6h de Spa-Francorchamps: em corrida inesquecível, Toyota e Porsche levam títulos do WEC

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Em meio ao caos, com direito a três nevascas, sol, pista seca e molhada, sem contar frio e vento, a Toyota levou a taça na LMP1 e a trinca Alonso/Buemi/Nakajima se encaminha para o título

RIO DE JANEIRO – A edição 2019 das 6h de Spa-Francorchamps estão – sem dúvida – entre as mais sensacionais e inesquecíveis corridas que tive a oportunidade de acompanhar, principalmente como comentarista. Aliás, o circuito belga raramente nos decepciona e o clima esteve tão louco, mas tão louco, que aconteceu absolutamente tudo o que vocês podem imaginar.

Foi difícil acreditar na previsão de neve que os próprios pilotos brasileiros disseram em mensagens e em releases de suas assessorias. Mas a meteorologia acertou na mosca: nevou. E não foi só uma vez. Foram três nevascas ao longo da disputa, entremeadas por chuva e – pasmem – períodos de pista seca.

Isso deixou a corrida mais imprevisível do que normalmente ela seria e, por conta das condições extremas, dá pra afirmar sem medo de errar que tivemos uma edição épica da corrida belga – talvez a mais sensacional da história do Mundial de Endurance. Mesmo encerrada antes do término das seis horas de disputa, com uma bandeira vermelha até estranha para os padrões do automobilismo mundial.

E como campeões não se fazem sem sorte, Fernando Alonso e os parceiros Kazuki Nakajima e Sébastien Buemi foram neste sábado os sujeitos mais “largos” do planeta.

Por que? Pelo simples fato de que em condições normais, não venceriam. Além de um erro no primeiro pit stop quando os pneus do carro #8 não estavam prontos e de uma rara rodada de Alonso em seu turno de pilotagem, Mike Conway esteve inspirado em seu turno de pilotagem e Kamui Kobayashi também. Mas…

Aí o #7 dos líderes resolveu ter problemas. Em dois períodos de Full Course Yellow (FCY) sem qualquer intervenção do Safety Car, o Toyota teve problemas, engasopou e depois seguiu. Numa terceira oportunidade, os problemas técnicos se agravaram. O carro foi puxado para a garagem e ficou 11 minutos parado. Com o deficit de quatro voltas em relação ao outro TS050 Hybrid, o que os pilotos puderam fazer foi tentar minimizar o prejuízo.

Em dado momento, a matemática apontava a trinca do #8 campeã mundial por antecipação, mas a diferença de performance do Toyota em relação aos LMP2 foi evidenciada e López, que assumiu o volante após Koba, teve ótimo ritmo em condições extremas, sendo o piloto mais rápido da pista em várias voltas. Ganhou posições o bastante para terminar em 6º lugar e manter a trinca viva na briga pelo título.

Com os problemas do Toyota que dominava a corrida e a sorte enorme de Alonso, Nakajima e Buemi, a luta pelo segundo lugar passou a valer o melhor resultado da SMP Racing na temporada. E a equipe russa teve seu melhor desempenho no ano. Stoffel Vandoorne estreou muito bem e Vitaly Petrov também foi bastante rápido. Mas no final, deu Thomas Laurent/Gustavo Menezes/Nathanaël Berthon com o 2º posto e a trinca do #11 russo chegou em terceiro.

A vitória – sexta da Toyota em sete corridas – deu à equipe japonesa o título antecipado entre os LMP1. Uma barbada, já que pela diferença técnica entre os protótipos híbridos e os não-oficiais, era algo bastante previsível desde que a temporada teve início há exatamente um ano.

O melhor que Bruno Senna pôde fazer junto a Neel Jani e Andre Lotterer foi terminar em 5º lugar, até porque não tiveram ritmo o bastante para lutar contra os dois carros da SMP Racing e o outro protótipo do time anglo-suíço. De certa forma a falha do Toyota líder os ajudou a fechar a corrida com mais 10 pontos na conta.

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A DragonSpeed ganhou na LMP2 com atuação destacada de Pastor Maldonado, que guiou de forma colossal no meio da tempestade em Spa-Francorchamps

Já na LMP2, a Signatech-Alpine Matmut deu mais um passo para tentar buscar o título da categoria e possibilitar a André Negrão se consagrar como o segundo brasileiro campeão mundial de forma consecutiva no WEC. Uma estratégia inteligente e excepcional deu ao trio do #36 formado por André e mais Nico Lapierre e Pierre Thiriet a liderança da disputa por longo tempo em Spa-Francorchamps.

Mas o turno de Pierre Thiriet não foi tão bom e o #38 de Ho-Pin Tung/Gabriel Aubry/Stéphane Richelmi alcançou eventualmente a liderança. E assim foi por um período, quando de repente surgiu, com uma atuação espetacular de Pastor Maldonado – um demônio no meio da nevasca – o carro #31 da DragonSpeed.

Como efeito, a equipe de Elton Julian conquistou uma ótima vitória, contando ainda com Roberto González e Anthony Davidson. Detalhe: os pontos somados hoje ainda dão esperanças à equipe de levar a taça. Eles estão ainda com chances matemáticas para desbancar os rivais, desde que consigam descontar a diferença de pontos.

