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Tempos de autocensura?

RIO DE JANEIRO – Não está fácil para ninguém. O assunto dominante da segunda-feira, pelo menos nas redes sociais (Twitter e Facebook, claro), foi a demissão do Flavio Gomes no canal de televisão onde ele trabalhava. Onde eu soube, até porque depois do treino classificatório da Fórmula 1 eu deixei para lá o Twitter, uma […]

RIO DE JANEIRO – Não está fácil para ninguém. O assunto dominante da segunda-feira, pelo menos nas redes sociais (Twitter e Facebook, claro), foi a demissão do Flavio Gomes no canal de televisão onde ele trabalhava.

Onde eu soube, até porque depois do treino classificatório da Fórmula 1 eu deixei para lá o Twitter, uma vez que fui para a Bienal do Livro, no Riocentro, o FG fez comentários sobre o jogo Grêmio 3 x 2 Portuguesa, que não foram bem aceitos nas hostes sulistas.

Ora… se fosse assim, todos os clubes de futebol teriam que demitir jornalistas todos os dias. Já houve brincadeiras um tanto quanto ofensivas a diversas agremiações, proferidas por gente de renome, que bota a cara no vídeo há anos e diz que tem credibilidade. E essas pessoas continuam aí, intocáveis.

Não vou fazer nenhum julgamento acerca das palavras do Flavio nas redes sociais. O que ele falou é problema dele, não meu. Assim como também foi problema meu o famoso tweet onde informei a transmissão do GP de Austin ao vivo, ano passado, por uma outra emissora de televisão – e que causou minha demissão.

Sim, arrependi-me do que fiz. Não, não quero mais falar nisso. Até porque estou muito feliz trabalhando onde estou, desde maio.

O FG também se arrepende do que falou, porque o ocorrido lhe trouxe consequências graves. Palavras do próprio. Mas essa história toda dá muito o que pensar.

Será que vai ser assim no futuro? Ninguém vai poder mais brincar sobre futebol, sob pena de retaliações? A bem da verdade, estão fazendo de tudo para o outrora violento esporte bretão tornar-se o mais “coxinha” possível. Basta ver no que se transformaram os estádios brasileiros selecionados para sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.

A bem da verdade, parece que já é proibido dar opiniões. Muitos se ofendem e o radicalismo é cada vez maior neste mundo em que vivemos. Infelizmente, acho que o que vai dar as cartas, pior do que a censura, é a autocensura. Nós mesmos seremos obrigados a deixar de ser autênticos e escrever o que os outros querem. Não o que eu ou você, leitor, que também tem conta no microblog, quer de si mesmo.

E, sim, digam o que quiserem. Mas estou hipotecando minha total solidariedade ao Flavio Gomes. Em 16 de novembro de 2012, ele foi o primeiro a me estender a mão. Muita gente que eu considerava não fez um décimo do que esse cara fez por mim. Isso que ele fez se chama esprit de corps, algo em falta no jornalismo. E isso, eu não vou esquecer.

Definitivamente, não há limites para a intolerância.