Preciosidade

RIO DE JANEIRO – Quem acompanha automobilismo em sua essência tem o estranho costume de reverenciar máquinas de performance duvidosa – até porque elas ficam eternizadas no folclore do esporte, pelos mais variados motivos.

Imaginem se começássemos a mexer mais fundo na história e buscar projetos que efetivamente existiram e, por circunstâncias outras, não saíram das garagens e testes para temporadas nas pistas.

O Dome F105 de Fórmula 1 terá sido um desses carros.

Fundada em 1975 pelos irmãos Minoru e Shoichi Hayashi, a Dome Cars construiu desde Esporte-Protótipos de Grupo C e LMP1/LMP2 até monopostos como o Fórmula 3000 que deu o título a Marco Apicella no Campeonato Japonês de 1994.

No ano seguinte (1995), Tadashi Sasaki – que trabalhara na Minardi – foi o ponta de lança do projeto de um Dome de Fórmula 1. O designer do carro seria Akyioshi Oku, o mesmo que faria o Dome S101 de LMP1 e que começaria a dar forma ao F105 no verão do hemisfério norte.

O carro ficou pronto em 18 de março de 1996.

Caixa de câmbio e sistemas hidráulicos, por conta dos contatos de Sasaki, foram adquiridos junto à Minardi. A transmissão era Xtrac sequencial com seis marchas. E o motor era o mesmo MF301 da Mugen Honda, com 10 cilindros – fornecedora da Ligier.

Três pilotos fizeram testes com o carro oriental: Marco Apicella, Shinji Nakano e Naoki Hattori. Apicella foi o mais crítico durante a fase de desenvolvimento. O italiano avaliou o carro como “instável” e mole demais nas frenagens. Apresentava comportamento inconstante, com tendência de sair de frente e de traseira na entrada e saída das curvas.

Não obstante, um vazamento de óleo num dos testes em Suzuka comprometeu o desenvolvimento do carro, que fez mais ou menos 1.500 km de treinos em dois meses.

A Dome queria estabelecer um programa de testes visando a temporada de 1997, durante o ano de 1996. Mas faltava o principal: dinheiro. No outono, Minoru Hayashi e Tadashi Sasaki – que depois levaria Tora Takagi para a Fórmula 1 – confirmaram o fim da aventura por falta de patrocinadores.

Shinji Nakano foi encaminhado à Prost e depois andaria de Minardi em sua curta carreira na Fórmula 1.

O vídeo acima traz imagens históricas dos testes do Dome F105. Deliciem-se com o ronco do motor V10 Mugen Honda. É uma preciosidade que merece ser compartilhada para os leitores e leitoras do blog.

Comentários

  • É, parece que o Brasil não é o único país que sofre por falta de apoio em relação a projetos importantes…
    Rodrigo, será que esse carro da Dome foi o único F1 feito no Japão (já que os carros da Honda, da Maki, da Kojima e da Super Aguri eram feitos na Ingaterra, salvo engano, e o carro da Toyota era feito na Alemanha)?
    No mais, parabéns por desenterrar mais uma relíquia (um tanto desconhecida) dos velhos tempos da F1.

  • Ao menos no wikipedia os Honda antes do Hondola foram feitos em Tóquio, sendo que ainda existiu um protótipo que chegou a ser desenvolvido com a Lotus, mas o projeto não foi adiante. Também já li que o carro estreante foi uma mistura de um Cooper-Climax de 1961 com o projeto abortado da Lotus.