André Negrão acredita que poderia ter sido 2º colocado de fato e direito na categoria, pelo menos, já que o Aurus 01 de Jean-Éric Vergne/Job Van Uitert/Roman Rusinov foi fortemente beneficiado pela bandeira vermelha que encerrou a disputa antes do tempo. “Eles tinham que fazer mais uma parada”, explicou o brasileiro.

Pelo menos ele e seus colegas chegaram à frente do #38 da Jackie Chan DC Racing e o panorama aponta quatro pontos de vantagem (143 a 139) da trinca líder contra os rivais, com Maldonado e González correndo por fora e ocupando o 3º posto, com 117.

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Um ano após uma estreia desapontadora, a Aston Martin ganhou numa equilbrada disputa entre os LMGTE-PRO, graças a Alex Lynn e Maxime Martin

A melhor categoria – para nenhuma surpresa – foi a LMGTE-PRO. Os 10 carros das equipes de fábrica andaram embolados praticamente o tempo inteiro, com pegas incríveis em meio ao mau tempo e às mudanças com asfalto seco e molhado. Todos os construtores lideraram pelo menos uma vez e um dos carros que começou de forma péssima a temporada lavou a égua na Bélgica.

O Aston Martin de Alex Lynn/Maxime Martin conquistou uma excelente vitória para o construtor de Gatwick, batendo a Ferrari dos campeões mundiais Ale Pier Guidi/James Calado, sem contar os líderes Kévin Estre/Michael Christensen – que ascenderam ao pódio com a penalização à dupla Richard Lietz/Gianmaria Bruni por conta de um toque na Ferrari LMGTE-AM da Spirit of Race.

A parceria do Porsche #91 acabou baixando para a 8ª posição com a punição e isto beneficiou Augusto Farfus/Antônio Félix da Costa: após uma corrida de altos e baixos, a dupla do BMW Team MTEK terminou a disputa em quarto lugar. As cinco marcas ficaram no top 5 da prova, já que Harry Tincknell/Andy Priaulx também subiram de posição.

O resultado das 6h de Spa deu pontos suficientes à Porsche para o construtor alemão conquistar o título entre os fabricantes de LMGTE. E faltando apenas as 24h de Le Mans, Michael Christensen/Kévin Estre vão para a última corrida com 140 pontos na classificação contra 104 de Lietz/Bruni, que ainda reúnem chances remotas de reverter a diferença.

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Vitória na LMGTE-AM para o #77 da Dempsey Racing-Proton, que ainda reúne chances esparsas de título para Le Mans

Por fim, na LMGTE-AM as disputas não foram menos emocionantes e a Dempsey Racing-Proton conquistou mais um triunfo de fato na divisão, com a trinca Riccardo Pera/Christian Ried/Matt Campbell, derrotando a TF Sport com Charlie Eastwood/Euan-Alers Hankey/Salih Yoluç e a Clearwater Racing de Matteo Cressoni/Luis Pérez-Companc/Matt Griffin. Três construtores – Porsche, Aston Martin e Ferrari – nos três primeiros lugares.

Uma rodada tirou de contenção a trinca Jörg Bergmeister/Egidio Perfetti/Patrick Lindsey, que seguem líderes do campeonato com 113 pontos. A trinca da Project 1 Racing soma 23 pontos de frente para Giancarlo Fisichella/Francesco Castellacci/Thomas Flöhr. Com chances matemáticas, Salih Yoluç e Charlie Eastwood somam 87 pontos. Christian Ried e Matt Campbell têm 83 e também podem sonhar com o título.

Outro detalhe de uma corrida incrível: mesmo com chuva e neve e os perigos de Spa com Eau Rouge e tudo, não houve nenhum acidente forte tal como em 2018. E ninguém abandonou, o que é mais incrível.

Que venha Le Mans. E vive la France!

Comentários

  • Rodrigo antes de tudo parabéns pela bela transmissão da FOX. Você e o Tiago, parabéns. Que corrida louca e ao mesmo tempo emocionante e técnica. Só em Spa para chover, nevar, fazer sol, ficar nublado e tudo isso as vezes junto. É muito boa a disputa na LMGT Pro. Muito legal. E que venha Le Mans. E mais uma vez parabéns para vocês dois. Ficar 6 horas ao vivo e não falando coisas idiotas não é fácil. Sempre informações e opiniões sensatas. Muito bom

  • Parabéns Rodrigo Mattar por mais um excelente trabalho. Sempre pronto para informar. Mais uma taça na coleção da PORSCHE….yessssss!

  • Épica! Segunda melhor corrida da história do WEC/ILMC, só perde para as 24 Horas de Le Mans de 2011 e tirou da também fantástica edição de 2015 das mesmas 6 Horas de Spa do segundo lugar. Só acho que essa corrida deveria ter 12 horas e não 6.

    Surpreendente a performance pífia do carro de Bruno Senna, mesmo o recente desdém e desinteresse de seus companheiros de tripulação pelo campeonato justifica.

  • É legal acompanhar o seu excelente trabalho sempre nos mantendo informados sobre os campeonatos onde a mídia não dá muita atenção e pra saber alguma coisa é só te acompanhar. Valeu Rodrigo!
    Uma pena na LMP1 ter só uma marca oficial o que tira o brilho da disputa mas na GT-PRO e AM foi emocionante do começo ao fim e com aquele tempo e nessa belíssima pista. Ô saudade das corridas da Interlagos original!! Parabéns Rodrigo Mattar!