Le Mans 2020: análise de performances

RIO DE JANEIRO – As 24h de Le Mans vão além do que a gente vê ou percebe na pista. Os desempenhos nos stints também são determinantes para um grande resultado ou uma recuperação durante uma corrida dessa magnitude. O blog já traz há algum tempo um comparativo feito por especialistas em performance e vamos aqui detalhar essa análise, com a ajuda dos dados levantados pelo perfil de Twitter do engenheiro Brian Pillar.

Começamos pela LMP1. A comparação não contempla, neste gráfico, os pilotos da ByKolles Racing, o que não deixa de ser curioso – mas por outro lado evita que a análise seja vexaminosa para o lado de Bruno Spengler, Oliver Webb e Tom Dillmann dada a diferença de desempenho do protótipo deles em relação a Rebellion e principalmente Toyota.

Os dados se concentram apenas nos 12 pilotos dessas duas equipes. Levando em conta as 20 melhores voltas de cada um deles na pista – e o desempenho varia conforme o tráfego enfrentado nos 13,626 km de extensão – a diferença entre os seis homens da Toyota nessa análise é inferior a um segundo. Sébastien Buemi desta vez foi o destaque com um desempenho mais sólido e, na média, sete décimos melhor que Brendon Hartley.

Desta vez, diria que Kazuki Nakajima é a decepção da trinca vencedora. E ele costuma ser muito veloz. Mas a Toyota, por outro lado, não tinha necessidade de forçar o ritmo em momento algum dada a superioridade de seu equipamento.

Entre os representantes da Rebellion, a diferença de médias é superior a um segundo e meio, com Bruno Senna sobrando em termos de volta rápida e quatro décimos abaixo da média dos melhores tempos de Gustavo Menezes. Este último foi o piloto que mais voltas percorreu entre os da LMP1 – 143 giros, equivalentes a 37% do total do carro #1.

Na LMP2, dos 72 pilotos que andaram na mais numerosa das classes presentes em 2020, a análise se concentra nos 50 melhores. Em termos de velocidade pura, Job Van Uitert foi disparado o melhor piloto da categoria. Além de autor da volta mais rápida com 3’27″508, a média das 20 melhores passagens do holandês foi quatro décimos superior a de Jean-Éric Vergne, que é velocíssimo.

Outro destaque foi a performance de Mikkel Jensen em sua estreia em La Sarthe. Foi o melhor novato em desempenho na divisão. Nico Lapierre e Nyck de Vries como os melhores de suas trincas não se constitui em surpresa. Paul-Loup Chatin e Patrick Pilet – este em excelente adaptação – foram os grandes nomes da recuperação dos dois carros da IDEC Sport, que saíram dos boxes e com uma volta de atraso.

Entre os pilotos com carros equipados de Goodyear, Nico Jamin foi superior em performance ao trio da Jota – 2º colocado na prova. André Negrão e Thomas Laurent foram responsáveis pela grande reação que levou a Signatech Alpine ao 4º lugar na categoria.

Entre as meninas, Tatiana Calderón foi o destaque e Sophia Flörsch também figura na listagem, com desempenho bem consistente. Beitske Visser não figurou entre os 50 mais velozes da classe. E Juan Pablo Montoya fez o que lhe era possível com a DragonSpeed. Memo Rojas Jr. e Timothè Buret não estavam à altura do nível de pilotagem do colombiano, que teve performance bastante satisfatória.

Simon Trummer foi o piloto que mais voltas percorreu na categoria – 146, equivalentes a 40% do total do #25 da Algarve Pro Racing.

O gráfico da LMGTE-PRO é autoexplicativo – ou quase – de como o #97 da Aston Martin levou a vitória. Alex Lynn e Maxime Martin foram os destaques e os mais rápidos na média das 20 melhores voltas, com diferenças inferiores a dois décimos no comparativo entre o britânico (autor da melhor volta da categoria) e o belga. Harry Tincknell não foi tão veloz quanto eles, mas bastante consistente.

A trinca da AF Corse do #51 teve desempenho muito sólido. Ale Pier Guidi foi melhor na média das 20 passagens mais rápidas, mas Daniel Serra botou as manguinhas de fora e mostrou desempenho superior a James Calado em todos os aspectos.

Surpresa ver Jules Gounon como o melhor piloto do #82 da Risi Competizione e a falta de ritmo de corrida dos Porsches 911 RSR-19 foi evidenciada na diferença de um segundo e oito décimos entre a média dos giros de Lynn em relação a Michael Christensen, o melhor piloto em desempenho entre os representantes do construtor de Stuttgart.

Toni Vilander, para variar, sobrou na turma entre os pilotos da WeatherTech Racing, com Cooper MacNeil destoando completamente dos demais.

Alex Lynn foi o que mais guiou – 137 voltas no total, 40% do carro campeão.

