F-1 no Rio e no Brasil? Esqueçam…

RIO DE JANEIRO – Todo mundo já deve saber que a FIA e o Liberty Media rascunharam um novo pré-calendário para a Fórmula 1 em 2021. Nenhuma surpresa que ambas tenham ignorado a vontade popular de se manter Mugello e Algarve no calendário. Mas a Pandemia, em princípio, não está vencida e há corridas que mesmo constantes nas datas anunciadas correm risco de não acontecer – o GP do Vietnã, país em convulsão política, é uma delas.

Insanamente, está elencado entre os 23 eventos, o GP do Brasil. Não em Interlagos, que tem cerfificado de pista “FIA A” e o Liberty Media insiste em dizer que São Paulo não segue porque os valores pedidos não são alcançados pela prefeitura – e não serão mesmo.

Mas no Rio de Janeiro, numa pista que não existe. E por A + B – e não é preciso ser perito nisso – não se constrói uma pista em menos de dois anos, por pior que seja. São necessárias exigências de segurança, muitas normativas, enfim.

E há ainda a questão mais gritante, a mais incômoda de todas, que é a estranha (até a página 3) interferência de Chase Carey em questões que não são alusivas à sua alçada, sendo que o CEO do Liberty Media nem estará mais no posto em 2021, sendo substituído por Stefano Domenicali.

Se existe um intere$$e em se fazer o GP do Brasil no grito, é preciso dizer que não somos obrigados a aceitar mais falcatruas envolvendo não só a Fórmula 1, mas também o esporte brasileiro. Porque foi através delas que o Rio e o país perderam um autódromo que só não está de pé por desinteresse, descaso e aplicação de dinheiro a fundo perdido em elefantes brancos sem nenhuma serventia – o Parque Olímpico do Rio é um elefante branco e não foi por falta de aviso!

Como também não é por falta de aviso que se sabia que é uma loucura tentar fazer uma pista de Fórmula 1 numa área de proteção ambiental – a Floresta do Camboatá – e, para usar uma infeliz expressão recorrente, ‘passar a boiada’ em cima do relatório EIA/RIMA do Insitiuto Estadual do Ambiente (INEA). Aliás, e a propósito, o GRANDE PRÊMIO traz matéria elencando o parecer negativo da entidade à necessidade de se fazer um Autódromo próximo a Deodoro.

Não vou defender nunca nada que esteja sob suspeição e que seja de benefício a esse bando de vagabundos milicianos e neopentecostais que tomaram de assalto o Rio de Janeiro. Não posso ser a favor de um projeto ficcional.

E não posso ser a favor – nunca – de quem refuta a matéria do GP.

Por que? Pelo simples fato de que a matéria está correta. Não vi nenhuma inverdade e meu compromisso é sempre com a verdade. Se isso tudo incomoda a certas pessoas que tentam denegrir o conteúdo constante na matéria assinada a dez mãos, azar da verdade. Ou, por outra, azar de quem se incomoda.

Azar de quem acreditou em Deodoro. E olha que não faltou e não falta gente boa acreditando.

Querem ter autódromo de volta no Rio? Então façam o seguinte: é simples e não será dolorido: montem uma pista semipermanente no Parque Olímpico ou ‘passem a boiada’ naqueles elefantes brancos e construam de volta Jacarepaguá, que nunca deveria ter sido extinto.

Satisfeitos?

Agora, nessas condições: Fórmula 1 no Rio e GP do Brasil em 2021? Podem esquecer.

Comentários

  • O filme mais surrealista da história do cinema foi lançado em 1929: Um Cão Andaluz, dirigido pelo Luis Buñuel (não existe cão no filme e nenhuma referência à região da Andaluzia).

    No ano da graça de 2020, alguém cogitar uma corrida de F-1 no Rio, em 2021, é uma loucura bem mais surrealista do que esse filme do Buñuel, posto que o filme é ficção, e no caso do autódromo, estamos falando da vida real.

    Fico com a impressão que o Chase Carey dever dito algo mais ou menos assim:

    “Todos nós da Liberty Media sabemos que não haverá corrida no Rio em 2021, mas eu estou de saída. Para não queimar o meu filme, vamos fazer assim. Dois dias depois que o Stefano Domenicali assumir, vocês inventam uma desculpa qualquer e cancelam a corrida no Rio”. Essa é a versão light. Na versão hardcore, nós teríamos que falar sobre, digamos, negócio$ e$cu$o$, mas aí eu não tenho provas, e é melhor parar por aqui…

  • Rola um boato de que devido ao fato de João Doria ser candidato à presidência da República, ele gostaria que Interlagos sediasse a corrida, mas só em 2022, o ano da eleição. A ideia seria ele tentar somar verbas da Prefeitura + verbas do Estado + dinheiro da iniciativa privada para conseguir o valor que a Liberty Media quer: 30 milhões de dólares.

