Amadeu Rodrigues, 65

A melhor imagem que podemos guardar de Amadeu Rodrigues é esta: a de celebração. Ele se foi aos 65 anos, mas deixou muita saudade e boas histórias como piloto e dono de equipe (Foto: Vanderley Soares/HotCar/Divulgação Vicar)

RIO DE JANEIRO – Já era quase meia-noite de hoje, ou mais, quando recebo mensagens inbox por Twitter e Messenger. Era o piloto Cadu Pasetti, querido amigo, para perguntar se eu sabia do que tinha acontecido com o Amadeu Rodrigues e a equipe dele, na noite deste sábado, após a disputa das 4h de Goiânia, quarta etapa do Império Endurance Brasil.

Não, não sabia. Foi o que respondi ao Cadu. E esperei por respostas.

Infelizmente as respostas vieram rápido. Primeiro, um link de uma informação de um acidente de estrada próximo a Uberlândia, cidade do Triângulo Mineiro. E pouco depois, a confirmação de que havia uma vítima fatal: Amadeu Rodrigues, dono da equipe HotCar da Stock Car Brasil e do Império Endurance Brasil, faleceu aos 65 anos de idade.

A causa do acidente é desconhecida e desconfia-se que Amadeu teria sofrido um mal súbito ao volante da van que ele mesmo dirigia com a esposa Cibele no banco da frente e mais sete mecânicos no veículo. Havia uma carreta parada num acostamento da estrada BR-365 e a van bateu em cheio na carreta. Amadeu morreu na hora.

D. Cibele foi retirada das ferragens e constatou-se uma fratura ao ser atendida num dos hospitais no entorno de Uberlândia. Quatro dos mecânicos se machucaram com um pouco mais de seriedade e também foram internados. Outros três, com escoriações, foram liberados.

Amadeu Rodrigues começou como piloto nos lendários Fusquinhas da Divisão 3, formando em 1980 sua própria equipe. Passou ao modelo Gol com patrocínio dos Filtros Nasa e também andou com o Passat. A partir de 1984, entrou no Brasileiro de Marcas como um dos pilotos apoiados pela Volkswagen.

Em 1989, na então Copa Shell de Marcas e Pilotos, Amadeu sofreu um dos mais assustadores acidentes que já vi na vida. Num enrosco com o carro de Xandy Negrão, ele perdeu o controle no Autódromo de Tarumã e atravessou um barranco. Quando caiu, seu carro explodiu em chamas com o rompimento do tanque de combustível.

Na época, o piloto – então com 34 anos – não corria com o equipamento adequado. Seu macacão não era de Nomex e a consequência foi que 75% de seu corpo foi afetado por graves queimaduras. O período de recuperação foi penoso, envolvendo quatro meses numa UTI e nada menos que 48 cirurgias. Amadeu só voltou às pistas em 1992.

Depois, seguiu apenas como chefe de equipe, entrando na Stock Car e outras categorias como a Copa Clio e o Mercedes-Benz Challenge. Também teve um breve regresso como piloto, guiando em dupla com Du Harmel o Gol “Tomahawk” campeão brasileiro de Endurance na então categoria IV.

Por sua equipe, passaram dezenas de pilotos que procuraram as instalações de sua oficina em Cajamar, interior de São Paulo, contratando os serviços do sempre solícito Amadeu, que também se descobriria, tempos depois, com um câncer, contra o qual lutava bravamente, sempre tendo ao seu lado a fiel D. Cibele e as filhas, Bárbara e Juliana.

“Uma vida inteira de amor pelo automobilismo, assim se pode resumir a trajetória de Amadeu Rodrigues”, comentou Carlos Col, Presidente da Vicar, promotora da Stock Car. “Dedicação pelo esporte é a marca que ele nos deixa como exemplo. Que Deus abençoe e conforte a família, que esteve sempre ao seu lado vivendo intensamente esta paixão”, resumiu em nota oficial à imprensa.

“Essa é uma notícia muito triste para quem conviveu com o Amadeu. Fui seu piloto durante quatro anos na Copa Fiat e, coincidentemente, foi para a sua equipe que consegui o primeiro patrocínio na Stock Car, quando ele tinha como pilotos o Rodrigo Hanashiro e o Hélio Saraiva. Infelizmente ele se foi, mas de várias formas estará sempre no coração dos profissionais e fãs da Stock Car”, comentou Fernando Julianelli, que recentemente assumiu o cargo de Vice-Presidente Comercial e de Marketing da Vicar.

A morte de Amadeu chocou e consternou toda a comunidade brasileira do automobilismo. Tenho certeza de que a Stock Car e o Império Endurance Brasil o homenagearão como ele merecia.

Descanse em paz, Amadeu Rodrigues.

Comentários

  • Quando alguém vai embora cedo demais é sempre mais triste.
    Ainda mais em acidente de estrada, na volta de corridas, que são mais comuns do que parecem.
    O cansaço de um fim de semana de trabalho e a ânsia de chegar em casa, são armadilhas terríveis.
    Eu mesmo já sofri um, na volta de um treino extra oficial de F1 no Rio, 1982, em que acabei com um Passat TS, mas, graças a Deus não me machuquei.

    R.I.P Amadeu.
    Pra mim fica a lembrança dele correndo de Fusca D3, numa época linda do nosso automobilismo.

  • Mais um que dedicou toda a sua vida ao automobilismo e partiu cedo.R.I.P.

    Para evitar acidentes, desde que comecei a dirigir (1978) criei uma “lei” que eu nunca desrespeitei: nunca fiz viagens longas à noite. Na estrada, só dirijo entre 6 da manhã e 18 horas.

    No caso do Amadeu, se foi mesmo mal súbito, mesmo de dia seria (talvez) inevitável.

    Nos últimos dois anos, toda vez que morre alguém legal, gente boa, eu sempre falo: fulano morreu e o Bolsonaro está vivo. Ciclano morreu, e o Bolsonaro está vivo. Amadeu Rodrigues morreu, e o Bolsonaro está vivo.