A Mil por Hora
Stock Car

Teatro do Absurdo

RIO DE JANEIRO – Cheguei ontem para trabalhar no Fox Sports na corrida da Sprint Cup da Nascar em Pocono, e logo tomei conhecimento de um dos acidentes mais impressionantes da história da Stock Car brasileira. Tão chocante quanto a capotagem de Gualter Salles em Buenos Aires, sem contar as mortes de Laércio Justino, Rafael […]

Stock Car Curitiba">Acidente entre Thiago Camilo, Rafa Matos e Felipe Fraga - Stock Car Curitiba

RIO DE JANEIRO – Cheguei ontem para trabalhar no Fox Sports na corrida da Sprint Cup da Nascar em Pocono, e logo tomei conhecimento de um dos acidentes mais impressionantes da história da Stock Car brasileira. Tão chocante quanto a capotagem de Gualter Salles em Buenos Aires, sem contar as mortes de Laércio Justino, Rafael Sperafico e Gustavo Sondermann – estas últimas nas classes Stock Light e Pick-Up Racing, já extintas.

A primeira prova da rodada de Curitiba vinha se dirigindo para a 10ª volta, quando o carro de Thiago Camilo teve um problema mecânico e perdeu velocidade. No PSDP, posto da direção de prova, foi deflagrada uma bandeira branca – que significa veículo lento na pista. Alguns pilotos que vinham descendo a reta não devem ter visto a sinalização e aí aconteceu uma “panca” inacreditável, envolvendo os carros de Raphael Matos e Felipe Fraga. O acidente foi impressionante e após a bandeira vermelha, a corrida foi interrompida.

Imediatamente, a revolta tomou conta nas redes sociais. Não sem razão, lembramos que Cacá Bueno foi punido por falar umas verdades e imagino o que o pentacampeão da Stock Car deve ter pensado após assistir tudo aquilo de casa. E não seria o único absurdo do dia, pois do nada, crianças atravessaram alegremente a pista, numa evidente falha de segurança do Autódromo Internacional de Curitiba, que recebera alguns dias antes a visita de alguns fãs da velocidade em quatro patas.

O amigo Américo Teixeira Jr., em seu Diário Motorsport, coloca que à luz da razão, a atitude de se exibir a bandeira branca foi, de fato, a opção correta. Thiago Camilo vinha muito mais lento na pista. O Código Desportivo do Automobilismo (CDA) da Confederação Brasileira de Automobilismo, em seu Capítulo XIV, Seção X, Artigo 108, inciso 2, indica o seguinte no 5º item:

V – Bandeira branca:
a) Indica a presença de um veículo lento e/ou veículo de serviço na pista;

b) Através dela, os pilotos deverão ser informados de que estão a ponto de ultrapassar um
veículo que estiver se deslocando a uma velocidade muito inferior àquela de seus
veículos de competição;

c) Deverá ser apresentada, quando um veículo de serviço entrar na pista ou quando um
veículo de competição se deslocar em velocidade reduzida;

d) Deverá ser mostrada desde o momento em que o veículo lento passar pelo posto de
sinalização, até o momento em que ele alcançar o posto seguinte;

e) Depois do procedimento acima, deverá ser apresentada imóvel durante o tempo em
que o veículo percorrer o setor do posto posterior e deverá ser retirada assim que o
veículo transpuser este último;

f) O responsável pela entrada de um veículo de serviço na pista deverá se assegurar de
que o posto anterior ao local em que ocorreu essa entrada tenha sido devidamente
avisado da situação;

g) Se um veículo parar na pista, mesmo sendo de serviço, as bandeiras brancas deverão
ser substituídas imediatamente pelas bandeiras amarelas

Talvez, se houvesse a sinalização em bandeira amarela, conjuntamente com a bandeira branca, o acidente pudesse ser evitado. A presença de Spotters (Olheiros), avisando do perigo via rádio num ponto mais alto e visível do traçado, também poderia evitar um dos acidentes mais fortes do automobilismo nos últimos anos.

Outra situação incômoda: a regra da Stock Car que um carro que não chega aos boxes por seus próprios meios não pode participar da segunda prova de cada final de semana. Essa regra precisa urgentemente ser revista. Acho que só em casos extremos como um acidente com danos irreversíveis e uma quebra irremediável é que um piloto pode ser impedido de voltar à pista na prova seguinte. Esse conceito é estapafúrdio.

Honestamente, foi até positivo que, dada a situação do acidente, ninguém tenha saído ferido com mais gravidade. Thiago Camilo sofreu um corte num dos pés e precisou receber alguns pontos. Felipe Fraga, por ter batido em cheio no carro já abalroado por Raphael Matos, preocupou mais a princípio, porque o piloto sentia dores no tórax e num dos joelhos. Após os exames de praxe, não foram constatadas fraturas e os pilotos passaram a noite em observação num hospital de Curitiba.

Mais uma luz de alerta foi ligada dentro do combalido automobilismo brasileiro. Quantas mazelas mais terão que acontecer para que se tomem atitudes?