A Mil por Hora
Stock Car

Stock, 40

RIO DE JANEIRO (Parabéns!) – A Stock Car faz parte da minha história de jornalista esportivo e comentarista de automobilismo. Muito antes de eu sequer pensar em seguir carreira no mètier. Eu era apenas fã, como muitos de vocês que estão lendo essa postagem agora. Em 1982, tinha 10/11 anos e acompanhei uma temporada completa […]

boettger-competic-es-chevrolet-vectra-v8-b--muffato-34352
David Muffato, com o Vectra da Boettger, foi o vencedor da primeira corrida que comentei na televisão, em 2003, no Rio de Janeiro (Saudades, Jacarepaguá…): a Stock, que hoje completa 40 anos de vida, faz parte de minha trajetória e nunca vou negar sua importância no esporte a motor do país

RIO DE JANEIRO (Parabéns!) – A Stock Car faz parte da minha história de jornalista esportivo e comentarista de automobilismo. Muito antes de eu sequer pensar em seguir carreira no mètier.

Eu era apenas fã, como muitos de vocês que estão lendo essa postagem agora. Em 1982, tinha 10/11 anos e acompanhei uma temporada completa da categoria pela primeira vez. Dei a sorte de que naquela temporada a Stock mudava seu regulamento, permitindo o uso de pneus slicks e paralamas alargados nos velhos Opalões com seus motores ‘seis canecos’. Até para Portugal os carros foram, viajando de navio para o Torneio Grão-Pará, que Paulo Gomes conquistaria.

Daquele campeonato, recordo da arrancada monstruosa que Alencar Júnior protagonizou. Além de tudo, o goiano corria com o número #19 e eu nasci no dia 19 de maio. Torcia para ele. Com todo respeito que monstros sagrados como Paulão Gomes, Ingo Hoffmann, Reinaldo Campello, os irmãos Zeca e Affonso Giaffone mereciam e merecem, desde sempre, o Alencar correu demais naquele fim de campeonato e levou o título.

O tempo passou, a categoria cresceu de forma bárbara e viveu altos e baixos durante alguns períodos. O Opala saiu de cena em 1986 e entraram em cena primeiro os carros com a esquisita carroceria Caio/Hidroplás e depois um Protótipo que usava como estrutura o monobloco do Opalão, até que a Stock se modernizou e veio o Omega – ainda com a boa e velha mecânica 250-S seis cilindros.

Sobrevivendo ao tempo, a Stock rompeu com seu passado, trouxe motores importados dos EUA, chassis com estrutura tubular, engenharia de ponta, grandes equipes e excepcionais pilotos. Destacaria vários aqui, mas o Alemão (Ingo Hoffmann) foi o maior de todos eles. Ninguém conquista 12 campeonatos e ganha 77 corridas de um total de 500 disputadas em quatro décadas por acaso ou pela cor dos olhos.

E quando digo que a Stock fez parte de minha história, é porque é verdade verdadeira.

E não me canso de lembrar, seja nas redes sociais ou aqui mesmo.

Maio de 2003. Tinha acabado de completar 32 anos e estava no SporTV havia poucos meses. Começava a absorção da emissora de TV fechada pelo Grupo Globo, cuja sinergia (jargão atual) se concretizou por agora. Mas naquela época, levado pelas mãos do Emanuel Castro, com quem felizmente voltei a travar contato após oito longos anos sem falar com ele – nem que fosse por mensagem, por absoluta falta de coragem de minha parte – aconteceu um negócio muito louco.

Não tinha ninguém pra fazer a corrida marcada para Jacarepaguá no dia 25 de maio. Era a quarta etapa do calendário. Ingo, que já citei linhas acima, ganhou na abertura em Curitiba e David Muffato, então defendendo a equipe de Ereneu Boettger, com patrocínio Repsol, ganhou as duas seguintes e despontou como candidato ao título.

