Dakar, capítulo III

RIO DE JANEIRO (Faltam 45 dias!) – A organização do Rali Dakar anunciou nesta quarta-feira o percurso da prova que será realizada pela primeira vez no Oriente Médio, a partir do próximo dia 5 de janeiro.

Em 2020, será escrito o terceiro capítulo da história da prova concebida por Thierry Sabine, que de 1979 até 2007 foi toda disputada na África, com largada promocional na Europa, principalmente em Paris.

Mas vieram as ameaças terroristas (leia-se Al-Qaeda) e o evento de 2008, pela primeira e até hoje única vez na história, foi cancelado.

A partir de 2009, o Dakar respirou novos ares. Ares sul-americanos, passando por Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia e Peru.

Mas como tudo que é bom dura pouco, o ASO se rendeu aos petrodólares (justo, até porque o esporte também é business) e a competição vai para as dunas e areias da Arábia Saudita.

Que ninguém se queixe da falta delas nas especiais, posto que haverá 65% do percurso nesse tipo de terreno. Serão 7.500 km percorridos e pouco mais de 5.000 km cronometrados, a partir de Jeddah até Qiddiyah, passando por Riyadh, cidade na qual haverá o Rest Day.

Estão previstas duas etapas “laço” em Neom e Wadi Al-Dawasir, além de um bate-e-volta entre Haradh e Shubaytah com direito à especial Maratona, sem assistência remota das equipes para os pilotos.

Dessa vez o ASO caprichou na maldade. Fará essas etapas na reta final da competição, entre os dias 15 e 16. Serão 913 km cronometrados – tudo isso após o dia mais longo, com 891 km entre especial e trechos de ligação.

A etapa mais longa a se percorrer será a sétima, que marca o início da segunda semana do Dakar 2020. Entre Riyadh e Wadi Al-Dawasir, são 546 km de especial.

Além do roteiro definitivo, o ASO também apresentou outros números. Os de competidores.

São 351 veículos e 557 competidores – 85 destes, estreantes. O total é 5% superior ao de 2019. Mas para os brasileiros, a mudança do evento da América do Sul para a Arábia Saudita foi como um golpe quase mortal.

E para mim, que sou um fã das provas de off-road do gênero, é triste ver ao que foi reduzida a participação do país. Três pilotos somente, em duas categorias.

Antônio Lincoln Berrocal tentará outra vez completar a prova. Ele estreou no evento ano passado e competirá com o dorsal #129.

Nos UTVs, talvez esteja a nossa única chance de vitória, com Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin. A dupla campeã do evento em 2018 na categoria vai em busca do bi com o Can-Am #402.

Desmembrando por classes, o plantel terá 147 motocicletas, 23 quadriciclos, 47 UTVs e caminhões, além de 87 carros.

Nas duas rodas, o pelotão de pilotos é muito competitivo, com o australiano Toby Price envergando o #1 do título de 2019 e liderando a esquadra KTM que terá ainda Matthias Walkner, Sam Sunderland e o argentino Luciano Benavides.

As japonesas Yamaha e Honda não medem esforços para brigar de igual para igual com o construtor austríaco – invicto desde 2001 na categoria. Os franceses Adrien Van Beveren e Xavier de Soultrait, além de outro argentino – Franco Caimi – são as escolhas da marca dos três diapasões.

Na Honda, mudanças: segue o aguerrido, porém pouco sortudo Joan Barreda Bort, com Ricky Brabec e dois sul-americanos: Nacho Cornejo Florimo e Kevin Benavides, 5º colocado na geral neste ano.

Paulo Gonçalves deixou o HRC e estará na Hero, junto ao espanhol Oriol Mena e ao também português Joaquim Rodrigues. E não nos esqueçamos da Husqvarna, com Pablo Quintanilla e Andrew Short como principais forças.

A Sherco também terá um investimento no Dakar 2020. Os pilotos de fábrica serão Michael Metgé e Johnny Aubert, ambos franceses, além do espanhol Lorenzo Santolino.

Com a tradicional marca Gas Gas, Laia Sanz será piloto oficial de fábrica: a espanhola disputa o Dakar e o Mundial Cross-Country da FIM

Laia Sanz integrará um time oficial de fábrica após vários anos com equipamento satélite da KTM: a simpática e competente espanhola vai com a Gas Gas, que investirá pesado no próximo ano em parceria com a Standing Construct – não só no primeiro grande evento off-road do planeta como também no Mundial de Enduro e no Motocross, tendo contratado Glen Coldenhoff e o italiano Ivo Monticelli para o MXGP.

Nos times privados, destaque para os eslovacos Ivan Jakes e Stefan Svitko, Ross Branch, de Botswana e o veterano Juan Pedrero Garcia.

Os demais são os velhos aventureiros de outros Carnavais e muitos dos pilotos inscritos vão competir na classe Original – são 41 que tentarão chegar à última etapa sem qualquer tipo de assistência remota.

Guerreiros, hein?

