“Bateu Al Unser!”

RIO DE JANEIRO – Um dia que ficou para a história: 28 de maio de 1989. O dia em que Emerson Fittipaldi, enfim, foi (re)descoberto pela América.

Após pouco mais de cinco anos desde o reinício de sua trajetória no automobilismo de competição, passado todo o dissabor do término da equipe Fittipaldi de Fórmula 1 que mantinha com o irmão Wilsinho, o piloto voltava a ser competitivo como nos velhos tempos e emocionava todos os apaixonados pela velocidade.

Naquela data, há 30 anos, era disputada a 73ª edição das 500 Milhas de Indianápolis. Vice-campeão da disputa no ano anterior e já dono de seis vitórias na Fórmula Indy (CART), sendo uma delas no veloz oval de Michigan, “Emmo”, como passou a ser chamado pelos gringos, vislumbrou a chance de sua vida, de realizar o sonho de menino acalentado desde os filmes que via na sede do Automóvel Clube Paulista quando criança e depois adolescente, levado pelo pai, o radialista Wilson Fittipaldi, o “Barão”.

A Patrick Racing, por intermédio da Marlboro, comprou um chassi Penske do ano e com o motor Chevrolet Indy V8, parecia ser a combinação a ser batida, contra os Lola cada vez mais competitivos e os duvidosos March – a versão de 1989 só era equipada com propulsores Porsche e ainda havia times com o modelo do ano anterior.

Os rivais eram os próprios pilotos do Team Penske – Al Unser, Danny Sullivan e Rick Mears, além de Michael e Mario Andretti, correndo juntos na mesma equipe pela primeira vez, o sempre regular Bobby Rahal e um garoto chamado Al Unser Júnior.

Emerson fez o 3º tempo no grid. Mears, vencedor em 1988, foi o pole position. Al Unser, o pai, ganhador surpreendente em 1987, era o segundo. O brasileiro jantou todos eles num arranque fenomenal e comandou a corrida a seu bel prazer, mesmo quando houve as bandeiras amarelas.

Fittipaldi dominou a corrida por vários períodos, mas na reta final surgiram duas ameaças sérias. A primeira ficou pelo caminho: Michael Andretti pegou a dianteira na volta 154 pela quarta vez e parecia querer estragar a festa.

Porém a proverbial falta de sorte que afligiu o velho Mario após a vitória deste em 1969 pegou como sarna em todas as gerações. Um estouro de motor pôs fim à corrida do jovem piloto na volta 163.

E se Michael ficou pelo caminho, havia ainda Al Unser Jr. a bordo do seu Lola da Galles.

Registre-se que o filho de Al Unser e Emerson Fittipaldi já tinham se enroscado no campeonato do ano anterior, numa pista de rua que hoje não existe mais, chamada Meadowlands. “Little Al” não hesitou em mandar o adversário para o muro. Quando fez o mesmo naquele ano de 1989 contra Mario Andretti em Long Beach, para vencer, saiu vaiado.

A Patrick Racing, que tinha ainda Morris Nunn na engenharia, Chip Ganassi como uma espécie de diretor de operações e Jim McGee como estrategista e chefe de mecânicos, deu sua parcela para o drama que viria no final da Indy 500 de 1989.

Na última parada, o Penske PC18 do Rato foi abastecido com mais metanol que o necessário. A Galles tinha o cálculo certo para seu piloto não parar com pane seca e, mais leve, “Little Al” foi voando para cima de Emerson Fittipaldi.

Bem… o resto não é necessário dizer. A não ser que nós, brasileiros, fomos brindados com uma narração magistral de Luciano do Valle, que comandava a transmissão in loco. O Bolacha foi sensacional ao dar à disputa final a dose exata de emoção que o duelo Fittipaldi x Little Al pôde nos proporcionar.

E a emoção do triunfo histórico e inédito de Emerson, que se tornou o quarto piloto campeão de Fórmula 1 a vencer em Indianápolis, atravessou fronteiras.

Lá no México, Ayrton Senna recebeu de Reginaldo Leme a notícia da vitória do Rato – instantes antes de iniciar os preparativos para a corrida que disputaria no mesmo dia no Autódromo Hermanos Rodriguez. E genuinamente, o piloto da McLaren se emocionou. Afinal, era uma história de redenção e triunfo.

Era “o homem que pôs o ovo em pé”, como dizia Nelson Piquet, redefinindo sua carreira e dando o primeiro passo para, aos 42 anos, voltar a ser campeão.

Um momento que merece ser sempre lembrado e celebrado. Parabéns, Emerson, por 30 anos depois ainda nos emocionar, movidos pelo fantástico trabalho do saudoso Luciano.

Que, justiça seja feita, além do “Bateu Al Unser!” da hora decisiva na corrida, não deixou de acreditar que Fittipaldi pudesse derrotar “Little Al”. Basta escutarem atentamente a transmissão nos minutos finais (o vídeo acima tem partes misturadas com a transmissão da ABC comandada por Paul Page, mas o final histórico está com a voz do Bolacha).

Vale a pena!

Comentários

  • eu tenho a corrida gravada em blue-ray e em arquivo, completinha, mas em inglês… depois consegui baixar o vídeo do youtube e toda a emoção de Luciano do Valle… acho que só ele no mundo acreditava numa vitória do Emerson… Assim que al jr foi pro muro eu soquei o chão com um grito pra comemorar tal feito, afinal era a primeira vez que um Brasileiro vencia ali… mesmo 30 anos depois não tem como assistir o vídeo e não se emocionar com a vitória do RAto… ainda que em inglês…

  • Caro Mattar, esse dia também foi um dos mais importantes da minha vida. Foi nesse dia que nasceu minha paixão por corridas, ao assistir este final de corrida maravilhoso, com narração do Luciano. Sempre que vejo este vídeo eu me emociono:

    https://www.youtube.com/watch?v=2OYvY2d2XF8

    E logo depois, teríamos o GP do México. Uma corrida absolutamente brilhante de Ayrton Senna, com direito a uma volta em cima do Prost durante a corrida – ao final, ele deixou o francês recuperar a volta perdida, pra não ficar muito feio. Foi o ápice do Senna em 1989, infelizmente, uma série de quebras poria o título a perder a partir da próxima corrida.

    Sem dúvida um dos dias mais importantes do automobilismo brasileiro. Não dá para mensurar a importância de Emerson Fittipaldi para o nosso esporte.

  • Eu tinha feito 10 anos na sexta-feira (26), eu estava na casa do meu tio que era fã do Emerson, lembro perfeitamente desse final. Mas engraçado que da corrida da F1 desse dia eu não lembro. Será que foi muita emoção pra um menino?

  • Vamos combinar… as transmissões da Indy naquela época eram horríveis. Corrida pegando fogo e cortam pra ficar mostrando as mulheres dos caras. Tereza ficava rezando e os caras mostrando ao invés de mostrar a corrida, a mulher do Michael Andretti era sempre uma árvore de natal… era patético. Achava que era nessa corrida que ele tinha recusado leite mas foi na da 93….

  • também tive a sorte de assistir essa corrida na época.

    a narracao do luciano do vale realmente foi excelente. mais no final da trajetoria dele ele nao estava tao afiado…

    falando nisso, uns anos atrás revi praticamente todas as corridas de f1 dos campeonatos de 80 até 85 ou 86, e a narração do galvao bueno era até bem boa.

    depois virou isso de hoje.