Na LMGTE-AM, análise igualmente concentrada nos 50 melhores pilotos – o que aqui é uma pena, posto que eu gostaria de ver os tempos alcançados pelos graduados bronze mais lentos do lote. Talvez seja melhor para alguns que seja assim…

Ross Gunn é o destaque. Foi o piloto das 20 melhores médias e também o mais rápido em um giro apenas. Mas Charlie Eastwood foi excelente (e bem melhor que o experiente Jonathan Adam): a diferença entre o britânico do #98 e o norte-irlandês da TF Sport, vencedora da categoria, foi de apenas 0″034 na média. Matteo Cairoli, Ben Barker e Matt Campbell não surpreenderam absolutamente ninguém – são muito velozes e não à toa são os melhores pilotos de suas equipes.

Augusto Farfus teve performance muito positiva. O brasileiro foi o 6º mais rápido na média das melhores passagens, à frente do ‘animal’ Côme Ledogar,  o melhor piloto Ferrari do numeroso lote da categoria.

Felipe Fraga também se destacou na trinca do #57 do Team Project 1, com performance superior a Jeroen Bleekemolen e Ben Keating. Dos novatos em La Sarthe, Larry Ten Voorde foi o melhor – mas Marcos Gomes não ficou muito atrás: o brasileiro foi superado por apenas 0″046 na média das 20 melhores passagens – mas em uma volta apenas, foi melhor que o holandês.

Dos  pilotos de graduação bronze, Rino Mastronardi, da Iron Lynx, foi o mais veloz da prova, seguido por Richard Heistand  (aliás, não muito distante da média das melhores passagens de Jan Magnussen) – e Oswaldo Negri, o terceiro melhor, mostrando que aos 56 anos continua guiando muito. Rahel Frey foi destaque no trio das “Iron Dames”, com Michelle Gatting em nota positiva, também.

Com 156 voltas percorridas, 46% do total do carro, Ben Barker foi o piloto que mais quilômetros andou não só na LMGTE-AM como também entre todos os 177 participantes.

Comentários

  • Boa tarde, Rodrigo.
    Muito obrigado por compartilhar essas planilhas. Quem curte automobilismo de verdade deve ter ficado recompensado por acompanhar o seu blog. Sempre com analises sérias. Sem teatrinhos tolos e infantis com personagem fictício como em outro blog, que escreve, escreve e…. nada de importante. Seu trabalho Rodrigo é fantástico. Aqui e na Tv. Parabéns!!!
    Mais um vez obrigado!
    Um abraço,
    Sergio.

    • O outro blog é do mesmo grupo Grande Prêmio. É feio fazer fofoca. Não gosta do estilo do autor? Só não lê e pronto.
      Eu gosto de ambos. Ambos puta jornalistas, e puta escritores.

      • Nem vou alimentar essa discussão. Deixe que ele bloqueie o meu IP. E peço desculpas ao Rodrigo pelo desconforto.

    • Eu vejo isso como uma espécie de “proteção”: a informação está no site principal, grandepremio, e as histórias e estórias estão no blog. E eu curto tudo! Parabéns Rodrigo e companhia limitada!

  • Seria realmente interessante ter esta comparação com todos os pilotos bronze, com certeza teriam uma discrepância enorme na média dos tempos de voltas, saberíamos quais os pilotos mais lentos do grid em comparação com seus companheiros mais experientes e mesmo entre todos os bronze da categoria, mais em provas de longa duração a constância obviamente com um bom ritmo pode sim definir a classificação final, o bom deste esporte é que um acidente, quebra ou algum azar muda tudo, isso nos prende na frente da Tv até o final da prova.

  • Muito legal essa tabela, da uma comparação interessante entre os pilotos.
    Obrigado por ter trazido.

    O detalhe desta tabela é que como ela é limitada as 20 melhores voltas, ela não leva em condição:
    A) a condição mecânica do carro na ocasião de cada um guiando
    B) o ritmo de prova necessário a cada carro, na ocasião, conservativo ou no ataque.
    C) a qualidade de preparação (velocidade) do carro: por exemplo, não da pra comparar a Ferrari 61 com a 71 ou a 51.

    Mesmo assim é muito interessante. E é curioso notar que as conclusões da tabela não divergem muito das impressões/opiniões tiradas daqui, a mais de 8.000 km de La Sarthe, vendo parte peça TV e parte pela tabela de tempo em tempo real oferecida pelo site oficial.

    Antonio

  • Fantástico o trabalho que é feito por aqui ao abordar o automobilismo fora da caixinha. E não poderia ser menos que fantástico algo que é feito por um baita profissional, profundo conhecedor do automobilismo no geral (e não só de F-1), e de uma memória extraordinária. Siga em frente, Rodrigo. Sucesso sempre!