É hora de pensar com o cérebro; não com o fígado

RIO DE JANEIRO (Febeapá perde!) – Acho que muita gente não se deu conta – ainda – de que o assunto GP do Brasil de Fórmula 1 virou um “samba do crioulo doido”.

Por favor, espero que não enxerguem qualquer tipo de preconceito nisso – apenas a citação imortal a Sérgio Porto, jornalista já falecido e também conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, que certamente concordaria em ver a expressão que cunhou – e foi imortalizada – utilizada para definir a balbúrdia que, vira e mexe, cismam em fazer em torno do evento. Que, até prova em contrário, está garantido em Interlagos pelo menos até 2020.

O problema é o depois. O problema são as mentiras de Jair “99% certo, talkey?” Bolsonaro, o desmentido imediato do CEO do Liberty Media Chase Carey (quem viu o pronunciamento do executivo após a fala do presida sabe ao que me refiro) e – de novo – a história de um autódromo no Rio de Janeiro, agora para 2021.

É impressionante o quanto o presida recua. Falou que seria já no ano que vem, agora fala em 2021. Mas continua mentindo, continua o ‘mito’ propalado por aqueles que o veneram.

Como pode ser tão inconsequente o chefe do executivo federal ou, por outra, por que o súbito interesse em fazer a qualquer custo uma prova de Fórmula 1 numa cidade que nem autódromo tem?

Bom… o Flavio Gomes, no vídeo acima, elenca com boa argumentação, motivos pelos quais é difícil acreditar em toda essa situação. Já desde o chamado “Dia da Vitória”, em pleno monumento dos pracinhas da II Guerra Mundial, a polêmica eclodiu.

E vira e mexe, Bolsonaro volta com variações do mesmo tema – isso sem falar dos números absurdos que usou nas redes sociais para justificar uma provável ruptura de acordo com a McLaren. Aliás, pelo menos por enquanto, o assunto deu uma esfriada.

Não pensem que estou torcendo contra. Não pensem que é por ideologia que estamos aqui indignados com a postura que um chefe de estado não apresenta. Um chefe de estado não pode ser tão irresponsável e tão tosco em suas declarações. Por mim, o Rio de Janeiro já tinha um substituto de Jacarepaguá faz tempo – ou até mesmo uma pista lá mesmo, no entorno dos aparelhos olímpicos, como é o circuito russo de Sóchi.

Mas como tem sempre um interlocutor aqui e alhures que vê pêlo em ovo: então conclamo a vocês, leitores do blog ou não, que parem de pensar com o fígado, com rancor e bílis, e pensem com o cérebro. Porque afinal é pra isso que ele serve.

Sejamos inteligentes, minimamente inteligentes.

E sobretudo sensatos.

Precisamos parar pra pôr as ideias em ordem e principalmente, questionar o súbito interesse do presidente da república e do governador do estado do Rio de Janeiro num aparelho esportivo que, num primeiro momento, não teria sua construção financiada por dinheiro público nenhum – somente da iniciativa privada. Aliás, questionar é o papel do bom jornalista, não é não?

Como diria minha falecida avó Dinorah, “aí tem truta”…

Em tempo: parece que as coisas estão bastante bem encaminhadas entre o governo e prefeitura de São Paulo, o grupo Liberty Media e o promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi. Novidades devem pintar nos próximos dias, para frustração de Bolsonaro e seus blue caps. Nessa balbúrdia, parece que João Doria, com todos os seus defeitos, vai engolir o presidente com farinha.

A ver.

Comentários

  • Há muitas coisas a serem explicadas.

    1. Desde 2014, São Paulo fez diversos investimentos em melhorias no Autódromo de Interlagos para atender às solicitações da F-1 (fala-se numa soma na casa dos R$ 160 milhões), incluindo uma ampla reforma no paddock iniciada após o GP do ano passado. A cidade deixará a F-1 ir embora antes de ter o devido retorno destes investimentos?

    2. Por mais que não seja perfeita, Interlagos conta com infraestrutura viária, de transporte público, de segurança e de serviços compatíveis com as necessidades da F-1. Além disso, fica numa região relativamente próxima de bons hotéis e hospitais para o rápido atendimento a pilotos feridos em acidentes. Esta infraestrutura toda será implementada em Deodoro? Por quem? Com dinheiro de quem? Que empresários construirão hotéis e hospitais na região? Haverá metrô em Deodoro? Quem financiará a obra? E o sistema viário que abastece a área do futuro autódromo, será ampliado?

    3. Construir um autódromo não é bolinho; é coisa séria. Na China, com investimentos maciços do governo, a obra do circuito de Xangai demorou aproximadamente 1 ano e meio para ficar pronta e custou por volta de USD 450 milhões (em “dinheiros brasileiros”, quase R$ 2 bilhões). É uma obra que facilmente supera o custo de R$ 700 milhões chutado pelo nosso querido Capitão Jair. O tal consórcio “Rio Não-Sei-O-Quê Motor” tem condições financeiras de suportar isso? E qual empresário, em sã consciência, enterraria uma grana desse tamanho num empreendimento numa área sem estrutura, cujo retorno é bastante questionável?

