#WakandaForever

RIO DE JANEIRO – O GP da Bélgica foi de um tédio absurdo do começo ao fim. E podem preparar os cartazes de “Eu já sabia!” ou “Eu avisei”: Lewis Hamilton vai quebrar nas próximas etapas o recorde histórico de vitórias de Michael Schumacher e, gostando as pessoas ou não, sacramentará o status de um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1.

Isso se não for o maior.

Com cinco vitórias e seis pódios nas sete corridas já disputadas neste atípico ano de 2020, o britânico também deve encaminhar o sétimo título da carreira, igualando outro recorde histórico do alemão. É tudo muito simples: a Mercedes é superior neste regulamento da era híbrida e o único piloto que ainda faz uma graça é Max Verstappen. O resto é só figuração.

E por que não incluo Valtteri Bottas? Viram a surra que ele e os outros levaram em ritmo de qualificação no sábado? Chegou a ser um deboche: o recorde que Hamilton derrubou é melhor que a volta considerada abissal do Porsche 919 Hybrid sem as restrições de regulamento do WEC – e notem bem que estamos falando de um carro com mais de 800 kg de peso mínimo. O que Lewis fez na volta que lhe garantiu a 93ª pole da carreira foi gigantesco.

E sua homenagem a Chadwick Boseman, o ator que faleceu de surpresa na sexta-feira aos 43 anos apenas, vítima de um câncer, foi igualmente genuina. Ao descer do carro, fez o gesto da personagem Pantera Negra.

#WakandaForever

Dito isto, Hamilton hoje passeou em Spa-Francorchamps para chegar à 89ª vitória da carreira em 257 GPs disputados desde 2007. Foi a vigésima-segunda vez em que o piloto de 35 anos venceu uma prova de ponta a ponta, alcançando novo recorde – 24.297 km na liderança, ou 4.791 voltas como líder em provas de Fórmula 1.

Bottas limitou-se ao papel de escudeiro e a tirar mais três pontos da diferença que o separa de um Verstappen que hoje nada – mesmo – pôde fazer contra o poderio dos carros de cor escura, a despeito do desgaste dos pneus no final da corrida.

Numa prova até monótona e com um único acidente – Antonio Giovinazzi perdeu-se com sua Alfa, bateu e um dos pneus que se desprendeu foi para cima da Williams de George Russell – provocando uma entrada do Safety Car, o destaque positivo foi a excelente corrida dos dois pilotos da Renault.

Os carros pretos e amarelos tiveram o melhor desempenho numa disputa desde que a marca do losango voltou com a equipe oficial há quatro anos. Daniel Ricciardo foi o 4º colocado – repetindo o resultado de Silverstone – e dessa vez foi o autor da melhor volta, a última da disputa. O Risadinha foi o primeiro nos últimos dez anos a marcar o melhor giro de uma corrida com um carro da Renault – o último foi Robert Kubica no GP do Canadá, em 2010.

Esteban Ocon também foi muito bem após um pega com Alexander Albon, deixando igualmente o recém-regressado francês com o melhor resultado do ano. Outros com performances bastante sólidas ao longo da disputa foram Pierre Gasly, 8º colocado com a Alpha Tauri e Lando Norris, que com o sexto posto segue numa batalha – acredite quem quiser – com Leclerc e Albon pelo quarto lugar no Mundial de Pilotos.

A vergonha, claro, foi a Ferrari – mais uma vez.

O fim de semana dos carros vermelhos lembrou os tempos das piores crises técnicas de Maranello e, de cabeça, posso lembrar dos anos de 1969, 1973, 1980 e o biênio 1992/93. Épocas terríveis para os tifosi. A SF1000 é um desastre e os motores (ou unidades de potência, chamem como quiserem) do construtor italiano têm um deficit que é tão explícito que, tirante a Williams, todos os carros mais fracos do grid – Haas e Alfa Romeo – têm motor Ferrari.

