24h de Daytona com recordes, vitória da Wayne Taylor e bicampeonato de Farfus

RIO DE JANEIRO – As 24h de Daytona não decepcionaram na edição 2020, mesmo tendo o pior grid de sua história com apenas 38 carros na largada. O índice técnico foi muito bom – apenas seis carros desistiram. Foi uma corrida de recordes e que marcou repeteco de vitória de fabricantes, principalmente em relação à última edição.

Um dos recordes foi o maior período de bandeira verde já registrado na história da corrida. Entre as 2h13 e as 9h51 da manhã, foram 7h48min28seg de pista livre. O que contribuiu também, além do baixo número de carros, para que a corrida tivesse igualmente outro recorde.

Foram 833 voltas percorridas e 4.772, 48 km alcançados pelo carro #10 da Wayne Taylor Racing – que atinge assim a terceira vitória em quatro edições desde a entrada do regulamento DPi.

Principalmente com uma pilotagem exemplar de Kamui Kobayashi, que foi um demônio na pista e ajudou os titulares Ryan Briscoe e Renger Van der Zande, mais o multicampeão da Indy Scott Dixon a comemorar no Victory Lane ao lado do patrão – quatro vezes campeão da prova com sua equipe – e que, aliás, na primeira ganhou como piloto, ainda no tempo da Rolex SportsCar Series.

A tripulação do #10 dominou grande parte da disputa e a vitória veio ao natural, com boa vantagem sobre a Mazda de Oliver Jarvis/Tristan Nunez/Olivier Pla e o Cadillac de João Barbosa/Loïc Duval/Sébastien Bourdais, que completaram o pódio.

Ótima estreia de Matheus Leist, que junto a Chris Miller, Tristan Vautier e Juan Piedrahita levaram o top 5 geral com um carro que não tinha condição de brigar pela vitória. O gaúcho acabou sendo o melhor brasileiro ao final da prova na classe DPi porque os favoritos tiveram problemas.

A começar por Hélio Castroneves, cujo Acura levou uma traulitada do Mazda #55 então guiado por Harry Tincknell numa dividida de curva que podia ter mandado o Homem Aranha pro hospital.

Não acho que tenha sido incidente normal de corrida. Não acho que tenha sido só para um drive through (sim, é a regra, infelizmente) e eu nunca vi o Helinho tão possesso quanto vi ontem.

“Eu já tinha avisado para a equipe dizer que se ele tivesse uma oportunidade para passar, eu deixaria. Falei ainda para avisar a ele (Tincknell) ter paciência que a gente estava chegando nos líderes”, desabafou o piloto brasileiro.

O Acura Team Penske se debruçou nas partes danificadas – radiador, suspensão e assoalho – e fez as mudanças necessárias. O carro perdeu 23 voltas e mesmo assim recuperou de último lugar para chegar em 8º na geral.

A Action Express, de Pipo Derani e Felipe Nasr, certamente também esperava mais da corrida. Tiveram um prosaico problema com um adesivo que se soltou do próprio carro e foi parar – ora vejam! – na entrada de ar, roubando potência.

Conseguiram se recuperar com o primeiro Safety Car e estavam bem na foto, quando no turno de pilotagem de Mike Conway quebrou primeiro a segunda marcha e após isso, a primeira.

Até onde deu, levaram fazendo o miolo em 3ª marcha, até que as engrenagens foram moídas quando Filipe Albuquerque assumiu. O jeito foi parar de novo e trocar tudo. Nessa brincadeira, perderam nove voltas e qualquer chance de lutar lá na frente. Acabaram em 7º lugar.

Na LMP2, não houve muita disputa, mas dessa vez os carros foram pelo menos bem mais resistentes do que em muitas corridas do ano passado, onde só dois largavam e às vezes os dois ficavam pelo caminho.

Venceu a DragonSpeed, que triunfou com o carro #81 pelo segundo ano seguido, desta vez guiado por Henrik Hedman/Ben Hanley/Harrison Newey/Colin Braun. Cruzaram com uma volta inteira de frente sobre o #52 de Ben Keating/Gabriel Aubry/Simon Trummer/Nicholas Boulle. A ERA Motorsport fez uma estreia honesta e levou o pódio com Nicolas Minassian/Dwight Merriman/Kyle Tilliey/Ryan Lewis.

As divisões de Grã-Turismo, para nenhuma surpresa, foram as que mais ação ofereceram no domingo e o torcedor brasileiro ficou feliz: a BMW triunfou com estratégia e competência, além de uma pilotagem animal de Jesse Krohn no turno final, apresentando seu cartão de visitas na primeira vitória dele na IMSA. E em grande estilo.

Porque o finlandês e seus parceiros John Edwards, Chaz Mostert e Augusto Farfus derrotaram o poderoso esquadrão da Porsche, tido como favorito absoluto à vitória e dominante em boa parte da disputa.

Na transmissão ontem do Fox Sports, Farfus foi enfático. “O carro tem que ser bom para nós todos e a estratégia será manter na mesma volta dos líderes para decidir nas quatro últimas horas.” E não deu outra.

À Porsche restou ficar com as posições seguintes de pódio e a Corvette ainda salvou um bom 4º lugar com Jordan Taylor/Antonio Garcia/Nicky Catsburg. “Nosso carro tem potencial de vencedor”, avaliou Garcia.