E por que não tinha? No mesmo dia, haveria as 500 Milhas de Indianápolis e a IRL (hoje IndyCar) era do SporTV no cabo. Lito Cavalcanti, o comentarista número #1, ia fazer a Indy. O horário batia e o Gualter Salles, que fazia eventualmente outras categorias, era piloto da Stock – se não me engano, no time do mago Mauro Vogel, de quem inclusive o Gualtinho era ou ainda é sócio.

Aí veio a loucura do Emanuel.

“Maluco, vamos fazer um teste de vídeo pra transmissão da Stock. Se eu aprovar, você estreia no domingo.”

Foi assim. Não sei como, ele aprovou. E lá fui eu pra transmissão. A prova foi ao vivo, mas a narração foi em offtube, o chamado “geladão”, na antiga sede da Globosat, na rua Itapiru, número 1209, no bairro do Rio Comprido. Meu parceiro de transmissão? João Guilherme, hoje meu querido colega de Fox Sports.

Pois o novato aqui em questão tremia. Eu tinha o grid de 27 carros na mão, sabia quem eram os pilotos, conhecia Jacarepaguá de cor e salteado e o Lito me deu alguns toques na época, passando infos colhidas no autódromo – e inclusive eu deveria ter ido lá para pelo menos ver os treinos e não fui.

Sentado na cabine, já com os fones de ouvido, eu tremia. Era um nervosismo que me dominava e que eu nunca tinha sentido na minha vida inteira.

“O conhecimento você tem. O microfone é seu amigo, tenha calma”, aconselhou o João, que regula em idade comigo, mas tinha considerável experiência em rádio e no próprio SporTV.

Deu no que deu. Olhando o resultado, dois cariocas no pódio: Sandro Tannuri como 2º colocado e Duda Pamplona, terceiro. David Muffato venceu – foi a terceira corrida seguida do cascavelense no topo do pódio e ele, após algumas escaramuças e polêmicas, seria um justo e merecido campeão.

Mas eu fiquei com a impressão de que foi uma merda. Foi até bom ter pensado desse jeito, porque se eu saio dali achando que era o fodão do Bairro Peixoto, duvido que me escalassem novamente.

Mandei um e-mail para o Emanuel. A resposta foi direta. “Na próxima, faz a barba direito.” Ele não disse se foi uma merda ou se foi bom. Apenas um sinal de que uma outra chance surgiria.

E surgiu. Tanto que, 15 anos depois, estou aqui pra dizer muito obrigado.

Muito obrigado a todos os pilotos que, em 22 de abril de 1979, colocaram seus nomes na história na primeira etapa disputada em Tarumã, no Rio Grande do Sul e os cito aqui, nominalmente: João Carlos Palhares, o “Capeta” – primeiro pole; Affonso Giaffone Júnior, o primeiro vencedor; o irmão deste, Zeca Giaffone; o também carioca Mauro Sá Motta; o grande Paulo Gomes; o aguerrido Alencar Júnior; o monstro Raul Boesel, querido amigo; Júlio Tedesco, dono de um dos Opalas mais lindos que já vi na minha vida (nos tempos da Divisão 3); o visionário Reinaldo Campello e também o Dado Andrade, que se estranhou comigo por um bom tempo em redes sociais e deixei pra lá – são dois sujeitos de sangue quente, língua afiada e que não levam desaforo pra casa.

Afinal, de amarga já basta a vida que a gente vive neste país.

E também deixo o meu muito obrigado às centenas de nomes que surgiram depois, desaguando no plantel atual que faz da Stock Car uma das categorias de turismo mais competitivas do mundo.

Se muitos torcem o nariz para ela, o que dizer? Eu tenho algumas reservas e senões, mas nunca vou menosprezar, no esporte que me deu tudo o que tenho, a competição que me ajudou a abrir portas e ser o Rodrigo Mattar que muitos de vocês – graças ao meu trabalho desses anos todos, que espero não ter sido em vão – respeitam e admiram.

Gratidão define.

Obrigado, Stock! Parabéns, quarentona!