Zero pessoas surpresas

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Tudo ou nada: Alex Albon troca de lugar com Pierre Gasly a partir do GP da Bélgica. O tailandês será mais uma vítima da “máquina de moer pilotos” patrocinada pela Red Bull?

RIO DE JANEIRO – A semana começa com uma notícia nada surpreendente para quem acompanha a Fórmula 1 e sabe muito bem como funcionam as coisas lá pelos lados de Red Bull e da filial Toro Rosso.

A máquina de moer pilotos fez mais uma vítima. Com efeito imediato, ou seja, já no GP da Bélgica que abre a parte decisiva da temporada 2019, Alex Albon entra na matriz como substituto de Pierre Gasly, que é rebaixado para sua antiga escuderia.

É o fim do zum-zum-zum que tomava conta da “Rádio Paddock” já há algum tempo. A falta de resultados pesou: Gasly foi incapaz de chegar perto de Max Verstappen em pontos nas 12 primeiras etapas. Fez 63 – o holandês, quase o triplo. Max conquistou duas vitórias, foi ao pódio cinco vezes e terminou no top 10 em todas as corridas até aqui. Gasly teve como melhor resultado um 4º lugar na Inglaterra, duas voltas rápidas e três abandonos. Na comparação, perde de lavada.

Havia no ar um sentimento de insatisfação.

“Precisamos de pontos e Gasly não os traz”, diziam os dirigentes.

Por outro lado, caíram por terra as declarações hipócritas de Christian Horner.

“Pierre terminará a temporada conosco”.

Sei… Conta outra…

E não há nenhuma garantia de que Albon chegará ao mesmo nível que Verstappen, que chegou à Red Bull da mesma forma que o novato: até porque o tailandês educado na Grã-Bretanha faz sua primeira temporada – com alguns bons momentos, é verdade.

Fica no ar a enorme dúvida se ele estará à altura de poder ocupar o segundo RB15 da equipe rubrotaurina e tentar fazer algo próximo do que faz o holandês, que ao sentar no carro da equipe principal, deu conta do recado de maneira absurda para alguém tão jovem quanto ele.

Talvez o talento e a capacidade de Verstappen sejam muito maiores do que qualquer um pode supor e nenhum de seus prováveis colegas estaria à altura dele. Nem Gasly, nem Albon e até Kvyat, que deve dar graças a Deus por ter tido uma segunda chance que, justiça seja feita, pilotos melhores que ele não tiveram.

Basta elencar alguns dos nomes que a Red Bull e a Toro Rosso fizeram questão de queimar: Brendon Hartley, Sébastien Bourdais, Jean-Éric Vergne e Sébastien Buemi, bem-sucedidos noutras categorias, talvez sejam os grandes exemplos. As exceções nesse processo foram Sebastian Vettel (preciso explicar a razão?), David Coulthard (que aposentou-se), Mark Webber (saiu da Fórmula 1 porque quis) e Daniel Ricciardo (que foi para a Renault, assim como Carlos Sainz Jr., outro que conseguiu se salvar).

De resto, a maioria não resistiu às pressões de Dr. Helmut Marko e seus blue caps. Ou foram jogados em imensas fogueiras ou definitivamente não corresponderam – e é o caso de Vitantonio Liuzzi, Scott Speed, Robert Doornbos, Christian Klien e Jaime Alguersuari, por exemplo.

Aliás, devo dizer que além de jogar fora a carreira de vários pilotos por exigir rápido demais de seus pilotos em performance – ou por escolhas equivocadas, algo que acontece – a Red Bull cometeu uma das grandes injustiças de seu programa, dispensando dele o português Antônio Félix da Costa, que tinha total competência e possibilidade de estar na turma de cima para ser o melhor piloto de seu país na categoria máxima.

Sem contar as sacanagens feitas com nomes que sequer conseguem chegar mais longe – Dan Ticktum, defenestrado do programa após os maus resultados na Super Formula japonesa, que o diga.

A ver de setembro em diante como Albon se sai. Certo é que o tailandês, muito disputado por Nissan (quase parou na Fórmula E) e pela Red Bull após uma ótima campanha na Fórmula 2, onde foi uma pedra no sapato de George Russell e Lando Norris, terá um desafio e tanto diante de si.

Se corresponder às expectativas, ótimo. Caso contrário… A imagem abaixo é autoexplicativa.

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Comentários

  • Época estranha em que pilotos sabidamente velozes tem carreira amputada na F1 para dar espaço para adolescentes, nessa busca por sabgue novo, a categoria vai criando um abismo enorme entre o topo e a base, o que é péssimo para a competitividade.

    Só nos últimos anos, Esteban Ocon, Felipe Nasr, Stoffel Vandoorme, Pascal Werhlein foram sumariamente defenestrados nessa sanha de se encontrar o novo Max Verstappen.

    George Russell é outro que parece correr seriamente esse risco e realmente é de se comemorar o fato do Sainz ter se salvado por enquanto.

