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Imprensa

Ricardo Eugenio Boechat

RIO DE JANEIRO – Peço licença a vocês, leitores e leitoras do blog, para fazer um desabafo. Mais que um desabafo, uma homenagem a alguém que não conheci pessoalmente – ao contrário de muitos, mas que era íntimo do meu dia-a-dia. Sim, como ouvinte quase que diário de suas ancoragens na BandNews FM, que aqui ocupou o […]

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RIO DE JANEIRO – Peço licença a vocês, leitores e leitoras do blog, para fazer um desabafo.

Mais que um desabafo, uma homenagem a alguém que não conheci pessoalmente – ao contrário de muitos, mas que era íntimo do meu dia-a-dia.

Sim, como ouvinte quase que diário de suas ancoragens na BandNews FM, que aqui ocupou o lugar da “Maldita” Fluminense FM, tornei-me íntimo de Ricardo Eugenio Boechat. Uma intimidade que só o rádio nos permite enquanto veículo de comunicação.

O Boechat era argentino na certidão. Mas brasileiríssimo e carioquíssimo de coração.

Honrou a tão combalida profissão de jornalista de seu primeiro ao último momento.

Se me recordo bem, fez a chamada “Escola Turco de Jornalismo”. Escrevo isso entre aspas porque foi através de Ibrahim Sued, sucedendo ninguém menos que Elio Gaspari, que Boechat começou no métier.

E daí para a frente, tocando primeiro a coluna do Swann em “O Globo” e trabalhando em diversos outros veículos de comunicação, construiu uma carreira simplesmente brilhante.

Acho que por conseguir transitar de forma a provocar a ira e também as mais candentes relações entre pólos tão díspares quanto a esquerda e a direita, no campo político, conseguia ser respeitado por todo mundo.

Exceto quando lhe tiravam do sério. Aliás, não era bom tirar o Boechat do sério, porque ele respondia sem papas na língua. O farsante Silas Malafaia que o diga, quando recebeu do jornalista uma resposta tão iracunda e malcriada quanto digna de aplausos.

“Não dou palanque pra otário”. Frase imortal da qual nunca mais nos esqueceremos.

Esse dia 11 de fevereiro também não será esquecido.

Por seus colegas de profissão – especialmente os do Grupo Bandeirantes de Comunicação, no qual militou nos últimos 15 anos. E também de outros veículos. Por aqueles que te conheciam, respeitavam, gostavam e admiravam.

E principalmente por sua família, que chora a perda trágica. Um acidente de helicóptero, numa tentativa de pouso forçado no Rodoanel, uma das diversas estradas de São Paulo, ceifou a vida de Ricardo Eugenio Boechat.

Parentes e amigos perdem o ser humano. Colegas de profissão, feito eu, perdem um exemplo, uma referência. Perdemos todos.

O país perde. O jornalismo está muito, mas muito mais pobre. E como serão as nossas manhãs ao sintonizar na BandNews e perceber que Boechat não estará mais lá com sua crítica ácida, seu entusiasmo pela notícia, seu tesão pelo trabalho, sem as sacanagens com o Zé “Macaco” Simão, sem a irreverência, o deboche, o compromisso com a verdade, o humor, a síntese, a pauta, a opinião, a palavra que tinha peso?

Vivemos tempos difíceis. As energias andam muito pesadas. Em 42 dias de um único ano, ao qual faltam 323, tivemos tragédias, perdas imensuráveis, tristeza e dor.

Pra morrer, basta estar vivo. Mas pra que e por que sofremos? Por que choramos tanto? Por que lamentamos a partida de pessoas que tanto estimamos?

Estamos perdendo referências e a vida, meus amigos, está passando rápido. Demais.

E isso, creiam, não é nada bom.

Mas precisamos fazer o nosso melhor. E fazendo o nosso melhor, honraremos o que o Boechat construiu dentro da profissão que abracei e muitos outros companheiros também seguiram.

Sentimentos sinceros a todos os colegas jornalistas da rádio BandNews e também aos integrantes do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

Eu e outros companheiros dos canais Fox Sports passamos por uma perda de magnitude tão grande quanto esta que vocês têm vivido. É uma dor incomensurável no começo. Tão grande quanto o tamanho da saudade que vocês já sentem e sentirão com a partida do Ricardo Boechat.