WEC, 6h de Spa-Francorchamps: Toyota se reabilita em corrida caótica

RIO DE JANEIRO – Quem pensava ter visto tudo no Mundial de Endurance (FIA WEC) desde o retorno da competição em 2012 se enganou redondamente: as 6h de Spa-Francorchamps foram a celebração do caos numa das provas mais imprevisíveis e cheias de acontecimentos bizarros da história de 72 eventos da modalidade em uma década.

Principalmente por igualar as 1000 Milhas de Sebring no recorde de bandeiras vermelhas: três. Porém, ao contrário do evento da Flórida, as 6h de Spa-Francorchamps foram concluídas – se bem que com o menor número de voltas percorridas de sempre. Por conta das interrupções, fora períodos de FCY e Safety Car, foram 721,412 km e apenas 103 voltas.

E Spa-Francorchamps não é Spa-Francorchamps se não tiver chuva. Era uma tarde bonita, que se transmutou em temporal, provocando riachos e revelando as eternas deficiências de um traçado maravilhoso e remodelado na segurança passiva, porém ainda perigoso e com riscos de aquaplaning. O mau tempo e os incidentes que ocorreram no transcurso da disputa deram razão ao diretor de prova do WEC, Eduardo Freitas, recém-recuperado de Covid e que trabalhou na Bélgica enquanto Niels Wittich ficará a cargo do GP de Miami de Fórmula 1.

Escaldada por não querer ver repetir o incidente com Jules Bianchi que custou a vida do piloto francês há alguns anos, a FIA manteve um rígido protocolo de segurança e Freitas o seguiu regiamente com a deflagração de três bandeiras vermelhas – com o cronômetro correndo, daí o número baixo de voltas – as entradas de Safety Car e alguns FCY que amarraram a corrida nas 2h finais.

No fim, entre alguns percalços e cinco dos 37 carros sem ver a quadriculada, a Toyota reabilitou-se após a surra sofrida em Sebring. De chassi novo, Mike Conway/Pechito López/Kamui Kobayashi saíram do zero para somar os primeiros 25 pontos no campeonato – e poderia ter sido até diferente, se de súbito na altura da 30ª volta, quando recomeçava a disputa no procedimento de Safety Car na primeira bandeira vermelha, mostrada após uma porrada monumental do LMP2 da ARC Bratislava guiado por Miro Konôpka, o carro #8 do trio Sébastien Buemi/Brendon Hartley/Ryo Hirakawa não tivesse sofrido uma falha terminal no sistema híbrido do GR010, levando o trio à nocaute.

E tem mais: na chuva, ninguém guiou tanto e tão bem quanto… Robin Frijns – o holandês deu show com um LMP2 do Team WRT após assumir no lugar de Sean Gelael e guiou feliz feito pato na lagoa, no molhado. Só que seu protótipo perdeu rendimento ao longo da disputa e, mesmo assim, o 3º lugar absoluto e a vitória na LMP2 merece registro e muita comemoração na sede do time, que fica na Bélgica mesmo, em Baudour.

Outro motivo de comemoração foi o 2º lugar do bom e velho Alpine A480, que mantém André Negrão/Nico Lapierre/Mathieu Vaxivière – pasmem, senhoras e senhores! – na liderança do campeonato. Detalhe: com Olivier Pla e Romain Dumas em segundo, somando 39 pontos contra 57 dos líderes. A falha dos Toyota já começa a animar uma possibilidade de zebra: será que desta vez, vai?

A WRT teve desempenho digno de registro nas 6h de Spa-Francorchamps, pois o #41 alinhado em parceria com o RealTeam de Esteban Garcia, chegou em segundo após um início tímido do angolano Rui Andrade. Ótima atuação de Norman Nato e também do austríaco Ferdinand Von Habsburg-Löthringen.

No último degrau do pódio da LMP2, ficou a Jota, em boa prova de Antonio Felix da Costa/Roberto González/Will Stevens, antecedendo o Team Penske no melhor resultado do time do Capitão Roger – presente pessoalmente em Spa, inclusive – 6º na geral e quarto na categoria, na frente dos dois carros da United Autosports USA.

A decepção final foi a queda de rendimento do pole absoluto no correr da disputa, além de um erro de comunicação da equipe que custou um possível pódio: a Glickenhaus acabou somente em 9º na geral, com a Prema Orlen Team salvando o décimo posto e sétimo na LMP2 após uma batida de Louis Déletraz após pegar uma área encharcada na zona de descida do traçado belga.

Aliás, quase que o top 10 final contou com um carro LMGTE-PRO e foi por muito pouco: a Ferrari de Alessandro Pier Guidi e James Calado, atuais campeões mundiais, suportou nas últimas voltas uma enorme pressão do Porsche de Kévin Estre e Michael Christensen, vencendo por apenas meio segundo. Antonio Fuoco e Miguel Molina completaram o pódio em performance sólida, com direito à liderança. Mas um erro do #52 na briga campal com o Porsche #92 custou a dobradinha dos cavalinhos de Maranello.

Na LMGTE-AM, em meio a um sem-fim de erros, venceu o trio que menos errou: Christian Ried/Seb Priaulx/Harry Tincknell ganharam com o Porsche #77 da Dempsey-Proton Racing, superando respectivamente os Aston Martin das equipes TF Sport e NorthWest AMR. Curioso: ao final, os três que guiavam os carros das equipe que foram ao pódio eram três antigos colegas de esquadra oficial da Aston Martin no WEC: Tincknell, Marco Sorensen e Nicki Thiim.

A melhor Ferrari desta vez foi a da AF Corse, 4ª colocada com Thomas Flöhr/Francesco Castellacci/Giancarlo Fisichella. Já as Iron Dames se envolveram em dois entreveros, acabaram atrasadas e salvaram o décimo posto porque o Porsche de Brendan Iribe/Ollie Millroy/Ben Barnicoat teve uma falha mecânica e abandonou a apenas cinco minutos e cinco segundos do final.

Agora, é juntar os ‘cacos’ e preparar para a maior prova de longa duração da galáxia: vem aí a 90ª edição das 24h de Le Mans, dias 11 e 12 de junho.

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