    • Sempre foi assim, só os nomes que mudam. É um esporte feito de resultados, se eles não aparecem, o piloto dança. A Red Bull só pratica isso com mais frequência que as outras equipes. Não vejo nenhum problema em pilotos jovens e com talento ganharem chance em cima de veteranos que não mostram serviço. Temos vários exemplos desses no grid atual. Dos nomes que vc citou, só o Ocon fez alguma coisa, forçando um pouco, o Werhlein tbm teve bons resultados pilotando carroças, mas Nasr e Vandoorne fizeram por merecer a não renovação de seus contratos

      • Não, as coisas não foram sempre assim, não. E também não, vc não entendeu o que eu escrevi, não entendeu o contexto da colocação.

        E sim, isso é um problema, pois deixa a categoria com um fosso enorme entre seus pilotos e priva excelentes profissionais de fazerem carreira nela.

      • Se vc rolar esse blog para matérias anteriores verá que ninguém menos que Nigel Mansell foi batido por Elio de Angelis em seus primeiros anos e, mesmo assim, fez carreira, brigou, e acabou campeão da F1 e Indy. De novo, as coisas não foram sempre assim, não.

        Vandoorme e Nasr tiveram carreiras exemplares antes de chegar na F1, isso é fato, Wehrlein, então, é “apenas” campeão do DTM. A busca incessante por novos Leclercs e Verstappens é danosa, sim, dessa forma o grid será composto por Hamiltons e Strolls, o que será péssimo para a categoria, que precisa de seus Sainz, Magnussens e Hulkenbergs.

      • Um aparte: Elio de Angelis era muito bom piloto. O nível da Fórmula 1 nos anos 1980 era tão alto que você tinha pelo menos três ou quatro pilotos excepcionais e quase uma dezena de bons nomes.

      • Nasr antes da F1 demorou 3 anos para vencer uma na GP2. Vandoorne foi uma decepção sim, correu muito na World Series e GP2. Mas de novo, sem resultados…teve chance, dois anos. Werhlein foi bem no DTM, nos monopostos bem tanto, mas Di Resta tbm venceu o DTM e nem por isso ficou muito tempo na F1, nunca fez nada. São apenas 20 vagas, muitos pilotos aparecem todos os anos, nem sempre as promessas das categorias de base se provam, porém eles financeiramente são mais interessantes que alguns pilotos que figuram na categoria e não apresentam resultados. Acho normal. É assim em todo lugar. (menos na Racing Point, pq paiêeeee rs)

      • Só complementando, veja a lista de pilotos das temporadas dos anos 80 e 90 e perceberá a imensa quantidade de trocas que ocorriam durante a temporada. Comparando com hoje, acho que se tem muito mais paciência com os pilotos antes de tomar uma atitude

  • Perfeito, Mattar! A Red Bull, que tem a premissa de “formar” pilotos através de seu programa e sua equipe ‘júnior’, a Toro Rosso, está mais para um açougue. Gasly está mal? Com certeza. A equipe vai lucrar com a mudança? Muito provavelmente não. Albon naturalmente precisará de algumas corridas para conhecer o carro devidamente, se aclimatar com o novo grupo de pessoas com quem vai trabalhar, e até aí não estará apto a dar 100% do que ele pode entregar. E nesse meio tempo o time vai pressioná-lo para entregar mais pontos que Gasly na busca pela Ferrari no mundial. O garoto é bom, mas não mostrou nada que o credencie a um fora de série. E, ora vejam, tem consideravelmente menos pontos que Kvyat no campeonato (27×16). Sério que Horner/Marko espera que ele entregue mais pontos que Gasly nessas condições tão insalubres?

    Pra mim a Red Bull usa como método de trabalho a ROLETA RUSSA. E, ironia do destino, vitimou entre vários um russo hehehe

  • Se não me engano, também foi julgado o Verstappen quando foi para a Red Bull, muitos acharam que era um absurdo, pois não tinha tanta experiência, corria na World Series, nem passou pela GP2….só nos resta aguardar.

  • É um risco a troca, concordo, mas certeza que a Red Bull jogou a toalha pois chegou a conclusão que com Gasly não dá. O cara tava andando atrás das McLaren. Pediu para ser rebaixado

  • É notável que, a rigor, dentre as crias da casa, só tenham sobrevivido ao moedor de carne da Red Bull 3 pilotos – Vettel, Ricciardo e Verstappen. Um programa de formação de pilotos que não consegue formar pilotos…

  • Mas Rodrigo, se o Kyvat está na frente do Albon na classificação, porque não colocá-lo até o fim dessa temporada e tentar o Albon só ano que vem?

