Johnny Dumfries (1958-2021)
RIO DE JANEIRO – John Colum Chrichton-Stuart Earl of Bute Dumfries trocou a nobreza do título de VII Marquês de Bute e a aristocracia dos castelos da Escócia pelo ronco dos motores, poças de óleo em oficinas, o cheiro da gasolina e pneu queimado. Os ternos e trajes da nobreza pelo macacão e capacete. E fez do automobilismo sua vida.
Hoje, Johnny Dumfries despediu-se. Precocemente, cedo demais. Tinha 62 anos, perdeu a vida para um câncer. Pode não ter sido – e talvez não fosse mesmo – um piloto brilhante. Mas entrou para a história de uma das mais conhecidas competições de todos os tempos e está nos compêndios da Fórmula 1.
Foi pela orientação de Dave Morgan que o garoto da nobreza virou piloto na Fórmula Ford inglesa. Em 1983, já estava na Fórmula 3 europeia e num confronto internacional em Silverstone, preliminar do GP da Inglaterra de Fórmula 1, terçou bigodes com a sensação da categoria na sua Grã-Bretanha: Ayrton Senna.
Na temporada seguinte, sem Ayrton – já na Fórmula 1 – Dumfries dividiu-se entre o Ingl^ês de F3 e a Euroseries da categoria. Com um Ralt Volkswagen, venceu 10 vezes na “Ilha” e foi campeão inglês e vice do Europeu, perdendo o título para outro jovem talento, Ivan Capelli.
As coisas não foram bem em 85, embora a Ferrari lhe tenha ofertado o papel de piloto de testes. Na recém-criada Fórmula 3000, esteve na Onyx Grand Prix, mas só fez um ponto em Vallelunga. Foi apeado do carro antes que o campeonato terminasse.
Com um currículo magro na categoria de acesso, ninguém entendeu como Dumfries, então com 27 anos, chegou à Fórmula 1. Ayrton Senna entende e Peter Warr, também. Primeiro, Senna vetou Derek Warwick na Lotus por razões que a própria razão desconhece. Depois, a John Player Special vetou Maurício Gugelmin, uma indicação de Ayrton – em termos: a JPS aceitou patrocinar o compatriota de Senna na Fórmula 3000 pela West Surrey. Para satisfazer a British Imperial Tobacco, veio Dumfries. Que em nada incomodaria a Ayrton.
Sua presença na categoria máxima não foi mesmo de encher os olhos. Mas se não era tão exuberante quanto Senna, o escocês não fazia besteira. Está certo: não se classificou em Mônaco. Mas nas demais etapas, em meio a nove abandonos, a maioria deles na primeira metade do calendário, conseguiu terminar seis e fez três pontos – 5º colocado no Hungaroring, na estreia do GP da Hungria e sexto em Adelaide, na Austrália.
O grande barato daquele ano é que no Lotus #11 de Dumfries foi instalada a primeira câmera onboard efetivamente usada nas transmissões de televisão. Invariavelmente, havia problemas técnicos e falhas de imagem. O que hoje virou lugar-comum era incrível há 35 anos atrás. Aliás, vejam aqui abaixo o vídeo de Dumfries a bordo da Lotus 98T Renault no GP da Austrália. Com narração do também falecido Murray Walker.
A passagem de Dumfries pela F1 foi efêmera e ele buscou outros caminhos: no Endurance, ajudou Raul Boesel a vencer os 1000 km de Spa para o brasileiro se consagrar campeão mundial do Grupo C. No ano seguinte, a bordo do Jaguar XJR9, venceu as 24h de Le Mans dividindo honras com Andy Wallace e Jan Lammers.
Curiosidade: em cinco participações em La Sarthe, foi a única vez em que Johnny esteve na quadriculada. Na estreia, pela Sauber-Mercedes em 1987, dividia o carro com ninguém menos que Chip Ganassi e Mike Thackwell. Depois, em 1989/90, foi piloto da equipe oficial de fábrica Tom’s Toyota e fez sua última Le Mans em 1991 com um Cougar C26S Porsche junto aos nórdicos Thomas Danielsson e Anders Olofsson.
Para dizer que ele nunca mais voltou a Le Mans, em 2003, já com 45 anos, fez o Journée Test daquele ano num protótipo DBA 4-03S Zytek da equipe Ree Nielsen Motorsport junto a John Nielsen e Hayanari Shimoda. Não disputaria a corrida: acabou substituído por Casper Elgaard.
E assim acabou a carreira de Johnny Dumfries. Hoje, ele partiu para outro plano. Que descanse em paz.
Olá, Rodrigo!
No ritmo das “Saudosas Pequenas”, achei um vídeo no youtube com imagens caseiras dos treinos livres para o GP do Canadá de 1990. AGS, Osella, Life são alguns dos carros que recebem destaque nas filmagens. As gigantes Mclaren, Ferrari e Williams, por exemplo, não tem vez nesse registro histórico. Aqui as estrelas são mesmo as nanicas. A cereja do bolo é o Moreno com sua “fantástica” EuroBrun. Caso ainda não o tenha visto, acho que irá gostar. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=Gi6mbdyECls
No canal do autor do vídeo me parece que existem outras preciosidades, mas ainda não assisti. Fica a dica.
Abraços!
Oi Bruno, esse vídeo eu já tinha visto. É sensacional!
Se não foi um gênio da F1, também não se pode dizer que foi uma decepção , afinal pilotar uma F1 naquela época, não era pra qualquer um. Era lindo de ver o trabalho manual no cambio e pouquíssimos recursos eletrônicos no carro. O vídeo mostra isso. E ganhar em Le Mans , não é pouco não. Tem muito camp~eao da F1 que não conseguiu isso.
O cara ficou marcado por ser superado por seu colega Senna de equipe, mas e daí? Conseguiu na carreira uma vitoria nas 24h de Le Mans que por si só já é um feito que muitos profissionais morrem sonhando em ter. Não foi nenhum De Cesaris, foi no entorno da média apenas. E largou a nobreza cheio de cerimonias para ser piloto. Merece as honrarias. RIP.
O tempo é implacável.
Hunt, Senna, Lotus, Adelaide (corrida de F1 na cidade), Murray Walker e agora Dumfries, tudo só memória.
R.I.P. Walker, R.I.P. Dumfries.