João Gilberto Prado Pereira de Oliveira

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O mar da Baía da Guanabara, Astrud silenciosa, João Gilberto e seu violão: o Papa da Bossa Nova, o gênio supremo da MPB partiu hoje, aos 88 anos. Triste e fragilizado. E também nunca reconhecido como merecia

RIO DE JANEIRO – Desnecessário dizer que a música brasileira – que há muito tempo não vive um bom momento – não foi mais a mesma a partir do momento em que João Gilberto Prado Pereira de Oliveira passou a existir e principalmente tornou-se o Papa da Bossa Nova.

Aliás, digam o que quiserem do baiano de Juazeiro, que hoje nos deixa aos 88 anos.

Chamem-no do que preferirem. De maluco, excêntrico, estranho… nenhum problema.

Quem não tem um quê de excentricidade, loucura e estranheza, não é não?

O difícil é negar a genialidade do homem que redefiniu a música brasileira. Muitos dizem que ela era uma antes de João Gilberto e outra, diferente e muito melhor, depois dele.

Como disse Ruy Castro, no definitivo livro Chega de Saudade, em que é contada a história e as histórias da Bossa Nova, em um minuto e dezesseis segundos apenas de uma única canção, João Gilberto redefiniu tudo.

E não lhe faltaram chances: quando deixou a Bahia rumo ao Rio de Janeiro, veio para o grupo Garotos da Lua para ser o crooner – onde não duraria muito por conta de constantes atrasos e faltas aos compromissos com os outros integrantes.

Sua carreira entraria num perigoso desvio até João compor “Bim-Bom” e trazer a famosa ‘batida’ que foi sua marca registrada daí para a frente – e que seria um marco após o lançamento do primeiro disco, “Chega de Saudade”. Ele tinha 27 anos quando o lançou, em 1959.

Após o show do Carnegie Hall em 1962 – não sem antes participar de “Encontro”, o legendário show no Au Bon Gourmet da Av. Nossa Senhora de Copacabana junto a Tom, Vinícius de Moraes e Os Cariocas, seguiu o exemplo de Tom Jobim, Sérgio Mendes e vários outros, explorando a carreira internacional. O que tornou-o ainda mais excêntrico (quando morava no México, tinha uma mesa de pingue-pongue em casa) e mais recluso também.

Casou-se com Miúcha Buarque de Hollanda após o relacionamento com Astrud, uma cantora igualmente baiana que conheceu no início de sua carreira profissional – o que o fez cunhado de Chico Buarque. Quem também seguiu carreira musical foi sua filha, Bebel Gilberto, que nos últimos dias de João administrou o dinheiro que vinha de direitos autorais.

Aliás, os últimos dias de vida do genial baiano foram extremamente tristes. Ele foi interditado pela família – o que gerou uma guerra entre Bebel e o irmão João Marcelo – e seu estado de saúde agravou-se ao saber da morte de Miúcha. João pesava apenas 40 kg, estava muito debilitado e sequer tinha plano de saúde.

Uma pena que o maior gênio da MPB em qualquer tempo tenha terminado a vida de forma tão injusta e inglória. Que a partir de hoje o seu imensurável legado para todas as gerações posteriores nos últimos 60 anos seja finalmente reconhecido à altura do que merece João Gilberto Prado Pereira de Oliveira.

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