A volta da Nascar às 24h de Le Mans

RIO DE JANEIRO – Surpresa das surpresas: num dos intervalos das atividades de pista desta quinta-feira em Sebring, IMSA e Nascar se reuniram para uma coletiva de imprensa onde foi anunciado o espanto do automobilismo mundial em 2022 – um Stock Car da categoria estadunidense vai disputar as 24h de Le Mans do centenário desse clássico do Endurance em toda a galáxia.

É um outro cenário em relação àquele de 1976, onde Bill France Sr., o fundador desse negócio colossal que é a National Association for Stock Car Auto Racing, levou dois carros – um Ford Torino 7 litros para o francês Marcel Mignot dividir com dois ianques – Dick Brooks e Dick Hutcherson e um Dodge Charger HEMI para Hershel e Doug McGriff. Se este carro quebrou com apenas duas voltas completadas, o outro parou com 104 giros percorridos.

Desta vez a história será diferente em muitos sentidos: a Nascar busca uma identidade ‘moderna’ com a adoção do carro NextGen e nada melhor do que escolher a equipe do momento, uma das mais vitoriosas de sempre, a Hendrick Motorsports, e dar a ela a chance de representar a Nascar em Sarthe com um Chevrolet Camaro ZL1. A montadora da gravatinha, a IMSA, a Nascar e a Goodyear estão por trás desta iniciativa que, convenhamos, ninguém imaginava que pudesse acontecer novamente.

Para já, portanto, uma vaga dentre as 62 disponíveis é da equipe dos EUA e reservada como Garage 56, a inscrição que o ACO convida e coloca o competidor como inelegível a pontos do WEC, para os quais as 24h de Le Mans valem – e muito. Mas a prova caminharia sozinha sem o Mundial de Endurance, de qualquer jeito, como mostrou entre 1923 e 1952 e depois entre 1993 e 2009 – de 2010 a 2011 ela valeu por um embrião do WEC, a Intercontinental Le Mans Cup.

Chad Knaus, o artífice de todos os sete títulos de Jimmie Johnson na Cup Series e hoje uma figura importante no organograma da Hendrick é quem chefiará a operação de pista. Os pilotos serão oportunamente divulgados, bem como as características desse ZL1 que, segundo fontes, terá um sistema híbrido experimental – que a própria Nascar pretende adotar em médio-curto prazo, no máximo em dois anos.

Na última edição das 24h de Le Mans, a Association SRT41 de Fréderic Sausset, ele mesmo um participante como Garage 56 tornando-se o primeiro quadriamputado a participar da prova, alinhou um protótipo Oreca 07 LMP2 conduzido por dois pilotos de mobilidade reduzida – o belga Nigel Bailly e o antigo motociclista Takuma Aoki, do Japão.

Alguns dos projetos mais interessantes a figurar como Garage 56 foram o DeltaWing, cacifado pela Nissan – com participação na engenharia do saudoso Ricardo Divila e o projeto 100% elétrico ZEOD RC (ZEOD RC, sigla para Zero Emission On Demand Racing Car), também do construtor oriental, que esteve presente na prova de 2014 e debitava, apesar de um motor 3 cilindros 1,5 litro turbo de somente 40 kg de peso, incríveis 400 HP de potência. Contudo, o câmbio quebrou com apenas seis voltas na disputa.

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