    4. O terreno de Deodoro, além de ser uma área de preservação permanente (e. quanto a isso. vamos admitir que o Capitão Jair possa resolver a “cuestão” com uma mortal canetada de sua infalível BIC azul), era uma área do Exército usada como paiol de munições. Certamente trata-se de um espaço contaminado e, pior, com materiais explosivos no subsolo. Como se pretende construir alguma coisa lá?

  • Boa noite amigo, sou eleitor do bozo, acho justo que o Rio de Janeiro tenha um autódromo, mas o presidente não tem a menor ideia do que está fazendo.
    Que faça então uma pista para as corridas nacionais e depois pensa em F1. Ele tem coisas bem mais importantes pra fazer antes de pensar em F1.
    E o Doria já mostrou que vai engolir ele nessa história.

  • Extremamente uma farra desse povo…
    O pais é uma latrina de roubos..ladrões.. margianais de toga e dai pra cima..
    Aprovar uma verba para um outro circuito…pra que…gente..pra que…
    Vai fazer o uso da verba para outros fins…
    SP. tem um circuito muito bom…
    Pra que outro… esse bando quer mesmo é fazer o que o PT..fez.. cxai 2 cxa 3 cxa4..
    O nosso presidente tem que fazer uma reviravolta no que oferece a ele..
    O pais não anda.. atolou.. falidos..estamos sem rumo…
    Um quer colocar os marginais na cadeia.. outros querem que ele seja preso…
    Pensa..
    Sei que não serei nenhma pedrinha na conversa…mas..parem de dar lenha..
    Não dê combustivel para que seja divulgadas essas materias..
    Não temos mais do que 3 anos… em 2024 seremos declarados falidos ao mundo financeiro… acordem… pelo amor da mãe do guarda……

  • Fico imaginando o Chase Carey voltando no jatinho com um sorriso enorme embaixo daquele bigode assistindo a esta briga e vendo quem vai dar o último lance e pagar mais para levar o GP Brasil em um leilão organizado pela Liberty Media. Com certeza é quem está na melhor posição para negociar.

    • JR, pensei a mesma coisa, falam mal do Bernie mas o Carey faz o mesmo tipo de cortina de fumaça para garantir uns cobres a mais no final. Só fico pensando se ele levou a sério mesmo o que ouviu sobre a construção do autódromo no Rio de Janeiro…

  • A parte qualquer ideologia politica, continuamos sendo um pais onde os políticos são ou ladroes ou malucos. Estamos assistindo uma disputa que envolve um maluco que, quando prefeito de SP, queria alienar o circuito de Interlagos e agora pretende manter o GP e um Presidente do Brasil e não presidente do Rio de Janeiro.
    Se o presidente quer se manter fiel as premissas que o levaram ao governo que mande apurar a responsabilidade (e os possíveis ganhos pessoais) de quem destruiu o autódromo do Rio para fazer um parque olímpico hoje abandonado, e quais as vantagens auferidas pelas construtoras (hoje falidas) do falido parque. Vai encontrar gente graúda envolvida, pai de presidente da Câmara inclusive….ou talvez até mesmo o Palacio do Planalto de outros tempos….
    Mas não, o Presidente envolve-se numa bizarra peleja inter-estadual, sem levar em consideração que Deodoro talvez seja um dos piores lugares do Estado do Rio pra se construir um autodromo ! Porque não fazê-lo no antigo local, como sugerido pelo Rodrigo, tal qual Sochi ? Porque não em grandes areas disponiveis na raiz da serra de Petropolis ou no caminho entre Santa Cruz e Sepetiba (existem areas militares ali, não utilizadas)
    Falando serio, o nossos órgãos de meio ambiente também são uma piada, né ??? Area de proteção ambiental num local onde se detonavam todos os tipos de bombas e artefatos militares, até bem pouco tempo atras ???? Só no Brasil, né ???

    O Brasil continua sendo uma piada de mau gosto. E, falando mais serio ainda: NÓS somos co-responsáveis por essa bagunça toda: quem elegeu os nossos últimos presidentes ? Nossos últimos governadores ? Nosso “maravilhoso” Congresso Nacional, a maior piada do pais das piadas, junto com o STF ?

    Isso tudo parece brincadeira….de péssimo gosto.

  • Até parece que o Brasil vai construir uma outra pista em apenas 1 ano e meio…

    Tem obras da copa que ainda não foram terminadas…Lembrando que a copa também era “pra ser da iniciativa privada”, né? E saiu quase tudo de dinheiro publico.

    Bozo ta delirando…

  • Já tinha visto o vídeo do Flavinho a respeito do assunto, e ele ressaltou pontos muitos relevantes: O que tem a ver o presidente com a questão de uma etapa de F-1 sendo negociada em nosso país? E principalmente, qual é o real interesse dele, e até mesmo do Crivella e do Witzel em insistir e fazer balbúrdia com essa história maluca de autódromo em área de preservação ambiental com resquícios de minas terrestres que nem sequer existe ainda, como suposta futura sede do GP do Brasil de F-1? É no mínimo suspeito mesmo.