Nos Quads, a situação econômica da Argentina não favorece a muitos de seus pilotos se aventurarem na Arábia Saudita. Tanto que o atual campeão Nicolás Cavigliasso nem vai para a prova de 2020 – Jeremías González Ferioli, outro argentino, também havia confirmado anteriormente que estava fora por motivos de (falta de) grana.

Apesar disto, ainda haverá quatro pilotos do país na prova e a grande atração da categoria é o retorno de Ignácio Casale, após uma experiência nos UTVs. Campeão em 2014 e 2018, ele tenta o tri.

E terá concorrência boa, com o polonês Rafal “Super” Sonik e seu compatriota Kamil Wisniewski; os franceses Simon Vitse, Sébastien Souday, Alexandre Giroud e Axel Dutrie; além do paraguaio Nelson Sanabria Galeano e do principal argentino, Mariano Andújar.

Nos carros, anote este número: #310. É com esse dorsal que o bicampeão mundial de Fórmula 1, das 24h de Le Mans e atual campeão do FIA WEC Fernando Alonso vai fazer seu debute no Rali Dakar.

E junto a um mega-campeão do evento: Marc Coma, craque nas motos, antigo diretor esportivo do evento e que vai ser navegador em carros pela primeira vez.

Convenhamos: a dupla está longe de ser favorita, mas o que o Dakar ganha com a presença de Alonso em termos de mídia espontânea será tremendo.

A lista é encabeçada pelos atuais campeões Nasser Al-Attiyah e Matthieu Baumel, colegas de Alonso/Roma na Toyota – além deles, outras duplas da equipe do construtor japonês são Giniel De Villiers/Alex Haro (que vão trabalhar juntos pela primeira vez na competição) e Bernhard Ten Brinke/Tom Colsoul.

Nani Roma terá o antigo piloto de motos Daniel Oliveras Carreras como seu copiloto no carro #301 inscrito pela Borgward, uma das novidades deste Dakar. O modelo BX7 DKR EVO tem preparo da Wevers Sports, na Holanda.

A X-Raid preparou novos buggies com a marca Mini, que serão entregues às lendas Stéphane Peterhansel (tendo a mulher Andrea como navegadora pela primeira vez) e “El Matador” Carlos Sainz, que volta a competir em parceria com Lucas Cruz Senra.

O time de Sven Quandt, contudo, terá ainda duplas periféricas formadas por Kuba Przygonski/Timo Gottschalk, Orlando Terranova/Bernardo Graue e Boris Garafulic/Filipe Palmeiro, por exemplo.

Olho também nos que vêm comendo pelas beiradas: Martin Prokop, Sheik Khalid Al-Qassimi, Yazeed Al-Rajhi, Erik Van Loon, Vladimir Vasilyev, Ronan Chabot, Christian Lavieille, Romain Dumas – todos bons nomes, capazes de terminar no top 10.

Nos UTVs, o chileno Chaleco López encabeça a relação de favoritos ao título, junto a Gérard Farres Guell, Reinaldo Varela, Conrad Rautenbach, Casey Currie e Sergey Kariakin.

De novidade, a estreia do cazaque Arthur Ardavichius, após muito tempo nos “brutos”, além da participação confirmada de Josef Máchacek, o primeiro campeão de Quads no Dakar em território sul-american, dos poloneses Aron e Maciej Domzala – e do folclórico holandês Kees Koolen, que chegou a ser CEO do Booking.com.

Last, but not least, nos caminhões a esquadra russa da Kamaz será comandada por Eduard Nikolaev, Dmitry Sotnikov, Andrei Karginov e Anton Shibalov. Contra eles, estarão os velhos conhecidos Ales Loprais, Siarhei Viazovich, Martin Macik, Martin Van den Brink e Aleksandr Vasilyev.

Notaram ausências? Pois é… Gerard De Rooy não disputará a prova no ano de 2020, assim como o argentino Federico “Coyote” Villagra. Mas talvez o nome mais significativo a ficar de fora é o do lendário japonês Yoshimasa Sugawara.

Aos 78 anos de idade e o recorde de 36 participações no evento, que terá sua 42ª edição em 2020, ele decidiu se aposentar. Seu filho, Teruhito, de 47 anos, vai para sua 21ª aparição no evento, liderando a equipe da família num caminhão japonês Hino – onze vezes campeão na categoria de Caminhões abaixo de 10 litros de cilindrada cúbica.

Comentários

  • Mesmo quando o Dakar era na Argentina era muito pouco a presença de pilotos Brasileiros,a Laia Sanz ela vai correr pela equipe oficial da Gasgas

  • Honestamente, pra quem já viu o evento de proporções continentais que correu em terras europeias e africanas, esse novo capítulo parece ridículo. O Alonso não tem como voltar no tempo para tirar a dúvida, mas as conquistas dele na minha opinião tem valor muito inferior ao que Jackie Ickx e Graham Hill fizeram em seus tempos.