Mas até a própria Ferrari foi muito mal em Spa e Charles Leclerc, vencedor ano passado, foi apenas o décimo-quarto neste domingo a 1’14″920 do vencedor, com Sebastian Vettel em décimo-terceiro, logo à frente. Os italianos estão apenas em 5º lugar no Mundial de Construtores e viram a Renault, que parecia inerte, reagir e fazer 23 pontos na Bélgica. Que contraste…

E a crônica do desastre absoluto foi que o melhor carro com motor Ferrari na pista foi a Alfa do quatro vezes vencedor no GP da Bélgica, Kimi Räikkönen, com a 12ª colocação. E ele, sincerão como sempre, ainda disse que ‘foi o melhor que deu para fazer’.

Não esperem inclusive nada muito diferente disso nas próximas corridas que – suprema ironia – serão exatamente na terra da Ferrari e até na pista da Ferrari! O 1000º GP do construtor italiano será ‘celebrado’ no GP da Toscana, dia 13 em Mugello.

E, não sei não… mas cheira a uma vergonha daquelas…

Será que a própria Fórmula 1 e a história da Ferrari merecem isso?

Comentários

  • Charles Leclerc, por estar praticamente iniciando sua carreira, e com um longo contrato já assinado, não tem como evitar a vergonha que acontecerá no GP da Toscana, mas com o Vettel a coisa toda é bem diferente.

    Acho bastante discutível o fato dele ser tetra, mas não dá para brigar com a realidade: ele é um tetracampeão, e também é milionário, ou seja: a única atitude inteligente que ele deveria tomar nesse momento seria hoje, 31/08/20, convocar uma entrevista coletiva e anunciar que jogou a toalha, irá para casa, e também esclarecer se realmente ele voltará como piloto da Aston Martin em 2021 (rola um boato de que o contrato já está assinado). Mas nós sabemos que ele não fará isso: Vettel quer passar muita vergonha nos GPs que serão disputados na Itália.

  • Uma correção:
    Não passará a ser um dos maiores pilotos da história, JÁ É O MAIOR!
    A despeito das viúvas de Senna e outras menos empolgantes por aí.
    Dá imenso prazer em ver LH pilotar, como dera também vendo o reloginho Schumi.
    Quem gosta de automobilismo, está tendo o privilégio de ver a história sendo escrita ao vivo; e duvido que nessa encarnação veja as conquistas de LH serem superadas, o cara é um colosso!
    No mais, WAKANDA FOREVER!

      • Me metendo na conversa: não o vejo como “viúva” e sim como alguém que teve o Ayrton como referência de esportista e piloto. Se bem que como esportista o Senna falhou algumas vezes no quesito caráter. Ele, Prost, Schumacher… até o Piquet também tem atitudes esquisitas – mas não de jogar piloto pra fora. Ninguém ali pra ser campeão deve ser bonzinho. Mas há excessos.

  • Mattar,

    Lewis já é o maior de todos, já falo isso aqui no seu blog a bastante tempo: empata esse ano e, como o ano que vem será o último do regulamento atual, passa na frente.

    Sobre sua última pergunta, a resposta é sim, todo castigo para a equipe vermelha é pouco!!!

    Uma equipe que institucionalizou as ordens de equipe, que escancarou para o mundo que seu pilotos não podem brigar, merece sim esse castigo, essa vergonha!!!

    Não sou “Alice no País das Maravilhas” para pensar que ordens de equipe não existiam ou não existem, bem longe disso, mas o que essa equipe faz é ridículo!!!

    Pronto, já tô mais calmo, parei de arrancar a calcinha pela cabeça, voltando…

    Será que a Renault vai entregar um carro bom para Picaretonso em 2021???

  • Rodrigo, sempre uma satisfação ler seu blog!
    O regulamento dos motores para 2022 retirará todas as unidades que tornam hoje o motor híbrido?
    Se sim, tomara que isso atraia outras montadoras, não é?
    Forte abraço, seu repertório jornalístico é singular!