Direto do túnel do tempo (448)

840daf6120d1cd3e955f8572dbaae7c5
Patrick Tambay teve uma carreira de altos e baixos na Fórmula 1, disputando 114 GPs entre 1977 e 1986

RIO DE JANEIRO – O piloto que está a bordo do Theodore TY01 em Jacarepaguá (reparem nos patrocínios do Racimec na asa traseira e do Condomínio Santa Mônica nas sidepods), no ano de 1981, é um dos aniversariantes do dia. Falo de Patrick Tambay, piloto francês que disputou 114 GPs de Fórmula 1 entre 1977 e 1986, que completa hoje 70 anos de idade.

A carreira de Tambay foi errática: na Fórmula 2, foi vice-campeão europeu com um March BMW da equipe oficial de fábrica e 3º colocado no ano em que os “Quatro Mosqueteiros” franceses – ele, Jean-Pierre Jabouille, René Arnoux e Michel Leclère – deram as cartas, conquistando duas vitórias – ambas no Circuit Paul Armagnac, em Nogaro. Correu de Fórmula 5000 pela equipe de Carl Haas e, no campeonato que marcou o retorno da Can-Am (no ano de 1977), foi campeão, também pela Haas.

Estreou na Fórmula 1 justamente na temporada de 1977 pela Theodore Racing com um Ensign N177, após a não-classificação para o GP da França com um Surtees, no veloz circuito britânico de Silverstone. E logo na segunda prova, foi 6º colocado em Hockenheim.

Chegou ainda em quinto na Holanda (teria sido quarto, mas acabou a gasolina na última volta) e no Canadá. Em meia temporada, fez o mesmo número de pontos que Clay Regazzoni guiando o mesmo carro e foi considerado a revelação do ano. O que lhe rendeu um contrato de segundo piloto na McLaren.

Trabalhando pela tradicional escuderia britânica, Tambay não foi bem. Marcou pontos apenas cinco vezes – o 4º lugar no GP da Suécia em 1978 foi seu melhor resultado. Na temporada de 1979, passou em branco, com vários erros e acidentes. Seu filme na Fórmula 1 estava queimado.

Mas o francês era persistente: em 1980, voltou à Série Can-Am e para a equipe Haas, levando o bicampeonato da série. E regressou pelas mãos de Teddy Yip à Fórmula 1 com um belo 6º lugar em Long Beach e boas atuações ao longo da primeira parte do campeonato, com um carro limitado. Foi décimo no Brasil (à frente de Nelson Piquet, inclusive), 11º em San Marino, sétimo em Mônaco (Piquet o culpa por ter perdido a vitória em Monte-Carlo por conta de uma fechada na curva da Tabacaria) e 13º em Jarama.

A saída de Jean-Pierre Jabouille da Talbot-Ligier o levou ao posto de segundo piloto de Jacques Laffite. Mas nada deu certo: oito corridas pelo time francês, oito abandonos. Em Monza, chegou a andar em quarto, mas sofreu um furo de pneu. Na última etapa, em Vegas, saiu de seu carro mancando: o JS17 rachou ao meio numa batida contra o muro de proteção. Novamente o filme de Tambay parecia incinerado na categoria máxima.

Sabe a história da persistência? Pois então… o destino definitivamente rolou os dados a favor de Tambay, que já tinha 32 anos quando a temporada de 1982 começou.

A morte de Gilles Villeneuve no GP da Bélgica abriu a chance de um cockpit na Ferrari e Patrick era uma opção barata e disponível no mercado. O oitavo lugar no GP da Holanda não foi um começo dos mais auspiciosos, mas veio na sequência o primeiro pódio com o 3º lugar em Brands Hatch no GP da Inglaterra e, no mesmo fim de semana do gravíssimo acidente de Didier Pironi, uma vitória que lavou a alma da Ferrari em Hockenheim.

Era a volta por cima de um piloto desacreditado, que ainda seria 2º colocado no GP da Itália, em Monza e, como curiosidade, tinha o patrocínio pessoal do famoso cabaré francês Moulin Rouge, das coristas que desfilavam seus corpos seminus e às vezes despidos nos shows que faziam Paris trepidar de excitação.

O ano de 1983 seria o melhor de sua carreira na Fórmula 1: contrato renovado com a Ferrari, parceira com René Arnoux, vitória em San Marino e chances de título até sofrer um acidente em Brands Hatch. Terminou o campeonato em quarto lugar com 40 pontos, cinco pódios e o nome em alta. Tanto que acabou contratado pela Renault para formar dupla com a promessa britânica Derek Warwick, revelação na Toleman.

Tambay
Um dos últimos pódios de Patrick Tambay foi no GP de Portugal de 1985, junto ao vencedor Ayrton Senna e ao 2º colocado, Michele Alboreto

Com o RE50, Tambay fez pole position em Dijon-Prénois para o GP da França, mas não venceu nenhuma vez defendendo a Régie: o melhor resultado foi justamente em casa, na temporada de 1984, com um 2º posto. O modelo RE60 e seu sucessor na versão B não era competitivo e Patrick fez apenas mais dois pódios, em Portugal e San Marino (este, porque Alain Prost foi desclassificado).

O fim da Renault como escuderia de Fórmula 1 não representou, contudo, o fim da carreira de Patrick Tambay. O canto do cisne foi pela equipe Lola-Haas, que no início do campeonato perdeu o apoio da indústria alimentícia Beatrice. Num ano repleto de percalços com o motor Ford V6 Turbo, o francês terminou apenas quatro corridas e fez um 5º lugar no GP da Áustria como melhor resultado.

Patrick disputou quatro vezes as 24 Horas de Le Mans. Entre 1976 e 1977, foi integrante da equipe Renault Sport, com o lendário protótipo Alpine-Renault Turbo A 442. Abandonou em ambas. No ano de 1979, voltou com um Rondeau M379 Ford Cosworth ao lado da lenda Henri Pescarolo. Desistiu após apenas 41 voltas. Em sua última aparição em La Sarthe, com o Jaguar XJR-9, já com 40 anos de idade, completou em 4º lugar junto a Jan Lammers e Andrew Gilbert-Scott.

Há 38 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários