Um título histórico

RIO DE JANEIRO – Um novo nome entra para os compêndios do Campeonato Mundial de Rali (WRC). O fim de um longo predomínio dos pilotos franceses e de nome Sébastien.

Finalmente, o que muitos achavam impossível, aconteceu: o estoniano Ott Tänak, com seu Toyota Yaris, finalmente quebrou a longa escrita que perdurava desde o título de Petter Solberg em 2003, batendo a supremacia de Sébastien Ogier, que perseguia o hepta antes de sua última temporada na modalidade.

Aos 32 anos, Tänak coloca pela primeira vez a Estônia no palmarés dos países campeões de uma modalidade sempre dominada pelos nórdicos – exceto o absurdo predomínio de Loeb e Ogier, sem contar Didier Auriol, Carlos Sainz (o pai) e Miki Biasion. O país que foi uma das antigas repúblicas da extinta URSS é, inclusive, até mais próximo daquela região do que da própria Moscou, hoje capital da Rússia.

Tanto que jamais deixou de ser surpresa a presença maciça de estonianos torcendo por seu piloto nas provas da Suécia e Finlândia nesta temporada. E não só há a questão geográfica. Talvez a Estônia seja de todos os países independentes da União Soviética o mais influenciado pela origem e pelos costumes escandinavos.

Com seis vitórias nos 12 eventos anteriores do calendário até antes do início do Rali da Catalunha (Costa Dourada), o último evento de asfalto do WRC neste ano, Tänak e seu copiloto Martin Järvejoja tinham grandes chances de faturar o caneco de forma antecipada – desde que abrissem 30 pontos de diferença para Ogier ou Thierry Neuville.

Por sinal, o belga da Hyundai fez de tudo para tornar a conquista mais difícil. Dominou de cabo a rabo a competição e chegou a uma vitória que não vinha desde a 4ª etapa, o Rali da Argentina. Neste domingo, o belga e seu navegador Nicolas Gilsoul administraram a diferença e só ganharam o SS14 em Riudecanyes. Depois, fizeram o suficiente para levar a terceira etapa na temporada.

Tänak era o terceiro quando o domingo começou e após a penúltima especial, tinha cinco segundos e oito décimos de diferença para o espanhol Dani Sordo, também da Hyundai e o grande especialista do Rali da Catalunha. Mas o piloto da Toyota decidiu liquidar a fatura no Power Stage.

Com uma atuação inspirada na segunda passagem por La Mussara, Tänak conseguiu bater o tempo de Sordo em seis segundos e dois décimos, trocando de posição por quatro décimos. Levou a pontuação máxima extra que, somada aos 18 pontos do 2º lugar lhe deu 23.

Numa conta simples, Neuville, que estava a 41 do estoniano, descontou cinco por ter feito 28 – 25 da vitória e três do Power Stage. E como Sébastien Ogier/Julien Ingrassia não mais saíram do 8º lugar, jogo feito, fatura liquidada. Tänak/Järvejoja campeões do mundo.

Na batalha Hyundai-Toyota pelo cetro de construtores, os sul-coreanos, com a vitória de Neuville e o pódio de Sordo chegaram a 380 pontos. Os comandados de Tommi Mäkinen têm 362. Disputa indefinida para a última etapa, na Austrália.


Que, aliás e a propósito, poderá ser a última de Tänak como piloto Toyota. A Autosport britânica crava o novo campeão do WRC levando o número #1 para a rival de sua equipe. Isso mesmo: o estoniano já estaria de contrato assinado com a Hyundai para 2020.

A Toyota, aliás, já assinou com o campeão do WRC2 Pro Kalle Rovanperä e não será surpresa se, já que Kris Meeke e Jari-Matti Latvala não têm ainda seus compromissos renovados, que Ogier decida por uma troca-surpresa e feche com a marca nipônica para uma última campanha na modalidade.

Outra possibilidade é Sébastien Loeb: embora tenha firmado um acordo para se revezar num terceiro Hyundai com Dani Sordo, nada impede que esse acordo seja rompido e vejamos o monstro de Haguenau num Yaris.

Já pensaram?

Essa dança das cadeiras promete. E não é pouco, não.

Resultado final do Rali da Catalunha:

1 – Neuville-Gilsoul (Hyundai i20 WRC) – 3.07’39″6
2 – Tanak-Jarveoja (Toyota Yaris WRC) – 17″2
3 – Sordo-Del Barrio (Hyundai i20 WRC) – 17″6
4 – Loeb-Elena (Hyundai i20 WRC) – 53″9
5 – Latvala-Anttila (Toyota Yaris WRC) – 1’00″2
6 – Evans-Martin (Ford Fiesta WRC) – 1’14″2
7 – Suninen-Lehtinen (Ford Fiesta WRC) – 1’47″6
8 – Ogier-Ingrassia (Citroen C3 WRC) – 4’20″5
9 – Ostberg-Eriksen (Citroen C3 WRC2Pro) – 8’24″6
10 – Camilli-Veillas (Citroen C3 WRC2) – 8’47″2

Classificação do campeonato:

1. Ott Tänak (campeão por antecipação) – 263 pontos
2. Thierry Neuville – 227
3. Sébastien Ogier – 217
4. Andreas Mikkelsen e Elfyn Evans – 102
6. Kris Meeke – 98
7. Jari-Matti Latvala – 94
8. Dani Sordo e Teemu Suninen – 89
10. Esapekka Lappi – 83
11. Sébastien Loeb – 51
12. Kalle Rovanperä – 18
13. Pontus Tidemand – 12
14. Craig Breen – 10
15. Gus Greensmith – 9
16. Benito Guerra – 8
17. Marco Bulacia Wilkinson e Mads Østberg – 6
19. Jan Kopecky – 5
20. Yoann Bonato – 4
21. Ole Christian Veiby, Pierre-Louis Loubet e Stéphane Sarrazin – 2
24. Nikolai Gryazin, Takamoto Katsuta, Eric Camilli, Emil Bergkvist, Adrien Fournaux, Pedro Heller, Janne Tuohino, Ricardo Triviño e Petter Solberg – 1

Comentários

  • Acho que o Loeb já fez tudo o que tinha de fazer no automobilismo.
    Logo se eu fosse o “Monstro de Haguenau”, como voce chamou (gostei), pendurava o capacete, as luvas e as sapatilhas e não me arriscaria mais – Rally é perigoso – nem a vida, nem a reputação.
    Afinal, ele já está meio coroa…se bem que o rally permite desempenhos bons até mais idade. Mas eu, se fosse ele, pararia. Éh o melhor de todos os tempos, não precisa provar mais nada.