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Cinema

O que vi de “Rush”

RIO DE JANEIRO – Assisti no último sábado ao filme mais esperado do ano. “Rush”, que ganhou o subtítulo ‘No limite da emoção’ aqui no Brasil, tem como pano de fundo a rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda no Mundial de Fórmula 1 de 1976, onde o britânico sagrou-se campeão. Ron Howard, o diretor, redimiu […]

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RIO DE JANEIRO – Assisti no último sábado ao filme mais esperado do ano. “Rush”, que ganhou o subtítulo ‘No limite da emoção’ aqui no Brasil, tem como pano de fundo a rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda no Mundial de Fórmula 1 de 1976, onde o britânico sagrou-se campeão.

Ron Howard, o diretor, redimiu completamente o esporte a motor enquanto enredo de filme de Hollywood. Uma das últimas tentativas ‘sérias’ foi o infame “Driven”, de Renny Harlin – uma coisa horrorosa produzida e estrelada por Sylvester Stallone, com a Fórmula Indy como tema. Situações e cenas toscas como o “pega” entre dois monopostos guiados por pilotos sem capacete e em plena rua fazem o espectador corar de vergonha e esquecer tamanho absurdo visto na telona.

Sim, eu assisti a “Driven” no cinema. Sim, me arrependo profundamente, hoje, de tê-lo feito.

Os mais atentos vão me lembrar de “Ricky Bobby”, com Will Ferrell como piloto de Nascar. Mas é um filme que não deve ser levado muito à sério, por conta dos histrionismos da personagem Jean Girard, interpretada por Sacha Baron Cohen, estereotipando os pilotos de Fórmula 1 como se fossem homossexuais. Nada menos exato.

Então, descontado o fato de que “Ricky Bobby” era uma comédia e “Driven”, uma porcaria, “Rush” é um dos melhores filmes de automobilismo de todos os tempos. Comparável a “Grand Prix”, a “Le Mans” e a “Winning”, que para mim formavam a tríade do gênero, com “Days of Thunder” logo depois.

É fato que algumas situações no filme não remetem totalmente à realidade, como por exemplo a disputa entre Hunt e Lauda no Crystal Palace numa prova de Fórmula 3. Omitiu-se também o fato de que o austríaco recorreu ao Raiffeisen, o banco de seu país que lhe deu um empréstimo, para pagar uma vaga não na BRM – como diz o filme – mas sim na March, em 1971. E também não foi citado o nome de François Cévert, como o piloto acidentado em Watkins Glen, no ano de 1973.

O que muita gente não entende é que “Rush” é um filme ‘romanceado’, misturando realidade e ficção em doses, no meu entender, palatáveis. Qual o problema de um filme como este ter algumas situações que não remetem à realidade? Acho lamentável que poucos tenham dado crédito ao diretor e à sua equipe de produção em buscar o máximo de realismo para fazer a história ter sentido.

E querem coisa mais real do que o ator Daniel Brühl incorporando o sotaque e os maneirismos de Niki Lauda? Claro… ficou fácil porque ele teve o próprio piloto como uma espécie de consultor. Eu, que já tinha ficado assustado com a verossimilhança que Chris Hemsworth já dera a James Hunt nos trailers que vi antes do filme ser exibido, fiquei pasmo com o trabalho de Brühl na pele de Lauda.

Li também por aí que a Hesketh não teria encerrado suas atividades como equipe de Fórmula 1 da forma como mostra o filme. Sim, de fato o Lorde Alexander Hesketh não pôde mais dar continuidade ao seu ambicioso projeto, sem patrocinadores, da forma como a equipe foi conduzida, entre 1973 e 1975. Não, a equipe não deixou de existir – verdade – mas seus carros foram para um outro esquema, chefiado por Bubbles Horsley e alguns dos Hesketh viraram primeiro os Wolf-Williams e depois os Kojima. A Hesketh, enquanto escuderia, existiu até meados de 1978.

Digo de novo: há falhas que precisam e merecem ser perdoadas. “Rush” humaniza as relações dos pilotos com o automobilismo. Mostra a dicotomia entre James Hunt, playboy alcóolatra e por vezes irresponsável, talentoso ao volante e que – de fato – vomitava antes das corridas, o que diziam ser um sinal de expulsão de toda a ansiedade que tomava conta de seu corpo – e o mocinho Niki Lauda, tido como frio, arrogante, calculista e que, ao ver a morte de perto e passar pelo drama que o manteve fora das pistas por 40 dias, provavelmente mudou sua visão de vida e do mundo ao seu redor.

Os pilotos sempre conviveram com o medo. Mas naqueles tempos era muito pior. Afinal de contas, de 25 nomes que iniciavam cada temporada, um ou dois corriam o risco de não voltar. Foram tempos de heroísmo e que muito me orgulham por terem me feito gostar tanto desse esporte que hoje sustenta a mim e minha família, ainda que indiretamente.

Adendo: estou excluindo os últimos parágrafos, onde constava uma reclamação minha em relação à Califórnia Filmes. Isso não diz respeito a nenhum dos leitores, apenas a mim. E por não querer mais me envolver em polêmicas desnecessárias, estou encerrando o assunto aqui e agora.

Fui claro?