratava de explicar à imprensa que o USAC não deu o selo de aprovação na vistoria ao Mallard-Offy, por considerar o bólido lento e obsoleto.
Quando foi convencido a sair de perto da confusão e as coisas pareciam se acalmar, “Herk” aprontou de novo. Enquanto o postulante à vaga no grid aquecia seu carro para suas quatro voltas de classificação, Hurtubise subiu na mureta de concreto da principal reta do circuito, pondo sua vida e a de outros em risco.
Igual naquelas brincadeiras babacas de adolescente, “Herk” foi perseguido por vários oficiais da prova (na pista de rolagem dos boxes, registre-se) e convencido a se retirar do recinto, uma vez que a polícia interveio. As vãs tentativas de Hurtubise em voltar ao grid de uma Indy 500 com um carro de motor dianteiro só seriam encerradas em 1981.
O piloto morreu em 1989 aos 56 anos, de infarto.
Em tempo: Bob Harkey não conseguiu vaga entre os 33 da Indy 500 de 1978, sendo eliminado do grid por Joe Saldana.
Há 41 anos, direto do túnel do tempo.
Excelente estória.
Não tinha nem ideia da existência deste “bólido” com motor dianteiro.
Me lembrei do Nissan lmp1 de 2015…