#KingOfWTCR

No clique de Florent Gooden, Norbert Michelisz recebe o troféu de campeão num pódio com direito a trono celebrando o “Rei do WTCR” (DPPi)

RIO DE JANEIRO – A última competição do automobilismo internacional decidida em 2019 foi sensacional: a finalíssima do WTCR disputada em Sepang, na primeira visita da categoria à Malásia, foi daquelas que ficarão para a história. Especialmente de quem foi campeão.

O húngaro Norbert “Norbi” Michelisz, de 35 anos, chegou enfim ao topo das competições de carros de turismo, perserverando mais de uma década em busca de um troféu. Saído das competições locais, ele veio galgando degraus, foi o vice-campeão do WTCC em seu antigo formato no último ano da categoria e, dois anos depois, chegou ao título do WTCR.

E foi com luta, com raça, garra e entrega. De ambas as partes. Tanto de Michelisz quanto de seu maior adversário, o argentino Estebán Guerrieri, que valorizou muito a conquista do húngaro.

A decisão começou com quatro pilotos – mas pelos resultados dos treinos oficiais, anteveu-se que os representantes da Lynk & Co. teriam problemas. Um carro muito lastreado e com mau desempenho a despeito das longas retas do traçado malaio não foi o suficiente para levar Thed Björk mais à frente. Pelo menos na prova #1, Yvan Muller ainda se salvou, mas precisou do colete salva-vidas para se manter vivo na briga.

Michelisz fez a parte dele: pole position, venceu a corrida inicial de ponta a ponta numa pista muito traiçoeira, onde quem deu show foram Guerrieri, que conseguiu ser o 4º colocado e também João Paulo de Oliveira.

Correndo como convidado – embora com bandeira do Japão no caracteres da transmissão – o brasileiro andou num Honda da KC Motorgroup e veio de 13º no grid para 5º lugar. Desempenho tão bom que irritou o multicampeão Yvan Muller. E que deu ao “Oribeira” a melhor volta da corrida.

Na prova #2, o caos se instaurou por conta da chuva que apertou no circuito malaio e deixou a visibilidade próxima de zero para quem andava no spray. Guerrieri sabia que não podia perder a oportunidade e fez uma corrida de muita agressividade. Largou de forma excepcional vindo de nono lugar e ainda no início alcançou a liderança.

Michelisz, inclusive, chegou a sair da pista num trecho com muita aquaplanagem. Acabou salvo pelo incêndio num dos outros Hyundai, guiado por Nicky Catsburg. Do nada, o i30 N TCR do holandês pegou fogo. O piloto conseguiu sair rapidamente. E acabaria excluído da prova final do campeonato por bater em Yvan Muller na curva 9 do circuito malaio, num inédito banimento de um piloto no WTCR em 2019.

A bandeira vermelha deflagrada pela direção de prova salvou Michelisz, que passara no fim da primeira volta em 13º. O magiar ainda avançou e, com garra, foi o oitavo, conquistando pontinhos cruciais. Estebán Guerrieri venceu, manteve suas chances vivas e Yvan Muller foi eliminado da batalha.

Destaco a corrida fantástica do sueco Johan Kristofferson, que veio de 22º e terminou em terceiro, só não ultrapassando o segundo colocado Mikel Azcona porque um Safety Car foi acionado em decorrência de problemas com o Honda de Attila Tassi.

O melhor ainda estava por vir.

Já de noite, com a luz artificial e a dos faróis, a prova #3 contrapunha Guerrieri e Michelisz – com os dois lado a lado na primeira fila do grid.

O argentino começou melhor e partiu para a ponta. Só a vitória lhe salvava. Michelisz tinha que perder no mínimo 12 pontos para o rival levar o título.

E eventualmente Michelisz chegou a andar em quarto ou quinto. Encapetado, Kristofferson, especialista do Rallycross e com autoridade de quem guiou a vida inteira na gelada Suécia, deitou e rolou, vindo outra vez de 22º para a linha de frente.