Daniel Serra foi o único brasileiro a não finalizar a clássica corrida da Flórida junto a Ale Pier Guidi, Davide Rigon e James Calado. Além da falta de potência da Ferrari por conta do BoP pós-ROAR (falou-se em 25 HP a menos), a equipe enfrentou três furos de pneus e o terceiro foi fatal. Quebraram-se partes mecânicas e decidiu-se pela retirada do vermelho #62 da disputa.

Na GTD, a Lamborghini emplacou a terceira vitória consecutiva na Flórida e a primeira com a Paul Miller Racing após o bicampeonato da GRT Grässer. O carro de Corey Lewis/Andrea Caldarelli/Madison Snow/Bryan Sellers derrotou a GRT Magnus com Spencer Pumpelly/John Potter/Marco Mapelli/Andy Lally.

Aliás, todas as tripulações no pódio tinham pelo menos um italiano a bordo: a WRT Speedstar fechou o top 3 no Audi guiado por Rolf Ineichen/Mirko Bortolotti/Daniel Morad/Dries Vanthoor.

A participação da equipe de Kyle Busch foi bastante discreta e o astro da Nascar, atual campeão da Cup Series, chegou em 9º lugar junto aos companheiros Jack Hawksworth, Parker Chase e Michael De Quesada. E Felipe Fraga fechou em 11º no Mercedes-AMG que contou com Gar Robinson, Ben Keating e Lawson Aschenbach.

A próxima parada é em Sebring, no mês de março. Tomara que seja uma corrida tão boa quanto esta que vocês puderam acompanhar na tela do Fox Sports neste fim de semana.

Comentários

  • Realmente foi uma corridaça em três das quatro classes (LMP2 não). Não tem como ser outro. para mim, e acho que para todos, o nome da DPi foi o Koba San. Esse sim é o mito que eu respeito. Por que choras. F1?
    Na GTLM, inicialmente torci loucamente pelos novos Corvette, apesar de preferir o ronco do antigo motor mas, sempre simpatizei com este BMW M8, ainda achando estranho o padrão de design da marca (sempre carros muito grandes…o M6 já era uma banheira), ainda mais sendo o carro de conceito mecânico mais antigo, foi uma vitória maiuscula da marca e o “menino” Jesse Krohn mostrou suas credenciais. Pena que o BoP do IMSA impediu a Risi de disputar vitória.

  • Media horária de 198.9 km/h, número.muito bom para uma.prova de 24h !
    A pilotagem de Jesse Khron foi boa, mas não tão espetacular: o fato eh que a BMW soltou a cavalaria após a penúltima parada, e o carro ficou nitidamente mais rapido que os Porsches! Enquanto Khron e Bamber estavam disputando, ambos estavam virando em.torno de 1:43 5/10, mas melhores passagens. Quanfo a BMW voltou dos boxes e, de pneus frios, foi facilmente ultrapassada por Nick Tandy, deu-se a falsa ilusão que nao teria armas pra brigar com os (lindos) carrinhos brancos de Stuttgart. Mas logo depois Khron passou a virar 1 42 e baixo, aproximou-se e passou do meio pro fim da reta após a bus stop, com facilidade (a freada foi por fora, mas ele. a estava pelo 1 carro e meio a frente). A diferenca de velocidade de reta da BMW pro Porsche, que ja existia ate entao, passou a ser gritante depois do penultimo por stop, mostrando que o povo de Munich liberou a potência máxima.
    Como vc bem disse, o Farfus, na entrevista que deu à você, deixou bem claro que assim seria a estratégia da BMW. E foi muito.bem feita ! Eu só faria diferente uma coisa: teria colocado no carro o Chaz Mostert, que seria garantia de veliocidade maxima do conjunto carro-piloto. E Mostert eh mais ousado nas ultrapassagens, caso fosse necessario.
    De qualquer forma, estratégia perfeita da BMW. A revanche da Porsche vira nos circuitos menos velozes: o cupezinho é melhor de curvas que o “caminhão” da BMW.
    A estreia do Corvette C8 foi muito boa, deixando no ar a promessa de que o desempenho das lindas berlinettas americanas vai dar bons frutos no futuro próximo.
    Sim, o nome da corrida foi Kobayashi, embora eu ache que ele andou arriscando demais na última hora e meia, quando bastava levar o carro pra casa. Mas Koba continuou arriscando tudo nas ultrapassagens de retardatários, assumindo riscos desnecessários (embora eu goste de ver pilotos assim….kkkk….tipo “ninguém andou na minha frente”).

    Excelente transmissão de vcs, com destaque para os teus comentários e do Edgar. Mais uma vez, Parabéns!

    Tomara que transmitam Bathurst (Mount Panorama é um must !) e Sebring, se possível com mais e/ou maiores janelas (a gente sempre quer mais, né?)

    Abraço

  • Boa noite, Rodrigo. Parabéns pelo excelente trabalho! Mas o que me espantou mesmo foi o imenso vazio nas arquibancadas, tanto na largada como nas horas finais da prova. Por isso acho que a tão esperada e comemorada unificação dos regulamentos técnicos chegou um pouco tarde. Para mim fica parecendo um “abraço de afogados”.

  • “A Action Express, de Pipo Derani e Mike Conway,” O Felipe Nasr não correu?
    Engraçado que ele apareceu muito nas imagens e no site oficial.

    • Correu, claro.

      Diogo, pra mim foi difícil, muito difícil, escrever qualquer coisa por conta da morte do Kobe Bryant.

      E você resolveu não perdoar. Parabéns.