Nestore Morosini, 83
RIO DE JANEIRO – O triste ano de 2020 – em muitos aspectos – fez mais uma vítima dentro do automobilismo. Semana passada, na véspera das 12h de Sebring (o blog não fez o registro, desculpem), faleceu o antigo piloto estadunidense Jim Pace, vencedor das 24h de Daytona. Nesta quinta-feira, foi a vez do veterano jornalista italiano Nestore Morosini.
Tanto Pace quanto Morosini, que tinha 83 anos, não resistiram ao Covid-19. A notícia do passamento do jornalista veio através das redes sociais do antigo piloto de Fórmula 1 e recordista de GPs disputados por muitos anos, o também italiano Riccardo Patrese.
Nestore foi repórter do Corriere Della Sera, jornal para o qual cobriu durante anos a categoria máxima do automobilismo. Além de um grande apaixonado pelo esporte, era muito querido por todos e respeitado. E um contador de ‘causos’ fantástico.
Aqui abaixo, reproduzo um.
Em 1979, Morosini estava em Long Beach quando Gilles Villeneuve conquistou uma pole position magistral para a disputa do GP dos EUA-Oeste, naquela cidade da Califórnia. Escreveu um artigo para o Corriere tecendo loas ao canadense, que era chamado de “aviador” pela imprensa italiana.
Satisfeito com o trabalho, feito à máquina, mandou o texto por telex para o jornal e foi dormir. Cinco da manhã, hora local, toca o telefone do seu quarto no Queen’s Way Hilton.
“Pronto”, atendeu Morosini.
“Sono Ferrari”. Era ninguém menos que o Commendatore Enzo do outro lado da linha.
“Bom dia, engenheiro.”
“Além do fato de que já é de tarde aqui, querido Morosini, posso lhe fazer uma pergunta? Me diga uma coisa: com o que Gilles (Villeneuve) fez a pole position? Com uma bicicleta?”
E veio o barulho intermitente de comunicação quebrada. Enzo bateu-lhe o telefone na cara e Morosini pegou o texto batido à máquina para constatar que o nome Ferrari não fora citado no texto em nenhuma linha. Claro, a reclamação de Enzo fazia muito sentido.
Nestore fez uma chamada internacional, ligou para Maranello e a secretária Giuliana passou a ligação para o escritório do Commendatore. O jornalista pediu desculpas e Enzo, entre sério e irônico, alertou.
“Espero que Gilles ganhe a corrida com minha bicicleta.”
Gilles venceu o GP dos EUA-Oeste.
Que bela história do Morosini com o enciumado Commendatore.
Se vai o homem, fica a lenda.
Ars lunga, vita brevis.