A disputa pela liderança entre ele, Azcona e os dois postulantes ao título já é um épico do esporte. Aula de car control, de agressividade e principalmente de arrojo e técnica de todos eles.

Mas houve pequenos exageros. Azcona não hesitou em tentar tirar Guerrieri do caminho e o argentino respondeu com um controle fantástico de seu Honda Civic. A manobra, porém, custaria caro: tufos de grama taparam a entrada de ar do motor. Houve superaquecimento e perda de potência. Luzes no painel indicavam o fim para Guerrieri.

Com isso, Michelisz já era campeão, uma vez que o rival estava alijado da zona de pontos. Mas o húngaro resolveu terminar o fim de semana com honra, chegou em quinto na pista e fez o bastante para ser campeão.

Azcona não resistiu à pressão de Kristofferson, que fez prova monumental e venceu a última etapa. O espanhol da PWR Racing foi penalizado pelo incidente com Guerrieri e baixou de segundo para 14º. Kevin Ceccon herdou o segundo post, Fred Vervisch foi o terceiro e assim Michelisz consolidou a conquista com o quarto posto final.

Só que o título foi mais suado do que se imagina. Acompanhe o relato.

“No final da corrida #2 senti uma vibração estranha e um ruído metálico dentro do carro”, explicou Norbi. “Indo para o grid da corrida #3, acelerei a fundo e não havia resposta. Sinceramente, pensei que tinha acabado. Chegando no grid, o carro apagou. Tive sorte de chegar à minha posição inicial”, prosseguiu o campeão.

“Não sei o que aconteceu: tentando religar o carro vi que ele estava em dois ou três cilindros. Tive a sorte de conseguir resetar tudo para a volta de apresentação, mas honestamente eu não casaria um dinheiro pela minha conquista quando comecei a prova #3”, relatou Michelisz.

“Foi de longe o dia mais longo da minha vida, com altos e baixos. Não consegui dormir à noite. Meu pensamento era apenas nas três corridas. Era uma montanha-russa, mas finalmente conseguimos o que queríamos.”

“É difícil descrever as emoções que sinto agora”, comentou o húngaro. “Mais importante que tudo, é o agradecimento à minha família, equipe e, claro, ao povo húngaro que me apoia há mais de dez anos. Você tem que levar em consideração que antes disso eu apenas jogava no computador, esperando começar uma carreira profissional. Consegui fazê-lo e não apenas isso, mas aqui, ganhando o campeonato mais importante de carros de turismo. É simplesmente inacreditável”, concluiu.

Em tempo: a Lynk & Co., via Cyan Racing, levou o título de campeã entre as equipes e o brasileiro Augusto Farfus, de volta após se ausentar em Macau, classificou bem nos treinos, mas não conseguiu um único ponto na Malásia, fechando o campeonato com a 15ª colocação ao final das 10 rodadas triplas do FIA WTCR.

Comentários

  • Acho que o Catsbury teve um vazamento de óleo ou combustível na reta antes da curva, justificando o monte de carros passando reto, ele era o primeiro que saiu da pista. O fogo deve ser decorrência do óleo ter ido para as pares quentes.

  • Que corridas foram essas 3 últimas… que coisa sensacional!
    Obrigado pela transmissão espetacular. Cheguei a levantar da cadeira na corrida #3 quando os 4 primeiros ficaram lado a lado.

    Um abraço!

  • Caro Rodrigo. Durante a transmissão vocês – e eu também – acharam estranho que nos caracteres o JP Oliveira estava com a bandeira do Japão. Fiquei mais curioso pelo fato de que o carro que ele correu estava também com a bandeira do Japão não só junto ao nome na lateral mas ela se repetia nos retrovisores. Cheguei a pensar que ele tivesse se naturalizado mas no Aston Martin que corre na GT300 a bandeira brasileira continua. A bandeira de nacionalidade sempre representa o país de nascimento do piloto ou pode representar outra situação? Grato.