  • Rodrigo,
    vejo que é um tema recorrente dizer que a RedBull é uma moedora de pilotos, atribuindo uma conotação exagerada à postura do time de Hemut Marko. Eu concordo, mas a questão é que não é a RedBull que é uma moedora de pilotos, a F-1 é a moedora de pilotos e a RedBull apenas deixa isso muito escancarado em função de ter um programa de pilotos especifico para isso. Nem categoria nem a RedBull permitem aos novatos a ineficiência que alguns veteranos tem, mas essa é uma característica de toda a F-1, sempre foi assim.
    O fato é que não sabemos o que acontece dentro da equipe, nos bastidores, nas informações de telemetria. Estou certo que os diretores e engenheiros têm todas as informações disponíveis para fazer tal mudança e que esta não é simplesmente baseada em achismo.
    Dentro de um time de F-1 há fatos e informações que quem está fora nunca irá saber. O certo é que, moendo ou não, o programa é eficiente. Qualquer lista dos melhores pilotos da F-1 nos últimos anos terá um piloto RedBull no topo, independente se o preço pago por isso foi o sacrifício de outros pilotos. O fato é que na hora certa, alguns não demonstraram a eficiência exigida. Isso é automobilismo, isso é F-1.

    abraço

  • Eu já esperava por isso. Albon fez um belo campeonato ano passado, na GP, andando com um carro que nem sempre estava a altura dos carros de Norris, Russel e Sette Câmara. Esse ano, novato na F1, andou dando MUITO trabalho pro Kvyat, que não é inexperiente e está longe de ser um piloto lento.
    Pra mim estava claro que iam tirar o Gasly, que, inexplicavelmente, decepcionou. E certamente não trariam o Kvyat de volta, pra se bater com Verstappen, por conta do passado. Como Albon, apesar da inexperiência, tem andado na frente do Kvyat nas corridas (embora no final tenha feito menos pontos), bateu pouco, e tem se qualificado bem nos treinos, era a unica opção que a Red Bull tinha.
    O Buemi fez algum treino esse ano com a Red Bull/Toro Rosso, e não brilhou. Então não tinham outra opção, a não ser testar o Albon.
    O tailandês tem sido rápido e consistente. Não acredito que tenha talento pra se ombrear com o Máx, mas não espero que ele fique de 6 a 8 décimos distante, como Gasly. Acredito que ele vai se qualificar entre 3 e 5 décimos mais lento que o holandês, o que já será grande coisa.
    A equipe pode ser tudo, mas não ´é ingenua. Para terem feito isso é porque os resultados do tailandês no simulador devem ter sido bem melhores do que ele já mostrou na pista.
    Vamos aguardar e conferir. Em principio, acho que foi uma boa opção.
    E acredito que ele vai surpreender, embora não deva incomodar Verstappen.

    Por outro lado, se fosse eu no lugar do Marko e do Horner, teria tentado trazer o Nick Devries, que pra mim está no nível do Russel e do Norris, com um pouco mais de determinação e um pouco menos de cabeça.

    Antonio

  • Sempre a ironia ronda a equipe descartar pilotos a torto e direito e, novamente, não ter ninguém na linha sucessória, e mais ridiculamente ainda recontrata Kvyat e o próprio Albon. Lembrando que o Mark Webber que nem do programa era fez um mal danado esquentando o cockpit por tanto tempo…

    • Webber foi uma “herança” da Jaguar que, de certa forma, até deu certo na equipe. Mas quando se sentiu ameaçado pelo Vettel, resolveu se mandar antes que o mandassem pro saco.

  • Mas Mattar, o Christian Horner. não mentiu quando disse que “Pierre terminará a temporada conosco…”

    A Toro Roso é dele também!!!

    HE HE HE

    Falando sério agora, gostaria de ver Vettel de volta aos carros do Newey, de onde ele nunca deveria ter saído.

    Imagina Vettel e Max na mesma garagem…

    • Ao que eu saiba, o chefe da equipe Toro Rosso não é o Christian Horner. Como ele se multiplicaria em duas garagens ao mesmo tempo?

      • Ah Mattar, vai tudo pro mesmo buraco…

        HE HE

        Ou melhor, pra mesma “latinha”!!!

        HAUHAUHAUHAUHAU

  • Concordo com seu texto, mas acho que voce forcou um pouco ao citar Brandon Hartley e Bourdais. Esses simplesmente nunca conseguiram demonstrar resultados compativeis ao esperado no contexto em que se encontravam, ou seja, se queimaram sozinhos.

    Se a Red Bull tivesse seguido o caminho natural de promover o Sainz e mantido o Gasly na Toro Rosso certamente estaria colhendo mais resultados e nao queimaria etapas na formacao do Gasly.

    Simplesmente eu nao consigo entender a presenca do Helmut Marko na equipe. No dia a dia das operacoes ele aparenta ser uma pessima influencia para o ambiente da equipe. Se ele e realmente um descobridor e preparador de talentos, a equipe deveria mante-lo apenas nessa funcao.

  • Eu gosto dessa vida dura para os pilotos, F1 é assim mesmo, na verdade acho que ela anda norma demais, pilotos médios ficam demais ocupando vagas e trocando cebolas!
    No esporte a motor piloto bom chega e sai andando como gente grande ,não acho que tem que fazer escola dentro da categoria, nenhum grande campeão ficou chocando,chocando , os caras chegam e enfiam a bota no pedal correto , na verdade único piloto top que teve que chocar bastante foi o Mansell , mas depois que saiu da casca pisou e deu show!
    Hoje em dia muitos pilotos novos acabam passando pela F1 e não tem chances em times de ponta porque tem nego atrapalhando a fila andar sem merecer o posto.
    Go red bull machine!!!!!