    Esse boato não para em pé. Como nós já sabemos, não haverá corrida em 2021 em Interlagos, e com certeza, outro país ocupará essa vaga do circuito paulista, sediando a corrida também em 2022.

    • O problema, se é que podemos chamar assim, é que a “pilotaiada” gosta de correr em Interlagos…

      Se levantar uma grana a mais, agora sobre a tutela de Domenicali, mas bem abaixo do que Cha$e queria, deve voltar.

  • Salve !
    Pegando carona no Jefferson Pereira, o mais surreal é “Cria Cuervos ” de Aldodovár, que se adapta melhor a política praticada no Estado do Rio de Janeiro…a do Crime !
    Abs

    • Flavio Padilha: Cria Cuervos é um filme belí´ssimo, mas não foi dirigido pelo Pedro Almodóvar. A direção é de outro espanhol: Carlos Saura.

      • Uma corrida custa caro. Caro ao ponto de ser inviável.

        Quem pode pagar? O Putin, a China e por aí vai. Isso exllica porque França não tem GP, Alemanha já ficou sem GP.

        Fazer um autódromo custa muito mais. E não tem “pay back”, é um investimento sem retorno.

        O Brasil não tem pilotos na F1, a maior corporação de mídia (cuja cobertura atraia patrocínios) se afastou da F1. Nenhum grupo de.midia manifestou interesse.

        Conclusão: não tem GP Brasil.

        É pena, mas é bola cantada: o automobilismo perdeu interesse no mundo e mais ainda no Brasil.

        Os autódromos estão sendo desmanchados, no mundo todo.

        No Brasil, há uma cabeça que pensa (mas que nós não escutamos): Francisco Lameirão, grande pensador do automobilismo de competição como ferramenta de política pública.

  • impressão minha ou em cada uma dessas maquetes o autódromo de Deodoro tem um traçado diferente? Não tinha outra versão com uma ponte estilo Suzuka?

    • Não, pela prefeitura de SP. E o GP do Brasil nunca pagou as taxas anteriormente.

      O Liberty botou o preço lá em cima e o Bruno Covas já afirmou que não paga.

      • Vai ser o fim de Interlagos também, pelo jeito. Acredito que se a F1 deixar Interlagos, ele acaba, assim como Jacarepaguá

  • Mattar,

    A questão em SP é achar um meio termo, pediram 10, SP pagava 4, devem fechar em 7 que fica bom pra todo mundo. Cha$e tá saindo, Domenicali deve diminuir um pouco, e os pilotos gostam do traçado de Interlagos.

    Quanto ao Rio, esquece, não vai sair.

    A única forma de se fazer tal sandice como essa que se está sendo ventilada seria ocorrer o mesmo que nos casos da Copa de 2014 e das Olímpiadas de 2016: uma roubalheira desenfreada como nos governos anteriores!!!

    E, gostando ou não do atual presidente, se isso ocorrer, é o fim da carreira política dele, esquece uma possível reeleição em 2022.

    • O dinheiro é bem maior do que esse, Andre. A prefeitura só pagaria $ 20 milhões. O Liberty Media quer $ 80 milhões de taxas.

      Quanto ao presidente, o autódromo é apenas um subterfúgio. Se você viu um estádio no mapa, esse estádio seria DADO ao Flamengo.

      Depois criticam o PT e o Lula por ter facilitado o Corinthians ter seu próprio campo. Landim é nojento no seu lobby bolsonarista para a MP dos clubes e conseguir morder um quinhão na construção do autódromo.

      • Mattar,

        Numa remota e absurda virada, será que não se fecharia em $ 40 milhões?

        O “peso” dos pilotos gostarem de Interlagos, o fato de até o momento ser a única transmissão em TV aberta do mundo, um “aceno” entre governo federal e governo estadual ajudando um ao outro manteria a corrida no Brasil por mais um tempo já que seria mais barato “completar” a conta para ter Interlagos por mais um ano e, na cabeça da “familícia” do poder, viraria outro palanque eleitoral para a reeleição…

        Imagina só, mas lives:

        “Eu mantive a F1 no Brasil, talquei?!”

        Todo aquele papelão do início do governo atual, dizendo que teria corrida no Rio, que o autódromo seria construído, tudo isso ao meu ver seria um “balão de ensaio”, pra ver a aceitação. Não é possível um PRESIDENTE DA REPÚBLICA SER TÃO MAL ACESSORADO assim, todo mundo sabe que a F1 tinha contrato com a SP e que a pica da área de Deodora seria impossível de ser superada. Aí o presidente “faz as pazes” com o governo de SP, ajuda com uma grana dos nossos impostos e a F1 fica mais um tempo no Brasil.

        Teria da Conspiração minha?!

        Pode ser, mas da política, não duvido nada. Ah, e falando sobre o estádio do “Curintia”, ele já estaria pago se o governos fosse outro, né?!