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Motovelocidade

#Big6

RIO DE JANEIRO – O poeta dizia na canção que via um novo começo de era. E nós que acompanhamos toda a temporada da MotoGP, também assistimos ao surgimento de uma nova era. Tempos de dominação de Marc Márquez, o mais jovem piloto a alcançar quatro títulos na categoria principal, em quase sete décadas de […]

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RIO DE JANEIRO – O poeta dizia na canção que via um novo começo de era. E nós que acompanhamos toda a temporada da MotoGP, também assistimos ao surgimento de uma nova era. Tempos de dominação de Marc Márquez, o mais jovem piloto a alcançar quatro títulos na categoria principal, em quase sete décadas de história. E que entra para um seleto clube ao qual pertenciam, antes dele, as lendas britânicas Geoff Duke, John Surtees e Mike “The Bike” Hailwood, além de Eddie Lawson.

Aos 24 anos, o “Formiga Atômica” já está no panteão dos grandes da história da modalidade e – a julgar pela pouca idade, vem muito mais. Poderá ser algo parecido com o que vimos graças a Valentino Rossi. Ou até maior, pelo menos em número de campeonatos na categoria rainha, até que Giacomo Agostini. Nunca se sabe…

O GP da Comunidade Valenciana neste domingo foi o retrato de um ano excepcional para a MotoGP. Público fabuloso no Circuito Ricardo Tormo, atmosfera de grande excitação para um campeonato decidido entre o piloto da Honda e seu antagonista, o italiano Andrea Dovizioso.

Pois é… Dovizioso fez a temporada da vida. Seis vitórias – nunca o piloto da Ducati tinha sido tão positivo em termos de resultados pela marca de Borgo Panigale. Chegou à final com a torcida de muita gente. Mas a matemática não lhe era favorável. Tinha que descontar 21 pontos que o separavam do adversário, que largou na decisão com as mesmas seis vitórias que Dovi, mas com resultados mais consistentes – em que pesem três desistências contra uma de Andrea.

Mas a corrida teve um anticlímax com nome e sobrenome. Jorge Lorenzo.

Companheiro de equipe (imaginem se não fosse…) do italiano, o “Espartano” tudo – ou nada, dependendo do ponto de vista – fez para atrapalhar Dovizioso, que tinha de avançar e pôr pressão em Márquez. A Ducati percebeu que JL99 não faria por bem e então começou a sinalizar com placas e também pela comunicação de rádio – usando como código um ‘Mapping 8’ – para que Lorenzo permitisse a troca de posição. Jorge fingiu que não viu ou não escutou nada. Seguiu fingindo até que caiu. O problema é que Dovizioso caiu metros depois. E desistiu.

Mas quase que Márquez também pôs tudo a perder. Ultrapassou o líder Johann Zarco e ao errar a tomada da curva 1, proporcionou um momento espetacular da corrida e de toda a temporada: a mais ou menos 160/170 km/h, o piloto perdeu o controle da moto e aparou a queda com o cotovelo e o ombro esquerdos. Uma visão inacreditável. Só com muito sangue frio para evitar um desastre iminente. E Márquez conseguiu.

Com o abandono da dupla da Ducati, MM93 rumou célere e feliz para a conquista do título, que já havia sacramentado no abandono de um Dovizioso que, ao chegar nas garagens tricolores, foi aplaudido merecidamente. Para a turma que vestia vermelho e branco, uma espécie de ‘campeão moral’. Embora eu ache que essa expressão é meio over, acho que aqui cabe cem por cento.

Depois foi só comemoração para a torcida que encheu as arquibancadas e saiu de Valência feliz. O fã clube de Márquez preparou camisetas com a inscrição #Big6, em alusão aos seis títulos já conquistados pelo garoto, além de levar um dado que, rolado pelo campeão, caiu exatamente no número seis.

Em resumo: Márquez foi um grande campeão, Dovizioso um imenso rival e Jorge Lorenzo, um grande canalha. Se eu tivesse poder na equipe Ducati, chamaria o espanhol às falas e reclamaria de sua atitude. Não foi legal ignorar ordens de equipe e prejudicar seu próprio colega de box, apesar de Dovi ter sido um gentleman e afirmado que “nada mudaria” se Lorenzo o tivesse deixado passar.

Pelo menos Lorenzo admite que foi canalha e que não obedeceu mesmo. Pior seria se tivesse passado batido desse importante detalhe, que pode inclusive mudar a relação entre os dois dentro da equipe para 2018.