Direto do túnel do tempo (450)

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RIO DE JANEIRO – Em tempos pré-Stock Car, em que o automobilismo brasileiro ainda buscava um rumo, havia um piloto que conseguia chamar a atenção com seus esquemas considerados um passo à frente em termos de organização e, por que não dizer?, profissionalismo.

Sim, profissionalismo. O esporte a motor ainda era de abnegados e apaixonados – mas Pedro Victor de Lamare sabia que podia e dava para levar o negócio a sério, desde que tudo estivesse sob seu rigoroso controle. E foi o que aconteceu: além de comandar uma Escola de Pilotagem que ficou famosa no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 (Edgard Mello Filho, inclusive, foi um de seus instrutores), Pedro Victor se desdobrava como chefe de equipe e piloto, tendo a companhia fiel da Gigi, que se tornou não só mulher do PV como uma exímia cronometrista.

Inclusive soube por terceiros que a Gigi não está mais entre nós. Vida que segue…

PV guiou de um tudo na vida, começando pelo Renault 1093 até desaguar na lendária equipe de Luiz Antônio Greco e competir com as Berlinetas Willys derivadas do Alpine francês até chegar aos Divisão 3 e sua escuderia, a De Lamare Competições, com os Opalas de duas e quatro portas, sempre com o inconfundível número #84 e seus patrocínios de muitos anos: Banco Emissor e lojas Eletroradiobraz. Carros com visual agressivo e motores preparados pelo Caíto, foram uma grande sensação nas nossas pistas.

Ele também andou de monopostos e Esporte-Protótipos: fez parte do grid da temporada inaugural da Fórmula Ford por aqui em 1971, além de competir com o Fúria Chevrolet e com o Avallone na Divisão 4. Também fez provas de Divisão 1, do Torneio Sudam e da Temporada Brasileira de Fórmula 2, em 1972, com um March 722 da equipe STP.

Em 1974, Pedro Victor foi para a Europa e, com uma equipe comandada por Toninho de Souza, disputou o Europeu e o Inglês de Esporte 2 litros com um modelo March 74S, equipado primeiro com motores BMW e depois Ford, com preparação de Nigel Smith.

Mesmo com algumas dificuldades, principalmente de motores e pneus, ele conquistou dois quartos lugares em Nogaro e Magny-Cours, que era o que dava pra fazer diante do predomínio dos modelos Alpine-Renault, no certame europeu. No Inglês, venceu duas vezes em Oulton Park e no veloz traçado de Thruxton, levando o vice-campeonato.

No ano seguinte, mesmo com um patrocínio fechado por dois anos com um banco de investimentos (SPI), o apoio foi reduzido e PV se limitou a fazer algumas provas com equipamento emprestado por terceiros. A bordo de um Lola T294, disputou em parceria com Antônio Castro Prado, outro que tentava um lugar ao sol na Europa, os 1000 km de Mugello, válidos pelo World SportsCar Championship.

Com um equipamento limitado, os brasileiros andaram muito na primeira fase da disputa, até uma falha de ignição decretar o fim da disputa após 95 voltas completadas. Nos 800 km de Dijon, uma desclassificação por largarem empurrados mandou PV e Pradinho para os boxes após apenas duas voltas. Foi a última corrida de Pedro Victor, que voltou ao Brasil e tornou-se um apaixonado por cavalos.

O post é uma homenagem  – merecida – ao PV de Lamare, que está completando hoje 83 anos muito bem-vividos. Parabéns!

Na foto, o lendário Opala #84 disputando uma prova do Brasileiro de Divisão 3 em 1973, já pintado de amarelo. Esse carro depois seria vendido para Edson Yoshikuma. E quem fazia a parte de acerto era um certo Ricardo Divila.

Há 46 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • P.V. de Lamare foi provavelmente o responsável pela minha paixão por corridas . Quando fui ver a minha primeira corrida ao vivo em Tarumã me deparei com aquele Opala azul metálico 4 portas , igual ao do meu pai , foi instantanea a paixão ! Bela lembrança deste grande piloto !!

  • PV foi tricampeão da Divisão 3 Classe C em 1971, 72 e 73. Foi vice-campeão da primeira temporada de Fórmula Ford brasileira. Também correu na Fórmula Vê com Fittipaldi Vê. O Fúria- Chevrolet usava o motor 4 cilindros e o Avallone-Chevrolet o 6 cilindros. Sua berlineta Willys-Interlagos azul com faixas brancas chegou a andar na frente das de fábrica.

  • Parabéns por este DIRETO DO TÚNEL DO TEMPO. Li muito sobre ele nas minhas antigas edições da 4 Rodas. Sem dúvida, uma lenda, patrimônio do automobikismo brasileiro.

  • Rodrigo
    À Divisão 3 era ducacête e não era monomarca. Havia muita criatividade alívio e o Pedro Victor era um dos mais criativos.
    Abraço,
    Barba.