A corrida louca do Azerbaijão

Verstappen chuta o pneu traseiro esquerdo de sua Red Bull, furado no incidente que lhe custou a 13ª vitória da carreira. Mas o holandês podia imaginar que Lewis Hamilton erraria como errou na relargada?

RIO DE JANEIRO – O GP do Azerbaijão foi daqueles que ‘quebrou a banca’ em qualquer bolsa de apostas onde um gaiato qualquer tenha apostado no pódio visto este domingo em Baku. Não acho que seja ao nível do chocante triunfo de Olivier Panis em Mônaco há 25 anos, mas não perde de longe para aquilo.

Bastaram dois períodos de Safety Car, uma bandeira vermelha e uma relargada – para somente duas voltas – que a corrida virou do avesso, deu uma guinada de 180º e apresentou um pódio absolutamente inesperado e incomum.

A Red Bull ganhar não seria surpresa. Surpresa foi Sergio Pérez, em sua sexta aparição defendendo os rubrotaurinos, ganhar mais uma vez na Fórmula 1. O mexicano foi beneficiado não só pela batida do companheiro de equipe e líder Max Verstappen como – mais do que tudo, até – do erro colossal de Lewis Hamilton na freada da primeira curva.

Os grandes também cometem erros? Lógico que sim. Todos já fizeram cagadas homéricas em suas carreiras e Lewis, que há muito tempo não ficava fora da zona de pontos (sim, ele não correu o GP de Sakhir ano passado por Covid), tinha a chance de superar Max na classificação do Mundial de Pilotos e a desperdiçou. Como efeito, os dois saíram zerados de Baku e a diferença segue estável em quatro pontos para o holandês.

Não obstante, houve ainda o acidente de Lance Stroll, em circunstâncias bem parecidas com o choque de Verstappen com a mureta de proteção da longa reta de 1,4 km de extensão. A ‘panca’ de Stroll foi, plasticamente, mais forte. O canadense largou da última fila e vinha numa estratégia para tentar usar o pneu duro o máximo de tempo. Não conseguiu.

Max tinha 33 voltas com o mesmo jogo quando aconteceu o acidente – a três voltas do final – que frustrou o holandês. No fim das contas, mesmo com o prejuízo, Hamilton também saiu no zero a zero – porém, numa visível frustração no Parc Fermé, diria que beirando a vergonha pela patacoada. E os dois seguem o embate particular pelo título de pilotos de 2021.

E mais do que a vitória de Pérez provando que ele era o piloto certo no momento certo do erro de Hamilton, mais uma vez é necessário destacar a ótima performance de Sebastian Vettel – o alemão vem de pouquinho em pouquinho recobrando confiança e o 2º lugar, mesmo que considerado fortuito, é prova disso.

Quando a gente fala que ninguém desaprende da noite para o dia, o pódio em Baku, seguido de um belo 5º posto em Mônaco, serve para qualquer um recuperar a confiança. E pontos para Lawrence Stroll, por poder acreditar que o alemão pode ter ‘entrega’ a bordo do carro da Aston Martin quando solicitado.

Pierre Gasly também recompensou seus esforços com uma boa atuação e um ótimo 3º lugar – terceiro pódio do francês em três temporadas, conquistado após uma dura batalha com Charles Leclerc, o pole position. Lando Norris também salvou pontos importantes no campeonato e Fernando Alonso obteve um encorajador sexto lugar com um carro que ainda deve em performance no meio do pelotão.

Com mais juízo que sorte, Tsunoda foi sétimo seguido por Carlos Sainz, que cometeu um erro durante a disputa, perdendo tempo, um discreto Daniel Ricciardo em nono e Kimi Räikkönen, o decano do circo, somando o pontinho do décimo lugar.

Agora, se Max Verstappen saiu ‘full pistola’ de seu carro pelo furo de pneu, o acidente e a perda de uma corrida ganha, a Mercedes nada tem a comemorar, pois além de Hamilton chegar em último entre os 16 que receberam a quadriculada por conta de seu erro na relargada, Valtteri Bottas fez uma corrida simplesmente medíocre e chegou em 12º apenas.

Sem somar pontos pela segunda corrida consecutiva e terceira em 2021, o nórdico desaba para 6º no Mundial de Pilotos com 47 pontos. Além de tudo, a escuderia alemã viu a Red Bull abrir para 26 uma vantagem com a qual os rubrotaurinos sequer cogitavam conquistar quando a corrida começou.

Pena que a próxima corrida – o GP da França – tende a ser sonífero, uma chatice daquelas. Mas que o campeonato está bom, ah!, isso está!

Comentários

  • Não sei qual o medo da F1 liberar a mistral em Paul Ricard. Duvido que seja mais perigosa do que essa reta gigante do Azerbaijão.

    • Não seria a reta em si, mas a curva Signes que a procede… Muito veloz, um erro ou falha ali, a 340, e… Mas uma chicane antes da curva, ao invés de no meio da reta, seria melhor.

  • Muito boa as considerações sobre o Grande Prêmio do Azerbaijão, pilotos inesperados com grandes resultados nesta, que até agora, foi a melhor corrida de 2021. Achei justíssimo o Hamilton não pontuar, seria uma crueldade com o belíssimo trabalho de Verstappen e Red Bull, que superaram as Mercedes nas duas últimas provas, não é para qualquer um.

  • Infelizmente o GP da França não é dos mais emocionantes e de quebra, favorável aos potentes motores Mercedes. Em 2019 foi um ” passeio no parque”, como disse Mariana Becker ao Hamilton, vencedor daquela corrida. Muita área de escape e isso perdoa os erros daqueles que se arriscam um pouco mais.