  • Os argumentos trazidos pelo Rodrigo e pelo Flávio Gomes já são mais que suficientes para que qualquer ser com capacidade de raciocínio e que possua mais de dois neurônios funcionais conclua que não vai ter “otódro” nenhum. Nem em 2020, nem em 2021, nem em 9999. Em 9999 talvez, mas não lá.
    Podiam pegar o terreno e fazer algo nos moldes do Parque Madureira, que hoje consegue ser melhor utilizado do que o Parque Olímpico.
    Essa “sanha” de querer fazer algo faraônico a toque de caixa é suspeita pra qualquer um.
    E o outrora legado olímpico, que hoje é o “largado olímpico”? Quando vamos ter algo que justifique aquela obra colossal e que hoje parece um cemitério de ginásios?
    Dá pro Rio de Janeiro ser referência nacional em esporte. Amo São Paulo, não sou bairrista, tenho gratidão por essa cidade, sempre fui muito bem tratado quando estive lá, mas adoraria ver o Rio alcançar esse objetivo. Competições diversas, formação de atletas, turismo esportivo, até automobilismo. Planeja um circuito de rua temporário e começa com categorias de automobilismo de base. Coloca aqueles ginásios empoeirados pra funcionar e promove competições estaduais e nacionais. Faz um trabalho sério e bem gerido de formação de atletas. Incentiva o esporte nas escolas, de verdade, não só pra inglês ver. E vê se a médio prazo a coisa não acontece.
    O problema no Rio não é espaço nem equipamento. É principalmente de gestão.
    Sim, sou carioca. Com muito orgulho. Suburbano de nascimento e hoje morador da Baixada. Não pretendo ir embora daqui. E adoraria ver o Rio ser cidade maravilhosa de novo. Mas enquanto quem nos gere se preocupar mais em montar fuzil em drone e fomentar falácia do que promover gestão séria e proativa, será difícil.

  • Disputas políticas. Mal começou o governo e já estão pensando nas próximas eleições presidenciais.

    Rodrigo, me tire uma dúvida: como é o acesso à região de Deodoro para turistas e equipes caso saísse o autódromo. Turistas e equipes com certeza gostariam de ficar hospedados perto da praia.

    • Não sou o Rodrigo, mas vamos lá.
      Deodoro é longe. Bem longe de praia. Creio que a praia mais próxima (Barra da Tijuca) não ficaria a menos de 20 km de lá. Um dos locais mais quentes da cidade. O acesso principal é por uma via expressa que é uma das principais da cidade, corta a zona central, norte e oeste, mais de 50 km. Porém, essa via é extremamente mal gerida, mal conservada, esburacada e perigosa. Engarrafamentos fazem parte do cotidiano. Qualquer batidinha causa um baita transtorno.
      Grande parte do bairro é ou fica próximo a áreas militares. Mas assim mesmo não é o lugar mais seguro da cidade. Muito pelo contrário. E pra chegar até o pretenso “otódro” teria que ser construída uma infraestrutura de acesso.
      Considerando que há quase quatro anos essa via expressa deveria ter um corredor expresso de ônibus, mas que não fica pronto nunca, e que as obras dos acessos e estações em muitos pontos se tornaram ponto de abrigo de moradores de rua e cracudos, já viu que acesso não vai ser o forte de lá.
      Fica muito mais perto da baixada fluminense e da zona oeste do que da zona sul e orla onde turista gosta.
      Um turista que quisesse curtir as praias e ficar no lado tradicional turístico do RJ teria que andar quase 30 km pra chegar até o “otódro”. De carro, porque não tem trem próximo. Metrô, nem pensar.
      Aí imaginamos que hotelaria também não seria o forte da área. Existem motéis, não hotéis. E definitivamente, não seriam construídos hotéis só para um evento anual. Todo mundo ficaria na zona sul, ou Barra da Tijuca, as áreas nobres da cidade.
      Provavelmente o deslocamento de equipamento, equipes e pilotos seria um baita transtorno, seria uma verdadeira comitiva parando todo o trânsito da cidade. Que já não é nenhuma maravilha.
      Quem lembra das corridas em Jacarepaguá nos anos 80, mecânicos sem camisa derretendo, é aquilo ali. O mesmo clima tórrido. Mas Jacarepaguá tinha um acesso menos pior. E a área onde era o autódromo (que hoje é o largado olímpico) cresceu, virou um grande complexo residencial e tem uma infraestrutura minimamente decente de trânsito, transporte público que não é nenhuma maravilha, mas que existe.

      • Pela Barra chega-se em Deodoro até mais rápido que pela Av. Brasil, atualmente. Usando a Transolímpica. Seria um bom argumento para que todo mundo se deslocasse partindo da Barra.